A ameaça do bullying

 

O bullying pode trazer danos para sua vida acadêmica e profissional

Você conhece o Bully? Provavelmente sim. Ele é aquele garoto que roubava o dinheiro dos meninos mais fracos da sua escola, que infernizava as meninas tímidas com apelidos e provocações constantes, e que gostava de mostrar que era o mais engraçado e o mais popular da classe na base da agressividade e da humilhação. Lembrou?

Se você acha que isso tudo é apenas zoação entre colegas, e que essas práticas ficaram para trás junto com o Ensino Fundamental, é bom saber que essa brincadeira sem graça, que pode influenciar seu futuro, tem nome certo para os pesquisadores: bullying. O conceito se refere às formas de agressão intencionais e repetitivas, baseadas em uma relação desigual de poder entre os estudantes, que geram dor e angústia nos colegas incapazes de se defender. O tema está em voga na discussão entre pais, educadores e adolescentes por causa de um jogo de videogame chamado Bully, que simula o ambiente social - por muitas vezes hostil e intimidador - de um colégio interno dos Estados Unidos.

O coordenador do Programa Anti-Bullying (ou Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre os Estudantes) da ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência) Aramis Lopes afirma que, apesar do bullying ser mais comum entre adolescentes de 11 a 13 anos, ele também pode acontecer no Ensino Médio. Além disso, seus efeitos de longo prazo, que podem atingir alunos mais velhos e até adultos, são os que mais preocupam os especialistas. "O bullying está relacionado ao desenvolvimento de baixa auto-estima, ao isolamento social e à depressão. Influencia a capacidade produtiva do adolescente-vítima, enquanto o agressor pode ser levado a adotar comportamentos de risco durante a fase adulta, como alcoolismo, dependência de drogas e até mesmo o uso da violência explícita." (Saiba mais sobre como os dois lados dessa história podem lidar com o bullying – 'A perspectiva das vítimas'  e  'A perspectiva dos agressores').

Fora do videogame, se estendendo de uma simples fofoca à violência real, o bullying têm sérios efeitos na vida das suas vítimas, autores e testemunhas. Portanto, antes de deixar o colégio, é bom você ficar sabendo que essa prática pode prejudicar não apenas o seu rendimento escolar, como também a sua vida universitária e profissional - seja você o Bully ou uma das pessoas que ele persegue.

Não parece, mas é

Por ter sido associado a casos como o de Columbine o bullying pode parecer uma anomalia, ligada somente à violência explícita. Mas segundo a ABRAPIA, atos como zoação, fofoca, isolamento e difamação, quando injustificados, constantes e prejudiciais à auto-estima de outro estudante, também fazem parte desse conceito. Lopes explica que, principalmente entre as meninas, o bullying aparece de forma mais sutil, mas nem por isso é menos prejudicial.

"Entre os garotos, geralmente a prática se dá pela agressão física, pelo apelido claramente exposto, e pela exclusão muito evidente daquela vítima. Já entre as meninas, muitas vezes o grupo não exclui a vítima, mas coloca condições para a sua aceitação social. Obrigar uma menina a chegar mais cedo na escola para guardar os lugares das outras ou proibi-la de ir a festas, por exemplo, são ações que chamam atenção pela sua sutileza", diz Lopes O pediatra também chama atenção para a prática freqüente do cyber-bullying, que acontece por meio da criação de comunidades na internet.

A ação dos especialistas para conscientizar e prevenir contra o bullying é direcionada aos alunos do Ensino Fundamental e Educação Infantil, já que os estudantes mais velhos costumam ser mais resistentes à uma reflexão sobre o tema. "Apesar dessa faixa etária não ser o nosso foco, é interessante que eles mudem o pensamento em relação ao assunto. Porque ter passado da fase em que o bullying é mais comum não impede que o jovem seja um identificador dessa prática. E ele tem um papel muito importante para ajudar os alunos mais novos e mesmo os seus irmãos menores a lidarem com isso".

 


"Sua Vaga É Minha!!!" - Será que vale tudo na hora do vestibular?

 

Mais um motivo para você prestar atenção em como anda a sua relação interpessoal com colegas da escola: na fase pré-vestibular, a competitividade, o estresse e a pressão por bons resultados nas provas pode fazer com que o relacionamento com os seus colegas fique mais agressivo.

É verdade que a vontade de vencer os concorrentes pode ser saudável na dose certa. Mas cuidado: esse clima de comparação, quando muito acirrado, pode fazer com que alguns alunos transfiram o foco dos estudos para a tentativa de desmotivar os concorrentes; enquanto outros estudantes, ao sentirem-se ameaçados pelos colegas, podem perder a auto-estima e a segurança que são essenciais na hora de encarar o vestibular. "É terrível que um estudante pense que tem que mostrar que é forte o tempo todo, que tem que destruir os outros para ser capaz de vencer", comenta o pediatra da ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência) Aramis Lopes, sobre os casos de alunos que gostam de divulgar suas pontuações altas em simulados e que usam camisetas com dizeres intimidatórios na hora de prestar vestibular.

A estudante do Cursinho da Poli e vestibulanda do curso de Letras Daniella Costa conta o que viu na última vez em que prestou a prova da FUVEST: "na minha sala tinha dois alunos com camisetas onde se lia Sua Vaga É Minha; eu sentei bem no meio dos dois. Na hora eu fiquei ainda mais nervosa e pensei 'acho que eu não vou passar'". Daniella afirma que, no cursinho, conhece estudantes que só são amigos de alunos estudiosos, que jamais aceitariam tirar dúvidas de um colega por causa da competição e que não hesitariam em mentir a respeito das suas notas nos simulados para desmotivar os concorrentes. Ao invés de viver em pé de guerra com os colegas, Daniella prefere se aproximar de quem gosta de conversar a respeito do vestibular e de estudar em conjunto com os amigos: "não é só assistindo às aulas que você aprende. Conversando com as pessoas você também aprende muito, e não só para o vestibular, aprende para a vida".

O pediatra da ABRAPIA lembra do papel dos professores e das instituições de ensino como precursores desse tipo de agressividade. O coordenador do Núcleo de Psicologia do Cursinho da Poli André Meller afirma que a estratégia da instituição é estimular a diversidade e a construção coletiva do conhecimento entre os alunos, por meio da formação de classes heterogêneas (diferentes das formadas por nível de conhecimento ou por curso de interesse) e da organização de eventos que promovam a interação entre os estudantes fora da situação competitiva do pré-vestibular: "reconhecemos a importância de criar um ambiente que acolha e valorize as diferenças entre os alunos. Afinal, a competição não precisa ser estimulada, ela já está posta".
 

 

Fonte: UniversiaBrasil, 7/11/2006.

 

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