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Qualidade de ensino é o principal desafio no combate ao analfabetismo

 

 

Apesar do aumento na quantidade de brasileiros na escola nos últimos anos,

 

 

a qualidade do ensino ainda deixa a desejar, como mostram os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do ano passado (Pnad 2007). De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais do instituto, o Brasil tem 2,4 milhões de analfabetos com idade entre 7 e 14 anos, dos quais 2,1 milhões (87,2%) freqüentavam a escola no ano passado. Do total de 1,3 milhão de pessoas de 8 a 14 anos que não sabem ler e escrever, a grande maioria (84,5%) está matriculada em alguma turma de ensino fundamental ou médio, mas um contingente de 1,1 milhão de crianças e adolescentes que estão nas salas de aula ainda são consideradas analfabetas.

 

 

Entre as crianças de 7 anos, 29% não sabiam ler e escrever, embora 90,8% delas fossem estudantes. Na faixa dos 8 a 14 anos, 5,4% são analfabetas. No Nordeste, o percentual de jovens e crianças iletrados atingia impressionantes 44% da população nessa idade. No Norte, 39,6%. 

- Não dá para imaginar que quase 30% (das crianças de 7 anos) tenham aprendizagem mais lenta. Acima dos 8 anos, é um absurdo. Mesmo com ritmo lento, a expectativa é que o aluno se alfabetize no segundo ano de escola - diz o coordenador de pós-graduação da Faculdade de Educação da USP, Romualdo Portela de Oliveira. 

Os indicadores põem em xeque a qualidade do ensino, ainda que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação (MEC), tenha apontado melhora em 2007.  

- É muito grave que qualquer criança esteja na escola e não aprenda - disse a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar. 

Já em relação à defasagem de ensino, os dados apontam uma melhora: caiu o número de estudantes matriculados em um nível abaixo do indicado para sua idade: de 43% em 1997 para 27,5% dez anos depois. Porém, esta mudança pode estar atrelada em parte ao sistema de aprovação automática adotado no sistema público de ensino de algumas regiões do país. Um dos estados que adotam esse mecanismo, São Paulo é o dono do melhor indicador de freqüência líquida (adequação da idade à série) no país. 

Em todo o país, no entanto, um em cada quatro estudantes de ensino fundamental tem a chamada distorção idade-série, com pelo menos dois anos de idade acima do previsto para a respectiva série. Os maiores gargalos do atraso estão na 5ª série do ensino fundamental, em que 30,8% dos estudantes apresentavam defasagem, isto é, tinham 13 anos ou mais; e na 8ª série, em que 30,4% dos alunos tinham 16 anos ou mais. O IBGE considerou apenas redes onde o nível fundamental dura oito anos. 

As médias nacionais escondem disparidades entre as regiões. No Nordeste, 48% dos alunos da 8ª série estavam atrasados. Em Alagoas, eram 59,1%. Na Bahia, na Paraíba e no Ceará, a taxa também passava de 50%. No Rio, era de 34,2%. 

Dos 8,5 milhões de estudantes de 15 a 17 anos no país, 48% estavam no nível adequado, ou seja, o ensino médio. São Paulo era o estado com maior proporção nesse sentido: 66,3%. No outro extremo, Alagoas tinha somente 25,6% de seus jovens de 15 a 17 anos no ensino médio. 

Analfabetismo entre pessoas com mais de 15 anos caiu 

No cômputo geral, a taxa de analfabetismo de pessoas com mais de 15 anos caiu de 14,7% em 1997 para 10% - o correspondente a 14 milhões de pessoas - na última pesquisa (na camada populacional de 7 a 14 anos, a queda foi menor - confira no gráfico).  

 

 

Neste sentido, a relação entre as áreas rural e urbana continua praticamente inalterada: existem três vezes mais analfabetos no campo do que na cidade: 23,3% contra 7,6%. Há dez anos, as proporções eram de 32% na área rural contra 10,7% nas regiões urbanas. 

Na média, o número de séries concluídas pelos brasileiros acima de 15 anos aumentou de 5,8, em 1997, para 7,3, em 2007, mas ficou abaixo do que seria adequado. A média de anos de estudo das crianças de 11 anos ficou em 3,3 e não em 4 anos, que seria o correto. Jovens de 14 anos atingiram 5,8 anos - o correto seriam 7. E os de 17 alcançaram 7,9 séries completadas, e não 10, como desejável. 

Ainda de acordo com a pesquisa, os jovens continuam a ser os mais afetados pela pobreza no país. No ano passado, 46% das crianças e adolescentes de zero a 17 anos viviam com rendimento mensal familiar per capita até meio salário mínimo. 

Apesar de o IBGE ter constatado uma redução no nível de pobreza, o presidente do órgão, Eduardo Nunes, fez questão de frisar que o número de famílias pobres no país ainda é "muito expressivo", sobretudo se "levarmos em consideração o tamanho da riqueza que o país tem condições de produzir". 

Nunes também ressaltou que o projeto de universalização do ensino, que hoje atinge crianças e jovens, de 7 a 14 anos, precisa ser estendido para todas as outras faixas da população, inclusive para os idosos. 

Até os 3 anos só 17,1% têm acesso a creche 

A pesquisa também mostrou que o Brasil ainda está longe das metas propostas pelo Ministério da Educação para a faixa etária de 0 a 3 anos. Em compensação, em relação às crianças de 4 a 6 anos, o país está quase lá. De acordo com a Síntese dos Indicadores Sociais, 77,6% das crianças de 4 a 6 anos estão na escola. A meta é incluir 80% delas. Mas o cenário muda radicalmente de 0 a 3 anos: apenas 17,1% são atendidas por creches, enquanto a meta é de 50% até 2010. 

