‘PT
vive crise moral devastadora', afirma Tarso Genro
O ministro da Educação
e novo presidente do PT diz que partido passa pelo pior momento de sua
história, terá de ser reinventado e criar Tarso Genro, ministro da Educação até dia 27 e novo presidente do PT, avaliou que o partido vive uma "crise de coerência moral devastadora" e terá agora de ser "reinventado". Em entrevista ontem ao Estado, Tarso criou neologismo para assegurar que o programa de monitoramento dos ministros do partido não é tentativa dissimulada de enquadrar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Ele é inenquadrável." - O que o levou a abrir mão do Ministério da Educação para assumir a presidência do PT? Houve apelo do presidente Lula? Não. Houve uma concordância relutante do presidente Lula porque ele gostava, e gosta, do trabalho que a nossa equipe realiza no ministério. A decisão pautou-se por um entendimento político. Se não respondermos de maneira adequada a essa crise no partido, a crise do governo tende a se aprofundar. - O fato de o senhor ser ministro da Educação e estar indo para a presidência do PT não reforça a confusão entre PT e o governo? Não concordo com essa crítica de aparelhamento do Estado. Os partidos têm a responsabilidade de governar e de assumir postos de mando, desde que façam de modo legítimo. - Mas há também uma crítica da esquerda do PT de que o partido fica a reboque do governo. Se a esquerda do PT faz essa crítica, ela está equivocada. O que causa a integração equivocada do partido com o Estado são as relações informais, de grupos, de personalidades ou de parte de instâncias. São as relações veladas, e não regulares. Eu propus que o partido tenha um programa claro e transparente de relacionamento com seus ministros. - Como será esse monitoramento dos ministros pelo PT? O PT pode participar da coalizão à medida que estabelece relação de diálogo e produção de idéias com os ministros. Por isso, vamos ter programa com seqüência de relações com eles, com debates, seminários ou reuniões informais com a executiva. - Mas como vai funcionar em relação à política econômica? O que temos de fazer não é interferir agora para mudar. Isso compete ao presidente ou a Palocci. Alguns adversários entenderam como se fosse resolução para enquadrar Palocci. Eu sou companheiro dele no governo e sei o que significa Palocci para o o governo: ele é inenquadrável, porque representa a vontade política do presidente. - O que senhor vai fazer para recuperar a imagem do PT? O PT vai ter de ser reinventado. O PT vive a pior crise da sua história. É o fim de uma fase na qual não resolveu seu principal dilema: uma conexão, um vínculo ideológico, cultural e político claro entre um partido que surgiu como partido de luta, de movimento, e se tornou um partido de governo e de Estado. Estamos exatamente nessa transição, que nos apanhou numa crise muito grande. Essa crise de coerência moral do partido com sua base e a sua militância é devastadora. - Por que o partido chegou a essa situação? No Brasil, existe uma corrupção sistêmica, que pode engolfar parte dos quadros de qualquer partido que chegou ao Estado. Um partido se diferencia dos demais se tiver duros mecanismos internos de controle. E parece que não temos todos esses mecanismos de controle. - Qual foi a reação da sua filha Luciana Genro, expulsa do PT, à sua escolha como novo presidente do partido? Por telefone, ela me disse: "Ih, pai, mas que bomba que tu pegou."
Fonte: O Estado de S. Paulo, Ana Paula Scinocca e Guilherme Evelin, 12/7/2005. |