A ágil
caneta do presidente
Nunca ninguém editou tantas
medidas provisórias como Lula Lula acaba de bater um incômodo recorde: nunca um presidente da República, desde a Constituição de 1988, fez uso tão intensivo de medidas provisórias, as MPs – papeluchos que, basta o presidente assinar e mandar ao Congresso Nacional, passam a ter força de lei como se o chefe do Executivo fosse, sozinho, a personificação de 594 deputados e senadores. Inspirados na legislação da Itália da II Guerra Mundial, os constituintes brasileiros de 1988 queriam que as MPs dessem ao presidente da República a necessária agilidade para tratar de temas relevantes e urgentes. As medidas, subvertido seu propósito original, passaram a ser usadas para praticamente qualquer coisa. Fernando Collor editou MP para comprar um automóvel para uso do vice-presidente Itamar Franco. Fernando Henrique Cardoso chegou a assinar MP para comprar latas de goiabada. Lula, em 23 meses de gestão, já cravou uma média de 5,4 MPs por mês, marca inédita desde o governo do presidente José Sarney (veja quadro).
Ministro Aldo Rabelo admite que Lula exagerou em MPs
O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, admitiu ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exagerou na edição de medidas provisórias. Desde sua posse até hoje, Lula editou 95 MPs. Em comparação com igual período (um ano e meio de governo), Lula superou todos os seus antecessores. No primeiro ano, foi superado por Fernando Collor, mas já o ultrapassou também levando em conta os seis meses do segundo ano. O PT sempre foi um dos principais críticos do excesso de MPs em governos anteriores. Nos primeiros 24 meses do seu primeiro mandato, o então presidente Fernando Henrique Cardoso editou 71 medidas provisórias. Das 95 MPs editadas por Lula em 18 meses, 77 foram convertidas em lei, 16 estão em tramitação, uma foi revogada e uma rejeitada. “De fato, o elevado número de medidas provisórias dificulta a atividade normal e ordinária do Senado e da Câmara. O governo comprometeu-se diante dessa situação a fazer um supremo esforço de diminuir a edição de MPs”, disse Aldo. Para ele, o problema é que, “às vezes, os ministros têm coisas que julgam urgentes para resolver e sempre imaginam que a MP é um atalho para resolver essas questões”. Segundo Aldo, “o governo reconhece que, em determinados momentos, editou um número de MPs a mais do que seria prudente para o bom andamento dos trabalhos da Câmara e do Senado”. Se não for aprovada em 45 dias, o que normalmente acontece, a medida provisória tranca a pauta da Câmara. Depois de aprovada, já chega ao Senado trancando a pauta, já que o prazo de 45 dias se refere à tramitação nas duas Casas. Recentemente, os presidentes da Câmara e do Senado, João Paulo Cunha (PT-SP) e José Sarney (PMDB-AP), embora aliados do governo, apontaram a excessiva edição de medidas provisórias. “Os dirigentes do Congresso têm razão ao fazer esse registro”, disse Aldo. Fonte: Diário de Cuiabá, Edição nº 10.967 de 15/07/2004. |