Avaliação Institucional

 

Ponto para o professor

Saiba como usar a avaliação institucional a seu favor

Nove entre dez especialistas defendem que avaliar os docentes dentro de um processo institucional é fundamental para o aprimoramento da relação professor/aluno e o desenvolvimento de melhores práticas em sala de aula. Na primeira vez que a idéia é apresentada aos docentes, porém, difícil é encontrar alguém que a receba de braços abertos, e mais, sem questionar a razão pela qual a instituição decidiu "supervisionar" o seu trabalho. Os questionamentos vão desde o potencial crítico e maduro dos estudantes em fazer uma avaliação eficaz, até o destino das informações sobre a performance dos mestres em sala de aula. O temor tem razão de ser, afinal, ninguém quer ser perseguido pelos resultados de um questionário. No entanto, vale destacar que mais do que levantar desconfiança, a avaliação pode ser um instrumento muito valioso para o próprio professor.

Na prática, foi o que aprendeu a professora das disciplinas de Estatística e Análise Multivariada, ambas aplicadas nos cursos de Economia e Administração do Ibmec-São Paulo, Adriana Bruscato. O dinamismo, característica muito apreciada e valorizada no mercado de trabalho e, também, traço marcante da personalidade de Adriana, foi justamente o item apontado pelos estudantes que deveria ser melhorado pela professora. O motivo: alguns alunos da classe não conseguiam acompanhar seu raciocínio. "Foi uma surpresa para mim ter que melhorar este ponto. Numa classe de 70 alunos é difícil perceber se todos conseguem seguir. Também não dá para esperar que os estudantes que têm tal dificuldade venham questionar isso com o professor ou vice-versa. Creio que a avaliação foi muito boa nesse sentido", diz.

Tornar a aula de Estatística menos cansativa foi outra missão que a professora teve de encarar após a avaliação. Os alunos consideravam a maior parte das aulas muito teóricas e isso dificultava o aprendizado. "Foi um desafio prazeroso, afinal, a essência da disciplina é muito teórica. Tive de acrescentar cada vez mais exercícios e, com o tempo, mudar a rotina dos estudantes", explica. Em sua opinião, a avaliação dos alunos funcionou porque apontou deficiências que realmente interferiam no aprendizado, resultado possível apenas após um processo de amadurecimento dos estudantes ao longo do curso. "A gente percebe que, no primeiro ano, os estudantes avaliam o comportamento amigável do professor e até o jeito que ele se veste. Com o tempo, começam a perceber seu papel como avaliadores e mudam seus critérios", acredita.

Não há dúvida que a maturidade e o senso-crítico dos estudantes são fundamentais para que uma avaliação seja eficiente. E esta é a principal crítica que os professores avaliados fazem dos alunos. "O aluno avalia bem enquanto ele vai bem na matéria. Se ele vai mal, não é capaz de fazer uma auto-crítica ou levar em conta o aproveitamento da turma na aula de determinado professor", critica a professora de Administração da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Ana Paula Querubim. Mesmo assim, ela, que também exerce a função de chefe de departamento na universidade, acredita no potencial da avaliação dos docentes e afirma já ter recebido críticas construtivas que a ajudaram a melhorar seu desempenho em sala de aula. "Os alunos me consideravam muito enérgica em sala de aula. De fato, me percebi exigente com uma classe inteira quando na verdade devia concentrar isso em quatro ou cinco alunos. Isso foi bom para melhorar o relacionamento", diz.

O professor de Engenharia Química da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), Cláudio Luis Crescente Frankenberg defende que uma boa avaliação só acontece quando os alunos são preparados para fazê-la, ou seja, quando há uma explicação por parte da universidade do que será feito com os dados e da relevância disso para sua melhor formação. "Muitos alunos têm problemas para entender os quesitos organização e planejamento em um questionário de avaliação porque são termos novos para eles. São jovens de 17, 18 e 19 anos tendo que pensar de maneira mais ampla para ajudar na construção do seu conhecimento", explica. Mas, ainda assim, ele acredita que quando a avaliação é aplicada com eficiência, ou seja, explicando para os alunos a sua necessidade e fazendo a avaliação optativa e não obrigatória, por mais que a adesão seja baixa, os resultados tendem a ser mais interessantes. Em sua última avaliação, os alunos de Frankenberg apontaram sua falta de tempo como um problema, algo que ele próprio já esperava. "À medida que assumi mais cargos administrativos dentro da universidade fui me distanciando dos alunos e das orientações de trabalhos. Neste caso, a reclamação deles foi coerente", avalia.

Mais benefícios para você, professor

Além da insegurança quanto ao bom-senso dos jovens na hora de avaliar, também pesa para o professor o que, de fato, será feito com os dados da avaliação. Há o medo de repreensão por parte da coordenação da escola, de achar que após um resultado negativo suas aulas passarão a ser monitoradas ou, ainda pior, que o resultado de sua avaliação seja divulgado para os colegas. Os coordenadores do processo, por sua vez, garantem que a finalidade do instrumento está longe de servir como método repressor ou para fazer ranking de docentes, postura considera antiética pelos educadores. O objetivo é monitorar o aprendizado a fim de oferecer um ensino cada vez melhor para os estudantes e, também, ajudar os professores com suas deficiências.

