Publicação da
Associação dos Docentes da
UFRRJ - Seção
Sindical do Andes-SN
Filiada à CUT
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Nº 59
06 de abril de 2004
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ADUR
Informa - Publicação da Associação dos Docentes da
UFRuralRJ.
Conselho Editorial: Abner Chiquieri, Áurea
Echevarria, Canrobert Costa Neto, Luciana
Nóbrega, Luís
Mauro, Nídia Majerowicz, Ricardo Berbara, Rosane
de Oliveira e Valdomiro Neves.
Edição e editoração:
Regina Rocha
(Reg. 16269/MTb).
Reportagem
e redação:
Regina Rocha e
Ana Manuela Soares.
Fotos:
Lenin Pires.
As matérias não assinadas são de responsabilidade do Conselho
Editorial. |
GOVERNO APRESENTA
PROPOSTA DIFERENCIADA DE REAJUSTE SALARIAL |
ENTIDADES SINDICAIS REIVINDICAM
TRANSPARÊNCIA EM RELAÇÃO ÀS TABELAS UTILIZADAS PARA CÁLCULO DO
REAJUSTE DIFERENCIADO E EXIGEM PARIDADE ENTRE ATIVOS E INATIVOS.
NOVA REUNIÃO DA MESA NACIONAL DE NEGOCIAÇÃO PERMANENTE FOI MARCADA
PARA 6 DE ABRIL. |
Em 30/3, o governo federal
apresentou, na reunião da Mesa Nacional de Negociação Permanente
(MNNP), que reúne governo e entidades representativas dos
servidores, proposta de
reajuste diferenciado para os servidores da Seguridade Social,
Previdência, Instituições Federais de Ensino Superior (IFES),
Docentes e categorias dos Planos de Cargos e Carreiras (PCC). A
reunião foi conduzida pelo secretário de Recursos Humanos do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Sérgio Mendonça.
Como apresentado em reunião anterior, no mês de fevereiro, o
orçamento disponibilizado é de R$ 1,5 bilhão. Todavia, o governo
acabou decidindo distribuí-lo a 906 mil servidores. Cerca de 200
mil funcionários do Executivo – enquadrados pelo governo nas
faixas salariais mais altas – ficaram de fora. Os reajustes
anunciados por Mendonça variam de 10,79% a 29,38%. Segundo ele, a
proposta atinge aqueles que estão nos segmentos que acumularam as
maiores perdas no governo anterior e que recebem os menores
salários.
Os representantes dos servidores mostraram descontentamento com a
proposta. O ponto mais criticado foi a opção, a exemplo do governo
FHC, por diferenciar reajuste entre servidores na ativa, como
também em relação aos aposentados. Foi exigida a apresentação dos
dados detalhados e das tabelas, com eventuais ganhos das
categorias. O governo se comprometeu a encaminhar o material para
as entidades até 2 de abril.
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Segundo Mendonça, para chegar aos
números apresentados, o governo trabalhou com os vencimentos
básicos de cada categoria, vantagens pecuniárias e gratificações.
Estas últimas justificariam as diferenças de reajuste para ativos
e aposentados, segundo o Executivo. Em relação à paridade, segundo
ele, apenas os servidores das IFES registraram os mesmos índices
de reajustes, que variaram de 12% a 26%. Nas demais categorias, o
reajuste diferenciado para os aposentados é, em média, de 7,5%,
índice inferior até mesmo à inflação do ano passado, calculada em
9,56%.
Uma das propostas formuladas pelos servidores ao governo é de que
haja uma suplementação orçamentária para que o reajuste dos
aposentados seja o mesmo daqueles da ativa. A próxima reunião da
MNNP foi marcada para o dia 6 de abril.
Para os 393 mil servidores que fazem parte do PCC, os reajustes
irão variar de 28,77% a 11,87%. Quem tiver um salário em torno de
R$ 795 passará a ganhar, de acordo com a tabela, R$ 1.024. A
Seguridade Social será a categoria com os maiores aumentos, que
variam de 12,9% até 29,38%. O salário terá um acréscimo de R$ 244.
No INSS, o maior reajuste será de 22,36%, o que trará um ganho de
R$ 185.
