Bônus é empurrão para bom aluno
USP beneficia estudantes de escola pública; Unicamp ajuda também negros e indígenas Marta Amado de Moura, 31, passou em letras na USP. Fez 45 pontos na primeira fase, o suficiente para passar para a segunda fase, já que a nota de corte era 37. Como fez todo o ensino médio em escola pública, a estudante também foi beneficiada por 3% de bônus nas notas de cada uma das duas etapas do vestibular. "Acho que o programa ajuda quem se esforça. Ir para a segunda fase só com a nota de corte não adianta muito", afirma a estudante, que trabalha como vendedora. Para ela, os programas de ação afirmativa das universidades são necessários porque antes a entrada em instituições públicas era restrita a quem tinha melhor nível de educação, o que deixava de fora os estudantes de escolas públicas. "O correto seria acertar a educação de base, para não fazer assistencialismo, só que, enquanto isso não ocorrer, precisamos de cotas e ações afirmativas." Segundo Marta, o motivo de seu sucesso no vestibular foi o ano e meio de cursinho popular que freqüentou. "Antes eu achava que jamais conseguiria. Lá, voltei a acreditar em mim porque os professores nos incentivavam muito." A estudante, que no meio de 2006 conseguiu bolsa do Prouni (Programa Universidade para Todos) para estudar na Universidade Presbiteriana Mackenzie, fez um semestre na instituição, mas continuou estudando em casa para tentar o vestibular da USP no final do ano. "Era meu sonho", diz. O vestibular 2007 foi o primeiro em que a Fuvest (fundação que aplica a prova) adotou o bônus para estudantes da rede pública. Com a política, a participação de alunos de escolas públicas entre os aprovados para a segunda fase do vestibular 2007 cresceu 20,1% em relação ao processo seletivo anterior. Outra universidade pública de São Paulo que opta pelo programa de bônus na nota é a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). São dados 30 pontos extras para estudantes que fizeram o ensino médio público e mais dez para aqueles que se autodeclaram pretos, pardos ou indígenas. Para o coordenador do vestibular da Unicamp, Leandro Tessler, o programa de ação afirmativa ajuda a melhorar a qualidade média dos estudantes da universidade. Isso ocorre porque estes estudantes têm um ótimo desempenho durante o curso. "Já sobre a questão étnica, o que acreditamos é que é importante incentivar a diversidade dentro da Unicamp. Não trabalhamos com a idéia de reparação histórica", diz. Rafael Tamasauskas Torres, 20, foi um dos beneficiados pelo bônus na nota para egressos da escola pública no vestibular da Unicamp. Ele está no terceiro ano de medicina. "Não sei se passaria ou não sem o acréscimo na nota, o que sei é que só isso não faz ninguém ser aprovado no vestibular. Essa ajuda só dá um empurrãozinho." O estudante fez dois anos de cursinho - um deles com o terceiro ano do ensino médio. No primeiro ano, para se manter na universidade, recebeu outros tipos de auxílio, como bolsa-moradia, alimentação e transporte. No segundo ano, ele passou a ter uma bolsa-trabalho, recebia cerca de R$ 300 para trabalhar no laboratório de dermatologia da faculdade. No final do ano, migrou para a bolsa-pesquisa, porque começou um trabalho de iniciação científica. A renda total de seus pais é de R$ 1.700 e ele tem um irmão de nove anos. "Se não recebesse ajuda da universidade, eles dariam um jeito de me manter, mas seria bem difícil." Os pais tentam ajudar Rafael com, ao menos, R$ 200 por mês.
Fonte: Folha de S. Paulo, 2/3/2007. |