Álcool: social, mas prejudicial. Veja o que ele provoca
Muitos estudantes se tornam alcoólatras na faculdade e nem sabem
Dos quase 1.400 estudantes entrevistados na cidade de Campinas, no interior paulista, apenas 13,6% jamais experimentaram bebidas alcoólicas ou qualquer tipo de droga. Entre os que admitiram ter usado alguma droga lícita (álcool, cigarro e tranqüilizantes), 85% admitiram ter experimentado justamente o álcool. Ainda segundo o levantamento, esse grande número se dá graças à facilidade com que os jovens têm de acesso a bebidas alcoólicas. De todos que admitiram ter usado algum tipo de droga, 67,7% disseram ter acesso fácil ao álcool, contra apenas 30% da maconha, por exemplo, e 22,9% que afirmaram conseguir cocaína com facilidade. Para se ter uma idéia da situação que alguns alunos chegam, o Universia foi até um bar que fica ao lado de uma grande universidade de São Paulo. Lá, três universitários, dois do curso de Publicidade e Propaganda e um de Farmácia permaneceram das 19h30 até as 22h30, durante todo o horário de aula. Eles beberam duas garrafas de cerveja, uma de vinho, e três copos de vodka cada um. Quando questionado se iria ou não para a aula, um deles disse: "Para que ficar sentadinho ouvindo um idiota falar? Prefiro ficar aqui, me divertindo com a rapaziada", debochou um deles. Se ele se preocupa com o seu rendimento escolar? Veja só: "No final do ano colo de algum nerd nas provas e passo de ano", admite o rapaz. A coordenadora de Psicopedagogia da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), Maria Beatriz Jacques Ramos, diz que a bebida é uma forma de não encarar a realidade. "Ao ingerir a bebida, o álcool pode trazer uma sensação de relaxamento, de alívio. Isso faz com que o jovem busque sempre usar dessa droga para se sentir bem e fugir das decisões importantes a serem tomadas, que aumentam nessa idade", explica ela. Mas, ao buscar esse "bem-estar", ainda segundo a coordenadora, o jovem fica cada vez mais sensível. "Se quando bebe o estudante acha que seus problemas acabam, naturalmente ele vai querer beber mais e ter menos problemas. E quando se chega a esse ponto, de beber cada vez mais para esquecer a realidade, o jovem torna-se, na maioria das vezes, um alcoólatra", revela. Um exemplo vivo A professora de Educação Física Nika Gonçalves - a pedido dela, seu nome verdadeiro não será revelado - passou por tudo o que o alcoolismo pode causar. Ela diz que teve quatro momentos desde que começou a beber: a fase ovelhinha, depois a fase palhaça, a leoa e por último, a fase porca. "Ovelhinha porque, no começo, quando bebia na faculdade, eu era boazinha e dócil. Depois fui para a fase palhaça, quando achava que era engraçada. Aí vem a fase leoa, quando me tornei agressiva com todos a minha volta, inclusive minha família, e, por fim, a fase porca, quando não cuidava mais do meu corpo e de minha higiene", explica ela. Nika diz ainda, que o mais difícil para um alcoólatra é admitir que tem realmente uma doença. "Quando me diziam que eu bebia demais na faculdade, não aceitava e muitas vezes, partia para cima para agredir essas pessoas", admite. Depois de beber durante 24 anos, um dia ela chegou de uma viagem - pois também trabalhou como guia turística - e não tirou nem seu uniforme. Pegou uma garrafa de conhaque e começou a beber no gargalo. Seu filho, que na época tinha 17 anos, implorou para que a mãe parasse de beber. Nika se lembra até hoje que respondeu ao garoto. "Preciso de ajuda". Então, o filho teve a idéia de levar a mãe para o AA (Alcoólicos Anônimos). Foi aí que a realidade de Nika começou a mudar. "No começo tive medo, porque o alcoólatra é tão arrogante, que na época tinha receio de encontrar um monte de gente suja, mal-arrumada e cheirando a álcool". Nika faz uma brincadeira: "provavelmente eu achava que estava com cheiro de rosas". Quando chegou ao local, Nika ficou surpresa com o que viu. "As pessoas estavam bem arrumadas, limpas e aí quem ficou com vergonha fui eu". Mas ela explica que a recepção foi tão boa, que logo essa vergonha passou. "Fui recebida por uma mulher que me deu um abraço caloroso e disse que eu era a pessoa mais importante daquela reunião que começaria em poucos instantes", lembra ela. Hoje, Nika trabalha no AA, no comitê "Trabalhando com os outros". Trata-se de um grupo de pessoas recuperadas do vício da bebida que dão palestras em escolas, universidades, empresas ou qualquer organização que entrar em contato com o Alcoólicos Anônimos de São Paulo, pelo telefone (11) 3315-9333 ou pelo e-mail da Nika. O caminho do álcool Sabe o que acontece com o seu corpo quando você ingere uma bebida alcoólica? O psiquiatra Marcelo Niel, do Proad (Programa de orientação e atendimento a dependentes) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz para onde vai a bebida alcoólica que você ingere no barzinho ao lado da faculdade, ou na balada de fim de semana. Você pode não saber, mas Niel diz que o álcool vai para todos os órgão do corpo. "Ao ser ingerido pela boca, a bebida vai direto para o estômago, onde é absorvida. Daí, vai para a corrente sanguínea e chega a todos os órgãos do corpo humano, sem exceção", explica ele. O médico explica que o fígado é o órgão que mais sofre no corpo humano com a ingestão de bebidas alcoólicas. "Cada vez que uma pessoa ingere uma bebida alcoólica, cria-se uma lesão no fígado. O aumento dessas lesões pode causar a cirrose hepática, que se não for tratada no início, pode levar o indivíduo à morte", adverte. Os sintomas dessa doença, segundo Niel, é o amarelamento da pele e a barriga inchada. Além disso, o médico aponta outros problemas. "Num estágio mais avançado, a cirrose pode causar problemas hormonais, já que o fígado é importante nesse processo. O indivíduo pode ter alterações nas unhas, perder pelos e até o apetite sexual", revela. Para os jovens, o médico diz que o problema é ainda maior. "Num ser humano que tem entre 15 e 25 anos, o cérebro está em formação. Nesse caso, a ingestão exagerada de álcool pode causar perda de memória, de concentração, de raciocínio lógico, e isso pode chegar num estágio irrecuperável", afirma ele. Mas os problemas não estão apenas no fígado e no cérebro. Niel faz questão de frisar que o corpo todo está em risco com o exagero de bebidas alcoólicas. "Todos os órgãos do corpo humano podem ser afetados. Problemas nos rins, nos pulmões, dores por todo o corpo por causa dos nervos, são sintomas normais de um alcoólatra", finaliza.
Fonte: UniversiaBrasil, 29/10/2007.
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