Os trabalhadores da educação, IFES e professores, que juntos
chegam a 250 mil servidores, terão aumento que varia de 10,91% até
26,13%. O salário de um professor de nível superior, que, de
acordo com a tabela, ganha até R$ 4.115,72, irá para R$ 4.564,84.
GOVERNO DEVE RESGATAR COMPROMISSOS COM SERVIDORES
Para o vice-presidente do ANDES-SN, José Domingues de Godói Filho,
além de o governo ter que apresentar a metodologia de cálculo que
foi utilizada, deve repensar seus compromissos de campanha e
reorientar sua política em relação aos servidores. “A proposta
continua tratando diferentemente os servidores ativos, aposentados
e pensionistas; volta a tratar de forma também diferenciada os
professores de 2º grau e de 3º grau das IFES e propõe reajuste de
salário novamente sob a forma de gratificação produtivista. Não
aceitamos tratamento diferenciado - a correção de distorções entre
e intracarreiras é uma bandeira antiga do movimento dos servidores
públicos federais”, disse Domingues.
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CNESF
CONVOCA SERVIDORES PARA O DIA DE RESPOSTA |
Em face da reunião da MNNP, no dia 30
de março, e da repercussão de informações na mídia que não refletem
o posicionamento do conjunto das entidades integrantes deste fórum,
a Coordenação Nacional das Entidades Representativas do Serviço
Público Federal indica que o dia 14 de abril, aprovado na última
plenária como o dia de paralisação, seja transformado no DIA DE
RESPOSTA. A entidade orienta a realização de assembléias gerais e
paralisações nos estados, sinalizando a disposição dos servidores
para deflagração da greve nacional unificada por tempo
indeterminado, caso não haja atendimento à pauta de reivindicação.
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CALENDÁRIO
DE LUTAS
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14/4
- PARALISAÇÃO DE
24
HORAS COM ATOS PÚBLICOS NOS ESTADOS
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16
e
17/4
- PLENÁRIAS
SETORIAIS
DOS SPFS
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18/4
- PLENÁRIA
NACIONAL
DOS SPFS
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CRISE
GOVERNAMENTAL QUE PARALISOU O GOVERNO NÃO O DEMOVEU DA DECISÃO
POLÍTICA DE CONFRONTAR O FUNCIONALISMO FEDERAL, PARA SATISFAZER OS
INTERESSES DO CHAMADO MERCADO INTERNACIONAL |
No início do governo, a impressão que
se tinha era de que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, era
considerado muito poderoso (senão o Todo-poderoso) na tomada de
decisões do Planalto. Quando o governo editou a Medida Provisória no
163, de 23/1/2004, que alterou a Lei no 10.683/2003, parecia
afastar quaisquer dúvidas a esse respeito. Através daquela MP, a
Casa Civil, que já concentrava poderes para assistir o Presidente
da República em diferentes situações, ganhou uma nova atribuição:
conduzir as negociações com os servidores públicos federais, coisa
que cabia até então ao Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão (MPOG), encabeçado pelo economista Guido Mantega.
No entanto, tal qual um deus grego, Dirceu se viu atingido pelas
vicissitudes do poder. O chamado caso Waldomiro Diniz atropelou-o
em sua arrogância e, há mais de 60 dias, o homem forte de Lula é o
centro de um dos mais rumorosos casos de corrupção envolvendo o
primeiro escalão de um governo federal. Por esse motivo, Dirceu se
encolheu nos bastidores, muito embora se possa identificar os
estragos de suas garras: é possível que os reajustes aos servidores
recuperem a inflação do período, mas mesmo assim, consagram a
divisão no interior das diferentes categorias do funcionalismo e
destas em relação aos aposentados, conforme exigido pelos
compromissos assumidos com os órgãos financeiros internacionais.
A esta altura, é importante analisarmos quais as relações entre esta
crise e as negociações salariais envolvendo o funcionalismo público
federal e os representantes do governo Lula. Quais as
características das propostas governamentais, o que almeja a curto,
médio e longo prazo. Por outro lado, analisar a posição das
entidades representativas dos servidores e as principais iniciativas
para o próximo período.
