A velha Arena e seu caráter
A pressa de PFL e PSDB
para que se inicie logo o processo de
A pressa se justifica: se a crise durar mais alguns dias, será difícil impedir a convocação do misterioso banqueiro pelas CPIs em andamento. O financista baiano é o fermento de toda a corrupção ocorrida durante o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso, na armação dos processos de privatização e no controle dos fundos de pensão, e muitos acreditam que tenha cabido a ele a colocação do jabuti na forquilha, ou seja, a invenção do Sr. Marcos Valério. A metáfora é do Sr. Vitorino Freire: jabuti não sobe em árvore, nem um outsider como Marcos Valério entra nos grandes negócios da corrupção sem que alguém o endosse. Se os negócios do Sr. Dantas vierem a lume, virão a lume outros cadáveres, insepultos e guardados no armário. É isso que o PFL e os mais próximos de Fernando Henrique pretendem impedir. O desenterrar dos negócios do Banco Econômico não deixará de fora o PFL baiano. Enfim, a chamada bancada do Sr. Daniel Dantas traz, na lapela, mais emblemas do PFL do que dos outros partidos. Há ainda outros atos, tidos como criminosos, a ele atribuídos, como a contratação da empresa norte-americana Kroll, de espionagem, para vigiar até mesmo o governo federal, grampeando os telefones do Palácio do Planalto. Nem Alphonse Capone, nos áureos dias de Chicago, chegou a tanto. A matéria da Folha, assinada por Kennedy de Alencar, um repórter sempre bem informado diz, textualmente: “Historicamente bem relacionado com a cúpula do PFL, Dantas recebe o auxílio de membros do partido, como os senadores ACM, Jorge Bornhausen (SC) e Heráclito Fortes (PI), além dos deputados Alberto Fraga (DF) e Abelardo Lupion (PR)”. Essas e outras revelações abrem ainda mais a brecha entre o PSDB do Sr. Geraldo Alckmin e do Sr. José Serra, e o PSDB do Sr. Fernando Henrique Cardoso que, a cada dia, está ficando menor. O ex-presidente só conta com membros de seu grupo, como é o caso do ex-executivo dos supermercados do Sr. Abílio Diniz e ex-ministro de FHC, Bresser Pereira, para pregar ostensivamente o impedimento de Lula. Alckmin e Serra, que estão empurrando o ex-presidente para o fundo do palco, mantêm as posturas da conveniência, mas só pensam na sucessão de Lula, como candidatos a candidatos do PSDB. Para Serra e Alckmin, que se consideram pessoalmente imunes à sujeira que emerge dos documentos apreendidos pela Polícia Federal, interessa o desgaste de Fernando Henrique e do PSDB mineiro, mas não convém o impeachment, que poderá soltar muitos demônios acorrentados. Na defensiva, o PT não tem tido a ousadia necessária para exumar os cadáveres do governo passado. Não só os cadáveres da quota do PSDB mas, também, de seus aliados, como a velha Arena que muda sempre de sigla, mas nunca de caráter. Arraes A morte de Arraes faz nascer um novo mito no Nordeste. Os sertanejos pobres, em sua intimidade com o Absoluto e com a morte, têm, agora, depois de Antonio Conselheiro e do Padre Cícero, outro ícone a venerar. Não há, na história republicana, outro homem público que tenha sido eleito diretamente pelo povo governador de um Estado três vezes. Só isso basta para mostrar a força política de Miguel Arraes, um socialista que tinha os pés no chão.
Fonte: Ag. Carta Maior, Mauro Santayana, 15/8/2005 |