O que fazer para alavancar a carreira de professor?

 

(...) a alta qualificação é importante, principalmente, para que o professor não seja um mero transmissor do conhecimento. "Ele passa a ser um produtor de informação, capaz de ensinar, aos seus alunos, diferentes formas de pesquisar e de pensar"

Depois de quatro ou cinco anos freqüentando os bancos universitários, uma importante fase da vida se conclui: a graduação. Mas para quem quer seguir a carreira acadêmica, este é apenas o primeiro passo de uma longa jornada de estudos. Para aprimorar-se em sua trajetória, ainda existe um árduo caminho pela frente: especializações, Mestrado, Doutorado e - quem sabe, até - o Pós-Doutorado. Assim, como acontece com profissionais de outras áreas, quem trabalha com educação também é cobrado. Por isso, é necessário investir, constantemente, na reciclagem de seus conhecimentos. Mas, que cursos realmente valem a pena?

Muitas vezes, é difícil conciliar o trabalho com a continuidade dos estudos e, mais complicado ainda, identificar o melhor momento de entrar na Pós-Graduação. No entanto, especialistas alertam que, para enfrentar este dilema, basta ter um objetivo profissional bem definido e traçar caminhos que possam levá-lo ao resultado final. "Lógico que, durante o percurso, muitas barreiras são encontradas, por isso a flexibilidade e a persistência são fundamentais neste processo", afirma o Presidente da Andes (Associação Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), Paulo Riso.

Se a área de atuação escolhida foi o Ensino Superior, o docente que quer crescer deve ter o título de Mestre. Esta é uma exigência do MEC (Ministério da Educação) no que tange as universidades - 1/3 do corpo docente deve ser composto por mestres e doutores. "A Universidade se baseia entre o ensino, a pesquisa e a extensão e, para atender estes segmentos, é preciso uma demanda de mestres e doutores", conta Riso. No caso de Faculdades e Centros Universitários, o cenário é um pouco diferente, mas, de qualquer maneira, não há como ignorar que a existência de docentes qualificados no qaudro de funcionários melhora a qualidade do ensino e a imagem da Instituição.

No que se refere ao profissional, não é só o ganho material que conta, mas é importante pensar no mestrado como um ganho de experiência, um avanço na carreira e uma porta que se abre para outras oportunidades. "Para o mestrado, você tem que desenvolver pesquisa sobre algo já pensado, vasculhar arquivos históricos, elaborar um pensamento e criar um quadro teórico para interpretar, adquirir e oferecer uma nova visão do que já foi dito e pesquisado", explica a livre docente em Educação Moderna e Contemporânea Brasileira e professora da UNESP (Universidade Estadual Paulista), de Marília, Sonia Marrach. Quer um exemplo? Um professor dificilmente conquista o cargo de coordenador de um curso numa Instituição de Ensino Superior se não tiver titulação. Por isso, se o seu objetivo é crescer dentro de uma IES, o ideal é que o mestrado seja realizado o quanto antes.

Já o Doutorado não é um requisito fundamental, mas trata-se da continuidade de construção da carreira acadêmica. Ao fazer doutorado, é defendida uma tese e a contribuição deve ser realmente original, por mínima que seja. Além disso, com o título de doutor, automaticamente, o profissional passa a receber mais e pode alcançar patamares maiores, aprofundando-se na área da pesquisa científica.

Para Marrach, a alta qualificação é importante, principalmente, para que o professor não seja um mero transmissor do conhecimento. "Ele passa a ser um produtor de informação, capaz de ensinar, aos seus alunos, diferentes formas de pesquisar e de pensar", explica. Assim, a especialista assegura que, independente das dificuldades, o professor universitário deve optar sempre pelo mestrado e pelo doutorado.

Mas fazer uma especialização é uma qualificação válida para docentes? E o pós-doutorado, onde fica nesta história? Embora estes títulos não sejam cobrados pelas Instituições de Ensino Superior, eles podem contribuir muito para a qualificação do docente. A especialização é um conhecimento pontual sobre um determinado tema e é mais procurado por professores da Educação Média, Tecnológica e Profissionalizante. "O que não significa que os mestres e doutores não possam fazê-la", afirma a professora da UNESP. "Esta pode ser uma boa alternativa para reciclar conhecimentos específicos", completa. 

O pós-doutorado geralmente é realizado pelos professores doutores que desejam dar continuidade à produção científica. "Esta qualificação não altera nada a carreira do docente, mas abre canais de contatos, o que é muito importante para potencializar seu trabalho e, consequentemente, para o reconhecimento profissional", garante o presidente da Andes.

Formação x empregabilidade

Vale lembrar, no entanto, que nem sempre a alta qualificação é garantia de emprego. Lógico que quem não investe na formação profissional fica pra trás, mas existem, também, muitos profissionais com o título de doutor que estão desempregados ou que se sujeitam a trabalhos medianos, muito aquém de suas competências.

O problema é que, quanto mais qualificado o professor, maior o custo para a Universidade, como salienta a professora Marrach. Desta forma, as instituições, principalmente as privadas, contratam apenas o número mínimo de mestres e doutores estabelecido pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e completam o quadro de funcionários com profissionais de formação mínima. Algumas, inclusive, demitem os docentes que estão prestes a obter o título de doutor. Foi o que aconteceu com uma professora da área de Medicina Veterinária que prefere não se identificar. "Depois de seis anos de casa, eu e alguns colegas, também doutores, recebemos uma carta de demissão, alegando a alta da inadimplência e um número superior ao estabelecido pelo MEC de profissionais com esta qualificação", conta.

Foi uma surpresa para a professora, mas ela não se arrepende de ter feito o doutorado. "O conhecimento é que deve prevalecer, já que ele, diferente de um emprego, será carregado para o resto da vida", enfatiza. O grande dilema da veterinária, agora, é saber se inclui ou não o título de doutora em seu currículo. "Algumas instituições particulares nem contratam se você tem a titulação mais alta e, para entrar em uma instituição pública, é preciso esperar a abertura de concursos, o que não é tão freqüente assim", aponta.

E a professora da UNESP, Sonia Marrach, ainda levanta outra questão: "O ideal seria que a instituição assumisse o professor bem qualificado em tempo integral. Assim, ele poderia dedicar mais tempo à pesquisa". Nessas condições, ele dá aula, faz pesquisa científica e ainda orienta os alunos. "O professor em tempo integral ganha 40 horas por semana, mas só dá 12 horas de aula, mas nem todas as universidades aceitam isso". Geralmente são as IES públicas que garantem essas condições.

De acordo com Riso, a crise das instituições privadas inibe os profissionais a buscar novas qualificações, o que é muito ruim para a educação do país. "Mas o papel de um bom professor não é cruzar os braços diante de tudo isso. Ele deve, sim, continuar investindo na sua formação e lutar pelos seus direitos e por um sistema educacional melhor", conclui o presidente.

 

Fonte: UniversiaBrasil, 5/12/2006


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