MUDANÇAS
BUSCAVAM CENTRALIZAÇÃO
Em janeiro, o ANDES-SN afirmou que, com a edição da referida MP, “a
competência da SRH/MPOG – Secretaria de Recursos Humanos do MPOG
fica comprometida, e a Coordenação da Mesa Nacional de Negociação
Permanente (MNNP), pela SRH/MPOG, se torna decorativa e sem nenhum
poder de decisão”. As discussões sobre Plano de Carreira, ajustes
e reajustes salariais, entre outros, passaram a ser tratados dentro
do âmbito da Casa Civil, chefiada por Dirceu, onde prevalecia a
peculiar etiqueta de “o pau vai comer”. As questões incluídas em
nossa pauta de reivindicações já eram tratadas como questões
políticas, muito embora o governo procurasse debate-las de acordo
com interesses organizacionais, atendendo à uma lógica de
funcionamento interno do governo e de sua divisão interna do poder.
Com a mudança, se apontava para um reposicionamento da questão,
dentro de uma lógica onde a dimensão política passava a ser
articulada com as estratégias políticas de administração e controle
do governo sobre sua representação pública, visando responder às
situações de crises.
Diante das crescentes dificuldades políticas com os setores de
oposição no Congresso, seja enfrentando o episódio Waldomiro Diniz,
seja no encaminhamento das reformas, parece que a regra é a
manutenção da relação com o funcionalismo de acordo com uma lógica
de combate. Os estrategistas governamentais parecem apostar nesta
metodologia para reequilibrar o jogo político diante da chamada
opinião pública. O objetivo, em janeiro, seria imputar uma imagem
austera a um governo que já experimentava um desgaste progressivo,
por não enfrentar questões sociais sérias, como o desemprego e a
reforma agrária. Hoje, tal objetivo se mantém, para reabilitar o
crédito em um governo que passou a abrigar situações de corrupção.
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AG
VAI DISCUTIR INDICATIVO DE GREVE |
Em
assembléia realizada na terça-feira, dia 6/4, os
presentes aprovaram o ingresso de ação contra os descontos
dos aposentados para a Previdência. Foi marcada uma nova
AG, dia 14 de abril, quarta-feira,
tendo como pauta o Indicativo de Greve apontado pela
CNESF, para 18 de abril e a
participação da ADUR no ato nacional “Dia da
Resposta”, dia 14, à tarde no centro
do Rio.
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MESA
DE NEGOCIAÇÃO |
UMA
INSTÂNCIA DE AVANÇOS IRRISÓRIOS |
A Mesa Nacional de Negociação
Permanente foi instituída em janeiro de 2003, passando a funcionar
efetivamente em março daquele ano, sob a coordenação da Secretaria
de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão (MPOG). Em 23/7/2003, a SRHMPOG comunicou à Coordenação
Nacional dos Servidores Públicos Federais (CNESF) a suspensão das
atividades da MNNP.
Estas ficaram suspensas até 19/11/2003, quando uma nova reunião
envolveu representantes do MPOG e representantes de todas as
entidades que compõem a CNESF. Naquela oportunidade, a única
informação efetiva foi a de que os anistiados do Governo Collor
haviam sido reintegrados ao quadro de servidores ativos. Entre o
anúncio de convênios para empréstimos junto ao Banco do Brasil e a
instalação de mesas setoriais nos ministérios, a falta de
informações mais consistentes acabou por sintetizar a política do
governo ao longo de todo o ano. Em 19/2, já sob o efeito da MP 163,
como também do escândalo Waldomiro Diniz, o secretário de Recursos
Humanos do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, confirmou
que o governo terá apenas R$ 1,5 bilhão para recomposição salarial
em 2004.
Uma das formas de pagamento seria o próprio reajuste linear, no
índice conhecido de 2,67%. Outra possibilidade seria um “repeteco”
do ano passado, quando os servidores receberam reajuste de 1% e R$
59,87 fixos, a título de vantagem pecuniária. Finalmente, os
servidores poderiam optar pelo reajuste por um índice fixo (bem
menor que os 2,67%, segundo o Planejamento) somado a uma
gratificação de desempenho. Essa gratificação, porém, não seria
recebida por todos os servidores, mas apenas pelos que o governo
denominou por “900 mil menores salários”.
