EUA reativam IV Frota e preocupam dirigentes da AL

 

 

Desmontada em 1950, frota que ganhou fama na Segunda Guerra volta a freqüentar as águas
da América Latina e do Caribe com 22 embarcações dotadas de mísseis. Em telefonema
ao ministro Celso Amorim, Condoleeza Rice diz que “objetivo é cooperar”
 

Ela ganhou notoriedade durante a Segunda Guerra Mundial, ao caçar submarinos nazistas nas águas do Atlântico Sul. Foi desmontada em 1950, mas agora está de volta, para espanto dos chefes de Estado da região. A temida IV Frota Naval dos Estados Unidos foi reativada oficialmente esta semana e, segundo a Marinha norte-americana, vai começar a realizar em breve exercícios no limite das águas territoriais da América Latina e do Caribe. 

Essa decisão, tomada de forma unilateral pelo governo de George W. Bush, já provocou manifestações de desagrado dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina), Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia), apesar de os EUA garantirem que suas embarcações somente serão utilizadas em “operações de paz, de assistência humanitária e de socorro em caso de desastres naturais”.

A reativação da IV Frota foi celebrada no último sábado (12), durante uma cerimônia militar realizada no estado da Flórida. O chefe de Operações Navais da Marinha dos EUA, almirante Gary Roughead, disse não entender a preocupação dos latino-americanos, e afirmou que “o objetivo dos EUA é promover uma parceria para proteger os mares da região”. Algumas outras palavras de Roughead durante a cerimônia, no entanto, foram menos amistosas: “O foco da IV Frota estará nas ações humanitárias, mas que ninguém se engane: ela estará pronta para qualquer tipo de ação, em qualquer lugar e a qualquer momento”, disse. 

Segundo o chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, James Starvidis, a IV Frota, ao contrário das outras frotas em atividade, não terá embarcações permanentemente presentes em sua região de atuação. Se for preciso, no entanto, num espaço de poucos dias os militares norte-americanos poderão reunir em águas latino-americanas e caribenhas uma força composta por 22 barcos (treze fragatas com mísseis, quatro cruzadores com mísseis, quatro destróieres com mísseis e um navio-hospital). 

Uma demonstração militar dessa magnitude já seria suficiente para justificar a preocupação dos governos latino-americanos, mas os EUA ainda forneceram outro elemento ao nomear para o comando da IV Frota um “cão de guerra”, o contra-almirante Joseph Kernan. Oriundo do grupo Seal, uma força de elite dos Fuzileiros Navais especializada em missões sigilosas, Kernan tem em seu currículo a participação no planejamento das invasões do Afeganistão e do Iraque. Durante a cerimônia, o contra-almirante manifestou seu sonho de voltar à Amazônia, onde já esteve como turista, para “treinar táticas de guerra na selva”. 

Apesar de a Marinha dos EUA afirmar que comunicou com antecedência a reativação da IV Frota a todas as Marinhas da região, a maioria dos governos da América Latina e do Caribe demonstrou surpresa com a notícia. O primeiro contato oficial do governo norte-americano com o governo brasileiro aconteceu somente na terça-feira (15), três dias após a cerimônia na Flórida, através de um telefonema da secretária de Estado dos EUA, Condoleeza Rice, ao ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim. 

Lula pede explicações 

Segundo fontes do Itamaraty, Condoleeza disse ao ministro brasileiro que o objetivo dos EUA é cooperar com os países da região numa postura de respeito ao direito internacional. A secretária de Estado norte-americana também teria prometido a Amorim que maiores detalhes das operações da IV Frota serão transmitidos ao embaixador do Brasil em Washington, Antônio Patriota, pelo subsecretário de Estado John Negroponte. 

Na véspera do telefonema de Condoleeza Rice a Celso Amorim, o presidente Lula havia instruído o Itamaraty a cobrar explicações do governo dos EUA sobre a IV Frota. Segundo o comandante da Marinha do Brasil, almirante Júlio de Moura Neto, Lula exigiu do governo Bush um contato formal com o governo brasileiro, além de maiores informações acerca da retomada dos exercícios militares nas águas latino-americanas. 

A decisão dos EUA não agradou a Lula, que já teria manifestado aos ministros da área militar o desejo de acelerar o processo de reaparelhamento das Forças Armadas brasileiras: “Isso é uma necessidade. A Marinha não está preparada para assumir suas atribuições previstas na Constituição”, resumiu Moura Neto.

 

Fonte: Ag. Carta Maior, Maurício Thuswohl, 18/7/2008.

 


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