Resistência será palavra de ordem no 22º Congresso do ANDES-SN
Durante cinco dias, os
docentes vão se reunir em Teresina (PI) para debater a conjuntura e
atualizar o Plano de Lutas da categoria. O tema do No plano internacional, a iminência da guerra contra o Iraque e as investidas neoliberais sobre a América Latina. Nacionalmente, o anúncio das primeiras medidas do governo Lula, desenhando um quadro de expectativas bastante negativo para o movimento sindical e docente. Estas são apenas algumas das questões que os docentes vão debater, entre os dias 8 e 13 de março, em Teresina (PI), durante o 22º Congresso do ANDES-SN, sob o tema "Transformação Social e Políticas de Educação, Ciência e Tecnologia". O objetivo é instrumentalizar a categoria para os embates que virão, especialmente na construção da resistência a um modelo político esgotado - que conduziu à destruição dos postos de trabalho, à devastação dos serviços públicos, ao questionamento de todos os direitos conquistados ao longo de décadas, à desnacionalização da economia e à destruição do patrimônio público. Para a Diretoria do ANDES-SN, nas atividades do 22º Congresso, os docentes "terão oportunidade de analisar com maior profundidade a conjuntura atual para melhor compreensão do impacto das políticas violentas praticadas pelos governos das "grandes potências" capitalistas sobre a vasta maioria da humanidade com o objetivo de criar estratégias de enfrentamento capazes de romper com o mito da inexorabilidade da lógica capitalista imposta ao mundo e potencializar a luta pela construção da sociedade socialista". Da mesma forma, o debate sobre as medidas anunciadas por Lula pretende posicionar os docentes frente ao antagonismo vivido pelo novo governo. "Trata-se de um governo cujo eixo é um partido construído na luta do movimento sindical e operário, das organizações de esquerda e dos movimentos populares: o PT, mas numa coligação burguesa de governo cujo programa está estruturado sobre as mesmas teses fundamentais que presidiram a administração FHC, tanto no que diz respeito à política econômica quanto no que se refere à concepção de políticas sociais descomprometidas com a perspectiva da "focalização nos mais pobres", ou seja, com o caráter universal do serviço público e dos direitos", diz a Diretoria do Sindicato Nacional na abertura do Caderno de Textos do Congresso. Temas polêmicos Além da conjuntura política nacional e internacional, os docentes presentes ao 22º Congresso se defrontarão com questões bastantes polêmicas. Uma delas é a possibilidade de se ter um CONAD por ano. Reunindo-se atualmente a cada semestre, o CONAD tem como atribuições fundamentais implementar o cumprimento das deliberações dos congressos, regulamentá-las, quando necessário, atualizar o plano de lutas aprovado no Congresso e exercer as funções de Conselho Fiscal. A Diretoria do ANDES-SN entende que o tempo aproximado de quatro meses entre um Congresso e os dois CONADs ordinários, por ano, está ficando escasso para que ela e as Seções Sindicais encaminhem e avaliem as deliberações dessas instâncias e, em decorrência, proponham atualizações das deliberações de uma dessas instâncias para a que se reunirá em seguida. Além do mais, as demandas emergenciais e do cotidiano sindical têm dificultado a integral implementação do plano de lutas e a conseqüente reapresentação de propostas não-executadas. De alguma maneira, e por razões diferentes, a tese para existência de apenas um CONAD é endossada pela proposta do SINDUFAP-SSind, convergindo para a posição da Diretoria do ANDES-SN. O Sindicato Nacional argumenta também que a retirada da exigência estatutária da organização de dois CONADs ordinários por ano não significa, em nenhum sentido, impedimento legal de fazê-lo pois, tal como continua disposto no Estatuto, a qualquer época que a conjuntura política indique pode haver a convocação extraordinária do CONAD, pela Diretoria ou por um quarto das Seções Sindicais. Outro tema polêmico será o da possibilidade de criação de seções sindicais multiinstitucionais, principalmente junto às IES particulares, diante do quadro de expansão do ensino superior privado. No atual contexto, a multiplicidade dos contratos de trabalho, no geral de caráter precário, em diferentes instituições, tornou-se corriqueira para os docentes trabalhadores das empresas educacionais. A Diretoria do ANDES-SN entende que é necessário investir politicamente no processo de organização desses docentes. Nesse sentido, propõe a constituição de seções sindicais multiinstitucionais, formadas por docentes do mesmo setor, com vínculo empregatício em uma ou mais IES de um mesmo estado. Junto com esta questão está a provável suspensão de sindicalizações via Secretaria Regional, preservando-se os atuais sindicalizados nesta modalidade. Segundo a Diretoria do Sindicato Nacional, a análise do quantitativo de sindicalizados nas doze Secretarias demonstrou que, apesar do real crescimento das instituições públicas estaduais e privadas, não houve ampliação no quadro de filiações via SR, "o que permite avaliar sua ineficácia como estratégia da política de expansão do Sindicato".
Tema também controverso a ser trabalhado
no 22º Congresso será a questão da política de cotas no ensino superior, que
engloba uma discussão racial brasileira. A posição do Sindicato Nacional é a
de manter a luta por uma educação pública de qualidade para todos,
sustentando, porém, a discussão pela reivindicação da implantação de
políticas de ação afirmativa que permitam estabelecer o equilíbrio de
oportunidades e representação, bem como consolidar o Estado Democrático.
Paralelamente, a APUFSC, em sua contribuição ao 22º Congresso, sinaliza,
entre outros pontos, para que o ANDES-SN denuncie a inexistência de
democracia racial no Brasil. "Isso significa que há desigualdade racial na
distribuição de renda e oportunidades e discriminação moral, estética,
intelectual e de posição social contra o negro e o índio em nossa
sociedade", diz o texto. Nesse sentido, o "ANDES-SN deve propor a criação de
mecanismos que aumentem a presença de negros e índios no alunado, na
docência e de servidores do Ensino Superior Público e Privado brasileiro,
sejam cotas porcentuais ou cotas numéricas ou metas de democratização racial
associada à pontuação por pertencimento a grupos étnicos historicamente
excluídos".
Fonte: ANDES-SN – 6/3/03. Delegados da ADUR-RJ no 22º Congresso do ANDES-SN Valdomiro Neves Lima, Luís Mauro Sampaio Magalhães, Ricardo Motta Miranda, Rômulo Garcia de Andrade, Luciana Amorim Nóbrega e Nidia Majerowicz. |
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