Na reunião do dia 18 de março, as bancadas governista e sindical não
chegaram a um acordo sobre o percentual de reajuste do funcionalismo
público. Os servidores reivindicavam reposição de 127%, relativos
às perdas acumuladas desde 1995, e incorporação imediata de 50,19%,
índice relativo ao período de 1998 a 2004. O governo não apresentou
proposta diferente da anterior.
Em 30 de março, finalmente, quando a crise envolvendo José Dirceu já
apresentava novos elementos, com o envolvimento de um procurador da
República ligado ao PSDB, e diante da eminência de uma greve, o
governo apresentou uma proposta que, se por um lado, avançava em
valores nominais de recomposição, por outro, dividia os servidores
diante da eminência de uma greve. De acordo com a proposta, o
orçamento de R$ 1,5 bilhão seria distribuído a 906 mil servidores,
em reajustes que variam de 10,79% a 29,38%. Cerca de 200 mil
funcionários do Executivo – enquadrados nas faixas salariais mais
altas – ficaram de fora. A justificativa do governo para o reajuste
diferenciado é diminuir as distorções salariais no quadro funcional
dos servidores. “De fato, estamos fazendo a opção pelo reajuste
diferenciado. Por melhorar os salários na forma de gratificações
para diminuirmos as distorções”, disse Sérgio Mendonça, Secretário
de Recursos Humanos do MPOG. A bancada sindical mostrou
descontentamento com a proposta, principalmente pelas diferenças de
reajuste entre servidores na ativa e aposentados, e exigiu que o
governo apresente os dados detalhados e as tabelas, com eventuais
ganhos das categorias, para fazer o cálculo de defasagem de cada
uma. O governo se comprometeu a encaminhar o material para as
entidades até sexta-feira, 2 de abril. A próxima reunião da MNNP foi
marcada para o dia 6 de abril.
MANOBRA TÁTICA EM MEIO À CRISE
A tática do governo vem sendo a de contornar a crise política, sem
se descuidar dos referenciais estratégicos e dos compromissos
assumidos com os investidores internacionais. Não se negociam
questões fundamentais. As Diretrizes de Planos de Carreira, por
exemplo, uma das promessas do governo, não foram concluídas. Da
mesma forma, a divulgação do índice de recomposição das perdas
salariais em 2003, ou a negociação acerca das distorções dos
últimos anos, foram questões desconversadas.
As negociações destas mesas tratavam de múltiplas questões.
Reposição e recomposição de salários; diretrizes para Planos de
Carreira, direito à negociação coletiva, direito à autonomia
sindical, contratação de servidores por concurso público,
reintegração de demitidos, questões ligadas à previdência (algumas
vilipendiadas pelo processo de reforma já concluso), entre outras,
de características funcionais e democráticas. O governo Lula, como
se vê, se mantém firme no propósito de ser uma reprodução, em papel
carbono de péssima qualidade, do governo anterior patrocinado pelo
sociólogo Fernando Henrique Cardoso.
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AGRADECIMENTO
A Diretoria
gostaria de agradecer, em nome de todos os filiados e das
Diretorias dos últimos treze anos, a dedicação, empenho e
eficiência com que a secretária Luzia
Aparecida da S. Lopes atuou neste
sindicato. Gostaríamos também de agradecer a participação
dos professores Irlete Braga Trindade, Laélio Nunes
de Lima, Silvia M. Melo Gonçalves e Abner Chiquieri,
integrantes da Comissão que selecionou a nova secretária
da ADUR.
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REFORMAS DE
LULA
APROFUNDAM
DESIGUALDADES |
A esperança dos trabalhadores no
governo Lula está-se esgotando. Não é para menos. Com pouco mais de
um ano de mandato, a equipe ministerial agendou quatro grandes
contra-reformas constitucionais, que atingem em cheio as categorias
profissionais, em especial, os servidores públicos. As reformas
previdenciária, universitária, trabalhista e sindical servirão para
que o governo prepare o Estado brasileiro para sua inserção na Área
de Livre Comércio das Américas (ALCA) e viabilize os acordos de
comércio e serviços da Organização Mundial do Comércio. Nesta
lógica, o governo Lula dá continuidade a uma política econômica cada
vez mais dependente do sistema financeiro internacional. As análises
feitas, neste período, pelo ANDES-SN e por setores do movimento
sindical classista alertam que o cumprimento dos acordos com o Fundo
Monetário Internacional e a meta de superávit primário de 4,5% do
PIB até 2005 são indícios claros de que o investimento em políticas
sociais do governo Lula não passará de promessas.
