Cotas para negros ...
Federais, o próximo alvo da reserva

 

Depois da experiência em duas universidades estaduais, a reserva de vagas ganha corpo nas unidades federais. Assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa eleitoral, o secretário nacional do PT no Combate ao Racismo, Martvs das Chagas, lembrou que a implementação da política de cotas foi uma promessa de campanha. Apesar de considerar desnecessário uma lei nacional que determine a adoção da reserva, Martvs acredita que, sem imposições, várias universidades seguirão a Uerj. "O Governo terá apenas de complementar o que está consolidado. Ocorre um movimento social, que, acredito, atingirá todas as universidades", disse ele, cotado para assumir a Secretaria para Promoção da Igualdade Racial, criada ontem por Lula. Para ele, o novo órgão discutirá o tema nas primeiras reuniões. A tendência é que o Governo Lula incentive a reserva de vagas.

O secretário alerta sobre a necessidade de se discutir critérios, inclusive com os adversários da idéia, para corrigir distorções na aplicação das cotas. "A cor da pele não é o único determinante para definir os beneficiados. Os ascendentes ou os traços podem ajudar na identificação", observou.  

Fonte: O Dia, 11/02/03.


Cotas e nada mais
Editorial – Folha de São Paulo, SP, 11/02/03 

A simplicidade com que alguns formuladores de política pública enxergam o mundo por vezes leva a situações inusitadas. É o caso da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que implantou um sistema de cotas para a admissão de candidatos que provieram de escola pública e/ou que se autodeclararam negros ou pardos. A Uerj se apercebeu de que, sem uma estrutura de apoio aos estudantes mais carentes, o sistema de cotas corre o risco de se tornar um factóide que alimenta os fenômenos de evasão escolar e deficiência de aprendizado. No Brasil, a política pública para inclusão social por vezes prefere os passos de maior impacto midiático ao trabalho de base. Cotas não vão sanar o déficit de formação acumulado pelo aluno. Tampouco garantirão a permanência do estudante pobre durante anos em cursos que não raro exigem dedicação integral. É como se o problema de consciência dos legisladores estivesse resolvido com a presença de alunos pobres na lista de aprovados do vestibular.  

Uma política efetiva para o ingresso de jovens carentes nas boas universidades deveria começar no ensino médio, com a melhoria de sua qualidade e a disseminação de cursos pré-vestibulares para essa faixa de renda. Ao jovem cuja família não tivesse condições de sustentá-lo durante o curso deveria ser garantido um estipêndio mínimo, que poderia ser a contrapartida de um serviço acadêmico ou comunitário. Mas começou-se a construir a casa pelo telhado, com uma política de cotas mal-ajambrada, o que avilta o princípio do mérito, que deveria nortear a vida universitária. No vestibular da Uerj, os aprovados pelo sistema especial conseguiram entrar com médias inferiores (em alguns casos gritantemente inferiores) às dos que concorreram no modelo tradicional. É preciso agregar mais racionalidade ao debate sobre cotas por mais que alguns áulicos do politicamente correto não hesitem em tachar de racista qualquer crítica ao sistema.


 

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