CARTA DE NATAL

 
 

Os 48 delegados e os 104 observadores, reunidos no 47º CONAD, realizado em Natal-RN, no período de 31 de outubro a 2 de novembro de 2003, avaliaram e atualizaram o Plano de Lutas, Eixos e Bandeiras do ANDES-SN, levando em consideração os elementos centrais da conjuntura, a saber: o levante dos trabalhadores e do povo boliviano contra um governo pró-imperialista e pró-ALCA, e o avanço acelerado, no Brasil, das reformas para ajustes estruturais de interesse do capital.
 

Após um seminário sobre as reformas trabalhista e sindical, que precedeu a abertura do evento, a análise de conjuntura deixou claro o entendimento da base do ANDES-SN sobre a caracterização do governo Lula como um governo que aprofunda os ajustes estruturais e adota medidas que ferem preceitos constitucionais e retiram direitos sociais.
 

A discussão do Plano de Lutas do sindicato reafirmou a justeza das reivindicações do Movimento Docente, que luta por uma pauta em que se destaca a defesa dos salários e da carreira, dos direitos sindicais, dos serviços públicos de qualidade, da seguridade social, da educação pública com garantia de dotação orçamentária adequada às necessidades dos trabalhadores e do povo. A avaliação destacou também a relevância social e política da inserção do ANDES-SN na luta unificada dos servidores públicos e o papel estratégico que desempenha no conjunto do movimento sindical e popular, em uma conjuntura onde a censura velada, a cooptação, a perda da autonomia e independência das organizações da classe avançam de maneira avassaladora. Organismos, a exemplo da CUT, não podem ser destruídos pelos interesses manifestos do capital e dos governantes, sem que ocorra um aprofundamento no combate a sua destruição. Este combate implica enfrentamento de políticas que, aplicadas pela direção da Central, levam ao reforço dos interesses das classes dominantes em detrimento das reivindicações dos trabalhadores. Uma tal atitude dissemina a divisão e leva à derrota. A ela responderemos com unidade fundamentada no embate pelo atendimento das reivindicações dos trabalhadores e na manutenção dos fundamentos da CUT: autonomia, independência e  democracia.
 

A Central Única dos Trabalhadores está chamada a desempenhar seu papel historicamente afirmado de defesa das reivindicações dos trabalhadores. Assim, decidimos não participar de fóruns do governo que, pretensamente tripartites, constroem falsos consensos entre trabalhadores, capital e governo. Se os fóruns tripartites, em governos anteriores, configuravam-se como desvantajosos, colocando patrões e governos contra os trabalhadores, hoje nos confrontamos com o agravante de que os organismos de luta estão sendo cooptados para desempenharem papel de coadjuvantes no aprofundamento de políticas destruidoras de direitos. 
 

Pretende-se, com isso, diluir a força dos sindicatos na defesa das reivindicações, em fóruns governamentais ou não-governamentais, facilitando ao capital a sua tarefa de manter seus lucros absurdos à custa de perdas de direitos duramente conquistados pelos trabalhadores. No campo da educação, os exemplos de cooptação proliferam, basta observarmos as estratégias para implementar o sistema de certificação de professores, a nomeação autoritária da comissão interministerial para a reforma universitária, a proposta verticalista do SINAES – Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior. Por outro lado, a mesa específica - MEC e  movimento sindical universitário - não avança na medida do necessário e do urgente. No concernente à Mesa Nacional de Negociação Permanente, após 10 meses do governo Lula, o orçamento da união e o PPA (Plano Plurianual  2004-2007) não traduziram em leis as reivindicações do Movimento Docente e dos servidores públicos em geral. Para o governo Lula, o urgente é manter os acordos com o FMI, que impõem, nas negociações, metas de superávit primário às custas da contração dos gastos sociais e do arrocho salarial dos servidores públicos e dos trabalhadores em geral, de forma a assegurar recursos da sociedade para os credores; políticas monetárias que reduzem consumo e investimentos, forçando políticas de exportação para gerar os dólares necessários à “solvência externa”; plena liberdade de movimentação do capital para que as transferências ao exterior não enfrentem obstáculos; privatização dos bancos estatais; privatização da previdência pública; privatização dos serviços públicos e da universidade pública. A ALCA, que o imperialismo ianque tenta impor com a anexação das nações latino-americanas, é o corolário dessa política.
 

Isso significa, na avaliação do 47º CONAD, que temos pela frente um período de grande embate e de muita mobilização e organização.  Significa a necessidade da intensificação da luta em prol da solidariedade internacional dos trabalhadores, e da aliança entre os povos da América Latina contra a pilhagem imperialista que trará, como conseqüência, a destruição das nações de nosso continente. Esse embate coloca como central a solidariedade ativa com a luta emancipadora do povo boliviano. Levará ao avanço nas iniciativas contra a ALCA para barrá-la; à defesa intransigente da não-assinatura pelo  governo Lula de um novo acordo e do rompimento com o FMI; à defesa firme da não-punição daqueles que se mantêm coerentes com a luta da classe trabalhadora; à exigência da libertação imediata de presos políticos que defendem a reforma agrária dos trabalhadores e ao avanço da conscientização das bases para barrar reformas reacionárias e exigir que as reivindicações sejam atendidas.
 

Às reformas sindical e trabalhista com as quais, ao lado de redução de direitos, o governo objetiva regular as formas de organização dos trabalhadores, responderemos com a luta em defesa dos direitos e conquistas, previstos na legislação, com a reafirmação da plena liberdade e autonomia sindical e com a unidade das organizações sindicais.
 

 A conjuntura aponta para um período que exigirá maior ousadia na luta em defesa da universidade e da educação pública, laica, gratuita, de qualidade socialmente referenciada, pela autonomia e liberdade sindical, contra o pagamento da divida externa, pelo rompimento das negociações para implementar a ALCA e pelo atendimento às reivindicações dos trabalhadores.

 

O ANDES-SN como sindicato classista, autônomo e de luta coloca-se à altura desse desafio.

 

Natal, 2 de novembro de 2003

 

Fonte: ANDES-SN.


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