"Desiludidos" com a CUT e o PT, sindicalistas da Conlutas fazem
1º congresso nacional prometendo greves
Uma
central sindical criada por dissidentes da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas),
começa a pôr em prática articulações elaboradas desde 2006 e
realiza seu primeiro congresso nacional na cidade mineira de
Betim (a 26 quilômetros de Belo Horizonte) aglutinando cerca de
220 sindicatos, além de 80 movimentos populares e 130
organizações estudantis alinhados com a esquerda mais radical.
O evento –
que começou na quinta-feira e vai até domingo – em um ginásio
poliesportivo de Betim conta com a participação de cerca de
4.000 (segundo número divulgado pela própria Conlutas) pessoas,
entre trabalhadores, sindicalistas, líderes comunitários e
estudantes de várias partes do Brasil, além da América Latina e
da Europa, segundo os organizadores. Os temas que serão
debatidos até domingo são variados e vão desde a redução de
jornada de trabalho, perpassando pela reivindicação do aumento
de aposentadorias e salários, construção de moradias, o apoio ao
movimento dos sem-terra, dos sem-teto e a reestatização de
empresas públicas repassadas à iniciativa privada no governo do
presidente Fernando Henrique Cardoso e a preservação da
Amazônia.
As
proposições aprovadas deverão nortear as ações que serão
implementadas nas entidades associadas ao Conlutas e em
reivindicações a serem feitas ao governo e aos sindicatos
patronais, principalmente no segundo semestre, durante
negociações salariais, conforme relatos de dirigentes.
Na
segunda-feira, inicia-se o Encontro Latino-americano e Caribenho
de Trabalhadores, com o objetivo de trocar experiências sobre
gestões sindicais e avanços nas políticas trabalhistas na
região.
Conlutas
Tendo como
apoiadores e dirigentes militantes do PSTU e do PSOL, a criação
da Conlutas foi sugerida em decorrência de uma desilusão
declarada de parte da esquerda com os rumos tomados pelo PT após
a ascensão da sigla ao poder e uma suposta cooptação da CUT
deflagrada pelos petistas recém-empossados para que abrandassem
as críticas ao noviço governo, segundo diretores ouvidos pela
reportagem do UOL.
De acordo
com José Maria de Almeida, candidato do PSTU ao cargo de
presidente nas duas últimas eleições majoritárias e, atualmente,
dirigente da nova central, logo após a discussão da reforma
sindical e a reforma trabalhista, proposta pelo governo em 2004,
começaram de forma embrionária os entendimentos da ala
discordante.
Almeida
destaca o surgimento da Conlutas como resultado de rejeição ao
modelo preconizado pela CUT.
"Nós
começamos a nos articular em 2004 para discutirmos a organização
da resistência contra a reforma sindical e trabalhista que o
governo e uma parte das centrais sindicais estavam patrocinando
no país. Como a CUT, da qual eu fazia parte, apoiou esse
projeto, houve um conjunto de sindicatos da Central que resolveu
organizar um movimento à parte para impedir a aprovação daquela
reforma. Conseguimos impedir a tentativa do governo e, em 2006,
foi convocado um congresso que transformou aquela mobilização
informal em uma central sindical e popular", disse José Maria.
Para ele,
a diferenciação da Conlutas em relação às centrais sindicais
tradicionais é a incorporação de movimentos sociais e
estudantis.
Segundo
José Maria de Almeida, o apoio de sindicatos importantes como o
dos professores de universidades brasileiras, além do Sindicato
dos Metalúrgicos de São José dos Campos, de São Paulo, e
sindicatos da construção civil da região Nordeste, vai
fortalecer a ação posterior da Conlutas.
Movimento
sindical
Questionado se o movimento sindical não teria sido esvaziado
após os aumentos salariais terem sido dados acima da inflação,
Almeida faz um alerta e endurece o discurso.
"Há muitas
pessoas que são pesquisadoras e estudiosas, mas tiram conclusões
de fatos que não dão fundamento para aquela conclusão que ele
tirou. Nós vamos viver uma nova retomada pela luta pelos
salários em breve. Eu acho que nesse segundo semestre vai ter
mais greve que houve no mesmo semestre do ano anterior", frisou.
O
arrefecimento de lutas sindicais foi observado somente no início
do governo Lula, diz Almeida.
"Quando o
Lula chegou ao poder, as pessoas tinham expectativa de que ele
iria mudar o país. Então, se ele vai mudar o país, para que eu
vou fazer greve. O problema foi que a CUT e a Força Sindical
bloquearam todas as lutas que elas puderam bloquear porque estão
recebendo dinheiro do governo. Então, isso diminuiu as lutas,
mas não é porque as pessoas estão vivendo melhor do que antes",
afirmou.
CUT e PT
Para o
dirigente, a CUT foi incorporada pelo governo Lula e deixou de
ser combativa e defender os interesses dos trabalhadores
representados por ela.
"A CUT já
vinha se afastando do compromisso com os trabalhadores desde a
década de 90. O problema é que, com a ascensão de Lula ao poder,
isso ganhou um salto, porque ela (a CUT) passou a defender o
projeto do governo Lula e os interesses políticos do governo
Lula, que segue aplicando o mesmo programa econômico do governo
FHC (Fernando Henrique Cardoso, do PSDB).
Almeida
"descredencia" a CUT e o PT como representantes dos
trabalhadores e da esquerda, respectivamente.
"Para
defender os nossos direitos, ela não serve mais. Ela serve para
apoiar o governo e ajudar o governo a aplicar as suas políticas
de convencimento dos trabalhadores. Ela (a CUT) virou um
instrumento do governo. O PT, para chegar aonde chegou, à
Presidência da República, foi construído ao longo dos últimos
anos um conjunto de acordos com a burguesia e com o empresariado
que levou o partido a assumir o programa econômico que é o dos
banqueiros deste país. Esse foi o diferencial construído para
que a chapa formada por Lula e José Alencar, em 2002, pudesse
ter o apoio das grandes empresas e o beneplácito da mídia para
que eles pudessem ganhar as eleições", concluiu.
Fonte: Especial UOL, Rayder
Bragon, 5/7/08.
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