Segundo a professora da UFF, Kátia Lima, uma das convidadas para o
seminário Reforma Universitária: o que está em jogo?, realizado
durante o 23º Congresso do ANDES-SN, no início de março, em
Salvador, as políticas do governo atual não são apenas uma
continuidade dos dois mandatos do expresidente Fernando Henrique.
São, na verdade, o aprofundamento do processo de privatização do
Estado brasileiro.
A primeira reforma conduzida pelo governo foi a previdenciária.
Apesar de ter sido aprovada pelo Congresso Nacional no final do ano
passado, sob a forma da Emenda Constitucional 41, alguns
dispositivos ainda precisam ser regulamentados. Um deles é o regime
de previdência complementar para o funcionalismo. O estabelecimento
de um teto para a aposentadoria dos servidores equivalente ao dos
trabalhadores da iniciativa privada (R$ 2.400,00) foi uma das
medidas da reforma da previdência. Com o teto, os trabalhadores que
quiserem garantir a integralidade de seus proventos na aposentadoria
terão que recorrer aos fundos de pensão por categoria.
A privatização da previdência dos servidores através dos fundos de
pensão já estava aprovada desde dezembro de 1998, pela Emenda
Constitucional 20 (governo FHC). A sua implementação, no entanto,
dependia de uma legislação complementar. Em 1999, o governo FHC
tentou aprovála, através do Projeto de Lei Parlamentar 9/99. Os
movimentos do funcionalismo, na época com o apoio de partidos que
hoje compõem o governo e sua base no Congresso, conseguiram barrar
o PLP dos Fundos de Pensão. Antes mesmo de tomar posse, o governo
Lula sinalizou a retomada da tramitação do PLP 9/99, o que foi
rechaçado pelos movimentos, que ameaçaram realizar uma greve. Foi o
primeiro embate do funcionalismo com o novo mandato.
Ainda no primeiro semestre de 2003, o governo Lula encaminhou a PEC
40/03, a reforma da previdência, que reduzia direitos e incorporava
a regulamentação dos fundos. Os fundos de pensão poderiam ser
geridos pelos sindicatos de classe, fato que cooptou muitas
lideranças e grande parte da Central Única dos Trabalhadores, que
viu na proposta a possibilidade da gestão de um enorme volume de
recursos.
Com a reforma, parte da previdência dos servidores deixará de ser
paga por um regime de repartição, ou de solidariedade entre as
gerações de trabalhadores, para se transformar em um regime de
capitalização. Pelo regime dos fundos, cada servidor deverá aplicar
financeiramente parte de seus rendimentos na vida ativa, para
garantir, individualmente, a integralidade de seus proventos, no
futuro.
UNIVERSIDADE DO MERCADO
Diferentemente da reforma
previdenciária, a reforma do ensino superior posta na agenda
política do governo tem sido apresentada de forma fragmentada. Foi a
primeira reforma a ganhar as páginas dos jornais, no começo deste
ano, com a ameaça do ministro da Casa Civil, José Dirceu, de que o
‘pau’ iria ‘comer’. Ainda que o ministro é quem tenha levado as
primeiras bordoadas com o ‘escândalo Waldomiro Diniz’, a reforma
universitária está na ordem do dia e o governo vem adotando a mesma
sistemática da reforma anterior: pouco ou nenhum debate com a
sociedade.
Para convencer a opinião pública, o governo Lula, apoiado pela
grande imprensa, utiliza o mesmo discurso usado para aprovar a
reforma previdenciária: que os custos da universidade pública são
altos, que os que se beneficiam dela são os mais abastados e que a
comunidade universitária e os sindicatos que a defendem são
corporativistas.
A lógica da reforma universitária é a da privatização. Com projetos
como o Universidade para Todos, anunciado recentemente pelo ministro
da Educação, Tarso Genro, o governo ‘comprará’ vagas das
universidades privadas e promoverá uma verdadeira renúncia fiscal.
