Educação
100%
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48%
AQUI
É
essa a desvantagem do Brasil em relação aos países da OCDE num ponto
crucial: o número
de professores especializados em suas áreas. Concursos recentes expõem o
problema
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Aula nos Estados Unidos (à esq.) e
professores no Brasil: eles estimulam o mérito – nós, não. |
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Poucos
fatores influenciam tanto o desempenho de um aluno em sala de aula quanto o
nível de seu professor. Por essa razão, é especialmente preocupante o que
mostra um levantamento recente feito com base no desempenho de 260 000
professores em concursos públicos de quatro das maiores redes de ensino do
país – Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo: 73% deles foram
reprovados em testes básicos das áreas em que pretendiam lecionar, entre
elas matemática, português e física. Quase todos já dão aula em escolas
públicas ou particulares. Boa parte dos 27% restantes, esses aprovados,
passou raspando. O resultado não é exatamente uma surpresa. Há pelo menos
três décadas o padrão dos candidatos vem caindo e não é raro que nem todas
as vagas sejam preenchidas no fim de um concurso desse tipo, como acontece
mais uma vez agora. O que chama atenção no caso atual é o número recorde de
notas vermelhas. O pior exemplo vem de Pernambuco. No exame para recrutar
professores de matemática, apenas 0,8% dos candidatos conseguiu responder a
questões elementares de geometria e álgebra – 34 dos 4 352 candidatos que se
inscreveram. Essa e as demais provas foram submetidas por VEJA a
especialistas, que chegaram a uma conclusão nada otimista. Resume o
professor de matemática João Meyer, da Universidade Estadual de Campinas:
"Quem não passa numa prova dessas não sabe o mínimo necessário para entrar
na sala de aula". Mas a maioria entra.
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O desastre
revelado pelo novo levantamento é reflexo de dois problemas já antigos
no Brasil. O primeiro diz respeito à qualidade dos cursos superiores de
formação de professores, dos quais apenas 1% atinge a nota máxima na
avaliação oficial. Salvo raras exceções, eles despejam nas escolas gente
sem o domínio básico das matérias que vai lecionar. Outra questão,
igualmente preocupante, se deve ao fato de a carreira de professor não
conseguir mais atrair os bons alunos. Uma pesquisa conduzida pela
consultoria McKinsey deu os números. Ela mostra que em países de mau
ensino os aspirantes a professor pertenciam, na escola, ao grupo dos 30%
com as piores notas – um contraste em relação aos países que aparecem no
topo dos rankings, onde os 10% melhores estudantes escolhem lecionar.
O típico
brasileiro que opta por ser professor de escola se enquadra justamente
no primeiro caso, conforme reforçam dados de uma pesquisa da Unesco. Ele
vem de família em que os pais não chegaram ao fim do ensino fundamental,
estudou em colégio público e procura, antes de tudo, um vestibular mais
fácil e um curso mais barato. Também está motivado pela possibilidade de
uma carreira estável no setor público. Há ainda um segundo tipo, que
entra numa faculdade de matemática ou física sonhando tornar-se
cientista, mas, na ausência de uma perspectiva concreta, termina na
licenciatura.
É gente como a pernambucana Alessandra Primo, |
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O casal Alessandra e Juranildo: como 73%
dos professores, eles fracassaram num concurso. |
de 28 anos.
Professora de química do estado, ela foi reprovada no mês passado ao
tentar um novo concurso: "Meu sonho era ser engenheira química, e não
professora". Está longe de ser a única. "No Brasil, muitas pessoas
acabam na carreira de professor por falta de opção melhor", diz a
especialista Maria Inês Fini. |
O matemático Nunes tirou nota 2 na prova:
ele já dá aula em cinco escolas estaduais. |
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Não surpreende o
fato de o número de professores especializados nas áreas em que lecionam
estar muito aquém do necessário. Segundo o Ministério da Educação,
apenas 48% dos professores brasileiros têm formação específica para a
disciplina que ensinam. Na física, o número é pior ainda: só 11% se
especializaram antes de entrar na sala de aula. A situação brasileira
soa absurda nos países em que a educação traz bons resultados – e a
carreira de professor figura entre as de maior prestígio, caso da Coréia
do Sul e da Finlândia. Para atraírem os melhores, esses países não
apenas estabeleceram um bom piso salarial como, sobretudo, conseguiram
criar um ambiente em que os professores têm o talento reconhecido e
estimulado. Lá, os piores ficam de fora da sala de aula – e precisam
enfrentar uma acirrada concorrência caso queiram mesmo lecionar. Eles
sabem que conseguir uma vaga lhes custa esforço. No Brasil, ao
contrário, mesmo aqueles que tiram notas baixas têm espaço na escola. O
matemático Emerson Nunes, de 31 anos, é um deles e resume o pensamento
geral: "Diante do que o estado oferece ao professor, somos cobrados
demais nos concursos. Eu me sinto perfeitamente apto a ensinar". Nunes
tirou 2 (numa escala de zero a 10) no último concurso para professores
de matemática em São Paulo. Ele dá aula hoje em cinco escolas estaduais,
em regime de contrato temporário. |
Não é um cenário
exatamente favorável para que os estudantes brasileiros melhorem – e o
ensino no país avance. |
Fonte: Rev. Veja, Camila Pereira, ed. 2063,
4/6/2008.
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