Na Universidade Metodista, em São Paulo, por exemplo, antes da avaliação ser aplicada, muitos docentes ficaram receosos em relação ao método e seus objetivos. Depois de muita conversa e da criação de um comitê de avaliação para cada uma das áreas, cuja finalidade é ajudar professores a identificar as deficiências em sua prática pedagógica e criar estratégias para melhorá-las em sala de aula, a insegurança foi deixada de lado. "Em nenhum momento os alunos ou colegas de trabalho ficam sabendo do resultado dos docentes. Só aquele que foi avaliado e seu coordenador de curso têm acesso aos resultados para identificar as problemáticas e repassá-las ao comitê que irá ajudar esse professor em sua prática pedagógica", explica a coordenadora responsável pelo processo de avaliação institucional da Metodista, Fátima Pighnelli Azár.  

Discrição em relação aos dados obtidos na avaliação também é um dos pontos principais na PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). Somente os professores, individualmente, têm acesso ao que foi apontando na avaliação de suas disciplinas. Na opinião do coordenador da Comissão Própria de Avaliação da universidade, Maurivan Güntzel Ramos, isso diminui as inseguranças em relação à avaliação. "Os questionários dos alunos e dos professores são disponibilizados ao menos uma vez por ano na Intranet. Além de serem constituídos por itens de natureza quantitativa eles têm espaço para comentários. Os professores acessam os resultados on-line por meio de senha, podendo visualizar, inclusive, os comentários dos alunos", explica. O coordenador opina que apesar de conferir mais tranqüilidade ao professor avaliado, tal processo também aumenta a responsabilidade do professor sobre a reflexão que faz sobre os resultados, seja individualmente, seja com seus pares. Os gestores, por sua vez, têm acesso a resultados globais de suas unidades acadêmicas, departamentos ou cursos, para contribuir na reflexão com os grupos de docentes. 

Na UFPR (Universidade Federal do Paraná), ao invés de ser aplicada em todos os departamentos acadêmicos, a direção da instituição deixa a critério de cada um dos cursos entrar em contato com a pró-reitoria de graduação e optar pela avaliação institucional. Segundo a pró-reitora de graduação da UFPR, Rosana de Albuquerque Sá Britto, o índice de adesão ainda é baixo, mas os departamentos que optaram pelo sistema comemoram os resultados alcançados a partir de sua aplicação. Democrático, o sistema ainda pode ser solicitado por decisão dos alunos e dos próprios professores. "Em sua grande maioria, são os coordenadores dos departamentos que solicitam a avaliação, mas tal decisão também pode partir de professores e alunos", explica Rosana.

O objetivo da avaliação dos docentes no Ibmec São Paulo é servir de instrumento para o aprimoramento dos docentes. Para isso, a universidade conta com um departamento de apoio pedagógico que discute com os docentes os resultados alcançados e, se necessário, acompanha suas aulas para identificar as deficiências do professor. "Nossa avaliação não se limita ao que os alunos apontam, procuramos uma segunda opinião, por isso há professores que acompanham a aula a fim de prestrar uma orientação mais clara ao docente", explica o coordenador da Área de Apoio ao Professor, Tadeu da Ponte. Tal orientação pode partir por uma decisão do departamento pedagógico, como também ser solicitada pelo próprio professor. O coordenador reforça que o objetivo é ver como ele pode melhorar uma determinada prática em relação a uma turma específica. "As turmas têm perfis diferentes, por isso, não se trata de uma punição para o professor, mas uma adaptação de metodologia," reforça da Ponte.

Na Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), a avaliação dos docentes é praticada em apenas algumas unidades. Segundo o coordenador da avaliação institucional, Adriano Natale, a eficácia do modelo de avaliação dos docentes por parte dos alunos ainda é muito discutida, por isso, não há adesão em todas as unidades da instituição. Para ele, o principal motivo da polêmica é, novamente, a questão da maturidade dos jovens. "Em geral, os estudantes universitários não têm consciência do que é importante para seu aprendizado. Na hora de avaliar o professor, acabam atribuindo melhores notas ao que é mais amigável e não ao professor que, de fato, produz uma transformação no seu conhecimento. Assim, tal participação é muito criticada", explica.

Em sua opinião, existem dois modelos de avaliação de docentes aplicados no exterior, Estados Unidos e Inglaterra, respectivamente, que estão mais próximos de ajudar no processo de ensino/aprendizagem e, ainda, criar subsídios para que os professos possam aprimorar suas práticas pedagógicas. "Nos Estados Unidos, por exemplo, há universidades em que a avaliação é feita anualmente do início ao fim do curso, mas só após seu término os dados são divulgados para os professores junto a uma análise para implementar mudanças e melhorias nas disciplinas. Dessa forma, creio que seja possível fazer uma análise mais criteriosa dos dados", explica. Já, na Inglaterra, professores são convidados para assistir as aulas dos docentes universitários e tecer comentários sobre o que acreditam ser práticas eficientes e inovadoras. "Acredito que a opinião de outros docentes, especialitas em variados modelos pedagógicos tendem a ser mais eficientes do que resultados pontuais e dispersos por parte dos alunos", conclui.
 

  • Esta matéria é a primeira parte de uma trilogia que tratará do tema avaliação institucional no Ensino Superior.

Fonte: Universia Brasil, Lilian Burgardt, 10/4/2007.

 

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