A proposta de ‘estatizar’ vagas consiste em comprar 25% da oferta
das instituições privadas e garantir que o setor privado recupere as
perdas de lucro acumuladas com as últimas crises econômicas. Isso,
sem contar que o índice de inadimplência do setor privado é de cerca
de 30%. Além de ter recursos garantidos, com a Universidade para
Todos, as empresas de ensino terão, ainda, incentivos fiscais,
através da isenção de impostos. Como chama a atenção a professora da
Faculdade de Educação da UFF, Lúcia Neves, a reforma universitária
já está em curso e “é um projeto burguês de universidade que tenta
se implantar no Brasil desde os anos 1980”.
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PARCEIROS
NA REFORMA |
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Foto:
Agência Brasil
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Não é por acaso que a Central Única dos
Trabalhadores não aprovou como uma das bandeiras para as
manifestações do próximo 1º de Maio a luta contra as contra-reformas
do governo. Depois de ter decidido, sem sucesso, apostar no ‘lobby’
junto a parlamentares para emendar a reforma da previdência, a CUT
resolveu participar do Fórum Nacional do Trabalho FNT). uma comissão
tripartite e que terminou seus trabalhos com propostas que
representam retrocessos contundentes para o sindicalismo classista,
autônomo e combativo. A greve é vista como anacrônica e com a
necessidade de uma regulamentação restritiva, ao ponto de
inviabilizá-la. Com a participação da Força Sindical e da CGT, é no
FNT que está sendo desenhada a reforma sindical que o governo deve
encaminhar para tramitação na Câmara, ainda este ano.
Um dos objetivos da reforma sindical é retirar os sindicatos da
condução das negociações entre empregadores e trabalhadores. Os
poderes das Centrais seriam ampliados e verticalizados e elas
poderiam assinar acordos coletivos nacionais em nome das categorias.
Com este dispositivo, as propostas de negociação, em uma greve, não
estariam mais submetidas às assembléias gerais de base. Num cenário
de uma greve nacional organizada pelo ANDES-SN e pelas seções
sindicais, por exemplo, a CUT poderia tomar a frente das negociações
e assinar um acordo em nome das entidades. Para ter exclusividade em
uma negociação, a entidade deverá ter uma base de sindicalizados
correspondente a 20% do número de trabalhadores da categoria que
representa. Além disto, as propostas já aprovadas pelo FNT incluem a
permissão para a criação de mais de um sindicato por base
territorial. No caso de mais de um sindicato pedir o registro para a
mesma base, as Centrais (de novo) decidem qual deles será
reconhecido.
Flexibilização – Assim como a reforma universitária, a
trabalhista já está em curso, embora não esteja sendo apresentada em
um único projeto. O coordenador da FASUBRA Sindical e integrante da
executiva nacional da CUT, Agnaldo Fernandes, lembra que, nos
últimos dois mandados de FHC, o funcionalismo público federal teve
56 direitos suprimidos do Regime Jurídico Único. “Anuênio,
progressão, concursos, uma série de direitos conquistados ao longo
do ano foram retirados”.
Fim da licença maternidade, divisão do 13º salário em parcelas a
serem pagas ao longo do ano, flexibilização das férias e outros
direitos previstos na CLT também serão alvos da reforma trabalhista.
Mas, por conta das eleições municipais deste ano, o governo e sua
base no Congresso decidiram adiar a reforma trabalhista, que deverá
ser apresentada apenas em 2004. |
DEFESA DA EDUCAÇÃO MOBILIZA DOCENTES |
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Entre
os dias 4 e 9 de março, realizou-se o 23º Congresso do ANDES-SN,
o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino
Superior. Os participantes destacaram a necessidade de barrar a
reforma universitária do Poder Executivo e de construir uma nova
proposta para enfrentar as reformas sindical e trabalhista, que
acreditam ser lesivas aos interesses dos trabalhadores. Eles
reconheceram que a educação pública enfrenta problemas graves
em todo o país, mas avaliaram que
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propostas do governo para o setor enfraquecem ainda mais o
setor, em prejuízo da sociedade. O evento reafirmou a
importância da unidade e da organização dos movimentos sociais
a fim de travarem uma luta bem-sucedida contra as reformas
neoliberais que o governo federal pretende implementar este ano.