- Mesmo com o aumento da taxa de escolarização, que estava em 8,1% em 1997, estamos longe de alcançar a meta estipulada pelo MEC - observa Lara Gama, técnica do IBGE que cuidou do capítulo referente às crianças na síntese. 

A coordenadora da pesquisa, Ana Saboia, completa.  

- O problema é da esfera pública. É preciso montar uma infra-estrutura básica para atender essa população. 

Mulheres estudam um ano a mais que os homens, em média

Quanto às diferenças de gênero, as mulheres apresentam escolaridade superior aos homens. Na média, elas estudam um ano a mais do que eles (nove contra oito), de acordo com o levantamento feito ano passado. A proporção também é favorável às mulheres em relação ao nível superior: em 2007, 57,1% dos estudantes universitários eram do sexo feminino, contra 42,9% de homens. No entanto, no mercado de trabalho elas ainda ocupam menos cargos de chefia, por exemplo.  

O documento Síntese de Indicadores Sociais 2008, elaborado pelo IBGE, também aponta a existência de desigualdades educacionais com base na cor ou raça. Em números absolutos, dos cerca de 14 milhões de analfabetos brasileiros com mais de 15 anos, quase 9 milhões são pretos ou pardos. Entre as pessoas dessa faixa que não lêem nem escrevem, o índice para a população branca é de 6,1%, menos da metade dos 14% observados entre as pessoas declaradas pretas ou pardas nesta faixa de idade. 

O desnivelamento se observa também no ensino superior. A taxa de freqüência universitária da população preta ou parda, de 18 a 25 anos, ainda não tinha alcançado, em 2007, os índices obtidos dez anos atrás pelos brancos. Nesse período, também cresceu a diferença entre brancos e pretos ou pardos com 3º grau completo: era de 7,4% em 1997, e passou para 9,4% ano passado. Contrastes que se observam também na divisão racial dos estudantes com mais de 18 anos em cada nível de ensino (veja o gráfico abaixo) e se refletem posteriormente no mercado de trabalho. 

 

 

A educação dirigida à população idosa também é motivo de preocupação. Coordenadora geral da Síntese de Indicadores Sociais, Ana Sabóia alerta que apenas 3,9% dos analfabetos com 60 anos ou mais estão matriculados em algum programa de ensino destinado a esta faixa etária. 

- Está acontecendo alguma coisa, já que o programa de educação de jovens e adultos não está tendo o alcance adequado. São 14 milhões de analfabetos (de 60 anos ou mais), e apenas 2,46 milhões nos programas - observou.

 

Fonte: O Globo, Allan Caldas, Liana Melo, Demétrio Weber e
Cássia Ameida, 25/9/2008.

 


Especialista defende provão para professores

 
 

Para presidente do Conselho de Secretários de Educação, número de analfabetos na escola alerta para qualidade do ensino
 

Após o IBGE divulgar que 2,1 milhões de estudantes brasileiros de 7 a 14 anos são analfabetos, apesar de freqüentarem a escola regularmente, a presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), órgão que reúne as secretarias estaduais, Maria Auxiliadora Resende, defendeu ontem a aplicação de prova em todo o país para avaliar professores do ensino básico. O objetivo seria identificar deficiências de formação e até mesmo impedir que profissionais desqualificados possam dar aulas.

"Há professor incapaz de escrever um pequeno texto"

Para Maria Auxiliadora, que é secretária de Educação de Tocantins, o país precisa buscar uma solução nacional para o problema, uma vez que estados e municípios não dão conta de encontrar saídas isoladas.

- Esta é uma questão central e ninguém tem coragem de enfrentá-la. Hoje qualquer um pode ser professor e a gente não sabe a qualidade de quem leciona. Há professor que é incapaz de escrever um pequeno texto. Como vamos querer que um aluno faça isso? - disse Maria Auxiliadora, conhecida como Dorinha.

Os dados do IBGE fazem parte da Síntese de Indicadores Sociais, com base em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-2007). Dos 2,4 milhões de analfabetos de 7 a 14 anos, 2,1 milhões (87,2%) freqüentavam a escola. Na faixa dos 7 anos, 29% das crianças não sabiam ler e escrever. No Nordeste, esse índice alcançava 44%.

A presidente do Consed considera a avaliação nacional indispensável, mas deixa em aberto o formato para pôr a idéia em prática. Uma das propostas seria copiar o modelo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que realiza periodicamente o chamado exame de Ordem. Sem aprovação no exame, bacharéis em direito não podem advogar.

O "exame de magistério" poderia ser aplicado pelo MEC nos moldes da Prova Brasil e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que avaliam estudantes de ensino fundamental e médio.

Uma alternativa, segundo ela, seria a padronização nacional dos concursos para o magistério. Maria Auxiliadora conta que a seleção de professores nos mais de 5.500 municípios e nos 27 estados não segue critério algum. Há casos em que as provas de concursos para professores de química ou matemática não avaliam essas disciplinas, contendo apenas questões de língua portuguesa.

- O concurso com padrão nacional poderia certificar a qualidade do professor.

Maria Auxiliadora enfatiza que o propósito da avaliação não é crucificar docentes. Ela destaca que os salários em geral são baixos e as condições de trabalho, árduas.

- Os professores são desrespeitados, os salários são baixos. Temos de enfrentar o problema. A proposta é polêmica, incomoda, e a primeira reação da categoria é se sentir ameaçada. Mas não é punição, pois a responsabilidade não é do professor. Há problemas estruturais.

 

Fonte: O Globo, Demétrio Weber, 26/9/08.

 


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