[Utilidade pública]
Oito
donos do carro da Volkswagen perderam parte do dedo ao rebater o banco
traseiro.
Para a advogada Maria Inês Dolci, coordenadora da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, há dados suficientes para que a Volkswagen convoque um recall. “Pela quantidade de pessoas prejudicadas com o mesmo problema, o recall já devia ter sido feito”, diz. Em mensagem enviada por e-mail, a assessoria de imprensa da montadora diz que a empresa estudou todos os acidentes e concluiu que o sistema está de acordo com as normas de segurança. O recall foi descartado. “Os procedimentos do manuseio do sistema de rebatimento encontram-se descritos no Manual do Proprietário”, diz. A pedido de ÉPOCA, o engenheiro Márcio Montesani, diretor do Núcleo de Perícias Técnicas de São Paulo, analisou o rebatimento do Fox. Especialista em perícias automotivas, ele critica o sistema e o manual: “Há erro de projeto. O dispositivo induz o usuário a colocar o dedo instintivamente na argola, o que pode resultar em mutilação. E o manual deveria prevenir sobre falhas na operação. Dizer como proceder na ausência da alça”. De acordo com Montesani, o Fox exportado para a Europa tem um sistema mais seguro. No lugar da alça e da argola, há uma alavanca de metal paralela à base. “Não é possível sofrer esse tipo de ferimento no Fox europeu”, diz. A Volks afirma que as diferenças são decorrentes dos aspectos técnicos e legais de cada mercado: “Na Europa, o veículo é concebido para quatro lugares, enquanto nos demais países é para cinco. Nesse sentido, pode haver diferentes conceitos de produtos”. Desde 2004, Funada passou por quatro cirurgias para recuperar a sensibilidade e até hoje relata dores. Ele diz que demorou cinco meses para chegar perto do porta-malas novamente, mas não se desfez do carro: “Não o vendi por medo de mais alguém se machucar”. Dos nove feridos entrevistados por ÉPOCA, só dois ainda não entraram na Justiça contra a montadora: o servidor Marcos Aurélio Dias, de Suzano, São Paulo, acidentado no dia 19 de janeiro, e o técnico de som Pedro Saldanha, do Rio de Janeiro. “Pior que a dor física é a sensação de perder uma parte do corpo”, afirma Saldanha. Os dois disseram que irão à Justiça.
Fonte: Rev. Época, Flavio Machado, ed. 507,
31/1/2008.
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