Uma passeata, reunindo professores e integrantes do Movimento
dos Trabalhadores Sem Teto, ganhou as ruas de Salvador, no dia
5/3, sendo um testemunho da unidade que será perseguida pelo
movimento docente junto a outros movimentos, no país.
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Protesto - No início da tarde do
dia 5/3, professores universitários e integrantes do movimento
dos sem-teto se uniram numa marcha contra a reforma
universitária, em defesa da universidade pública, gratuita e de
boa qualidade e pela moradia para os sem-teto de todo o país.
Com quase mil pessoas, a passeata saiu do Palácio da Reitoria da
Universidade Federal da Bahia (UFBa) e seguiu pelo centro de
Salvador até a Praça da Piedade. Durante o
percurso, sindicalistas, |
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Foto:
Andes-SN
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políticos e representantes do movimento
popular distribuíram panfletos à população, para convencê-la dos
prejuízos que a reforma universitária traz para a educação
pública brasileira.
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23º
CONGRESSO
DO ANDES-SN |
ABERTURA REÚNE
14 ENTIDADES |
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Fotos:
Andes-SN
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No dia 4/3, representantes de
diferentes entidades discursaram para os congressistas docentes,
enfatizando a decepção com as políticas do governo federal e
deixaram clara a disposição de iniciar um novo período de luta
redobrada em defesa de direitos conquistados. O presidente do
ANDES-SN, Luiz Carlos Lucas, que abriu o evento, disse que a
presença dos movimentos sociais na abertura do evento não tem um
aspecto meramente simbólico para os docentes. “Temos consciência
de que hoje enfrentamos a destruição das políticas
universalizantes e a sua substituição pelas políticas
focalizadas, com a erradicação de direitos”.
Os representantes do movimento negro destacaram a questão das
cotas nas universidades. No discurso feito na abertura do
Congresso, a representante do Diretório Central dos Estudantes
(DCE) da UFBa, Ângela Guimarães, afirmou que a reforma
universitária passa, necessariamente, pela discussão da
democracia racial. “Noventa por cento da população de Salvador é
negra. No Brasil, essa percentagem é de 45%. Com isso, queremos
deixar claro que não somos objeto e sim sujeitos da ação
política”. Ela também alertou para o fato de o problema racial
na educação não se limitar à proposição das cotas. “Precisamos
repensar e introduzir novos currículos, com a introdução de
cursos específicos sobre a população negra e sobre a África”.
O diretor da FASUBRA Sindical, Vicente Neto, ressaltou que a
proposta do governo para as universidades “fere aspectos básicos
no que se refere à autonomia” e afirmou que a aplicação dos
recursos públicos deve passar pelo debate com a sociedade.
“Queremos ser atores principais da reforma universitária. É
preciso romper mitos contra a universidade brasileira, como o
que afirma que são os ricos que estudam nas universidades
públicas, sempre com a intenção de restringir os espaços
públicos”, afirmou. O vice-presidente da UNE, Rafael Moraes,
defendeu a ampliação do acesso à universidade e lembrou que, com
a reforma universitária, “podemos perder em um ano aquilo a que
resistimos em oito”.
O presidente do ANDES-SN observou, ao final, que o movimento
docente reconhece a luta pela criação de espaços de igualdade,
representada também pelo movimento negro, mas fez questão de
lembrar o contexto político em que se insere a discussão das
políticas afirmativas. Lucas afirmou ainda que o Sindicato
defende a educação pública como concessão do Estado, sem fins
lucrativos, e que o governo caminha no sentido contrário,
estimulando a privatização com a ausência de recursos para as
universidades públicas. Para ele, os movimentos sociais devem
organizar-se para barrar a reforma universitária do governo,
que, a exemplo da reforma da Previdência, pode ser aprovada sem
a discussão efetiva com a sociedade. “O ANDES-SN não vê problema
em uma interlocução na qual o Sindicato apresente suas
propostas, mas não quer participar de um processo que seja
entendido como um referendo à reforma do governo, semelhante ao
que acontece hoje com o Fórum Nacional do Trabalho, na discussão
da reforma trabalhista”, disse Lucas.
