Brasil teima em entregar suas riquezas
Por pressão do Ministério da Fazenda, o Brasil está vendendo mais uma importante e estratégica riqueza, para fazer superavit primário e pagar juros da dívida pública. Esta é a avaliação de Fernando Siqueira, diretor de comunicações da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), sobre a sétima rodada de leilões de petróleo e gás natural que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) promove desde o dia 17. Nos dois primeiros dias, foram arrecadados R$ 1,08 bilhão e concedidos 251 blocos de exploração, dentre os 1.134 mil ofertados. Tradicionalmente, a Petrobras fica com a esmagadora maioria dos blocos e, nesta sétima rodada, não é diferente. O problema é que o dinheiro que sai da estatal, não é reinvestido no Brasil. Vai para o mercado financeiro. Além disso, muitos dos blocos são arrematados pela Petrobras em parceria com empresas transnacionais, como a espanhola Repsol, a anglo-holandesa Shell e a estadunidense Devon. É sempre bom lembrar que 37% do capital total da Petrobras pertence ao governo. Segundo Siqueira, 40% foram vendidos em Wall Street, na bolsa de valores de Nova York (Estados Unidos); 20% estão nas mãos de empresas brasileiras que funcionam como testas-deferro de interesses estrangeiros; e outros 3% foram passados ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). ESTRATÉGICO A Lei 9478, aprovada em 1997 pelo governo Fernando Henrique Cardoso, concede a propriedade do petróleo para quem explorá-lo. Ou seja, se extraiu, pode exportar se quiser. E é isso que a Shell vem fazendo. Diariamente, ela envia para fora do país 40 mil barris, antes mesmo que o Brasil se torne auto-suficiente no insumo. O leilão das bacias de petróleo é ainda mais incompreensível quando se considera o valor estratégico que o petróleo vem ganhando no cenário mundial nos últimos anos. Em 1999, ano da primeira rodada de licitações, o barril custava 13 dólares. Até 2003, o preço mais do que dobrou, chegando perto dos 30 dólares. No ano passado o barril valia cerca de 45 dólares, já chegou perto dos 100, e agora passa dos 60 dólares. Segundo diversos especialistas, a produção mundial de petróleo, que hoje é de 80 milhões de barris/dia, atingirá seu pico em 2010. A demanda, atualmente, é de 79 milhões de barris diários e a tendência é que cresça junto com a economia mundial, principalmente graças à China, que deve triplicar seu consumo na próxima década. Como daqui a cinco anos a produção vai parar de aumentar, ao contrário do consumo, um terceiro choque mundial do petróleo é esperado e deve elevar o preço do barril a mais de 100 dólares, de modo a conter a demanda. Segundo o IXIS, banco de investimento do grupo francês Caisse d`Épargne, a situação ficará ainda pior. Pelas suas estimativas, em 2015 o barril pode custar 380 dólares. AUTO-SUFICIÊNCIA A expectativa é que, nesse período, o Brasil tenha alcançado a auto-suficiência. No entanto, essa vantagem pode durar muito pouco. De acordo com o planejamento estratégico da Petrobras, 522 mil barris de petróleo devem ser exportados, diariamente, entre 2006 e 2010.
Assim, o Brasil se
equipararia a alguns países membros da Organização dos Países Exportadores
de Petróleo (Opep), como o Catar e os Emirados Árabes. Prejudicado pela
invasão estadunidense, a exportação de petróleo do Iraque ficaria num
patamar inferior à do Brasil. E para isso nem foi necessário que o Reino
Unido e os Estados Unidos enviassem suas tropas. Fonte: BrasildeFato, Luís Brasilino da Redação, 20 a 26/10/2005. |