LUTA CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DO ENSINO E PELA AUTONOMIA
SINDICAL
Além das entidades representativas dos trabalhadores e dos
estudantes, os 377 delegados, 54 observadores e os dois
convidados reforçaram o entendimento de que a educação de
qualidade, pública, gratuita, laica e socialmente referenciada é
uma questão de soberania nacional. O congresso, que teve como
tema principal o “Superávit Fiscal e Déficit Social: Reforma da
Educação, Privatização e Arrocho Salarial”, debateu a elaboração
de propostas alternativas às do governo para o setor, com
definição de estratégias de luta que nortearão o Sindicato
Nacional dos Docentes, durante o ano de 2004. As lideranças
docentes denunciaram, mais uma vez, o caráter privatista das
reformas neoliberais do governo federal e afirmaram que os
setores representativos devem construir mecanismos de combate às
tentativas de mercantilização da educação, de retirada de
direitos trabalhistas e às pressões para enfraquecer os
sindicatos brasileiros. |
EDUCAÇÃO
É QUESTÃO DE SOBERANIA |
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PLENÁRIA DEFINE PLANOS DE LUTA |
“Fortalecer a luta pela construção de
uma sociedade socialista e radicalmente democrática”. Mais
uma vez, esse foi o primeiro eixo aprovado no Plano Geral de Lutas
na Plenária do Tema I (políticas setoriais), no quinto dia de
Congresso. Os docentes se posicionaram quanto à conjuntura
internacional e nacional, com destaque para as políticas públicas do
setor de Educação. Combate à ofensiva capitalista, aos organismos
financeiros internacionais e aos tratados de livre comércio foram
algumas das deliberações de ontem.
Os textos de resolução sobre a relação do ANDES-SN com a CUT foram
remetidos para a Plenária do Tema III (políticas sociais). Como
deliberação, os docentes aprovaram a defesa intransigente da
educação pública, democrática, laica, de qualidade e socialmente
referenciada, bem como a sua universalização em todos os níveis e
modalidades, como um dever do Estado. Em relação à pesquisa
universitária, os docentes criticaram a ingerência do mercado e
aprovaram a luta pelo estímulo a trabalhos não demandados pelo setor
privado, além da ampliação das verbas orçamentárias para os órgãos
de fomento.
Quanto à Carreira, foi aprovada a reivindicação da carreira única,
do Plano Nacional de Capacitação Docente, do piso e da malha
salarial propostos pelo Sindicato.
Como bandeiras de luta, foram aprovadas, entre outras, o Não à
autonomia do Banco Central! e Pela reestatização das empresas
privatizadas! Os professores decidiram exigir a retirada do governo
federal das discussões sobre a Área de Livre Comércio com os EUA,
bem como os demais países, e a realização de um plebiscito oficial
sobre a adesão do Brasil a esse acordo.
Quanto aos direitos sindicais e trabalhistas, foram aprovadas, entre
outras resoluções, a organização e a implementação de ações para a
revogação dos instrumentos (PLs, MPs e PECs) do governo que
violentem os direitos e conquistas dos trabalhadores.
Reforma Universitária
Foi aprovada, ainda, na plenária, a luta contra a implementação dos
princípios da reforma universitária contidos nos documentos do Grupo
Interministerial do governo federal. Os delegados também aprovaram,
entre muitos dos temas sobre a Educação, uma posição contrária à
política do MEC para a ampliação de vagas nas universidades por meio
da Educação a Distância. No mês de abril, deverá ser realizado um
dia nacional de defesa da universidade pública com atos nos estados.
Relação com a CUT
Na discussão sobre a relação do Sindicato com a CUT, os docentes
aprovaram que a entidade continuará filiada à Central Única dos
Trabalhadores, mas a entidade deve ter uma posição mais crítica e
analisará o comportamento dos dirigentes da Central em relação ao
governo Lula.
Reforma em perspectiva
Um ataque sem precedentes contra as universidades públicas
brasileiras imposto por organismos internacionais que visa a
transformar a Educação em mercadoria. Essa avaliação sobre a
proposta do governo de reforma para as universidades permeou o
discurso dos participantes do seminário que antecedeu a abertura do
23º Congresso.
No painel Proposta das Entidades para a Universidade Brasileira, a
presidente da Andifes, Wrana Panizzi, elencou as principais
proposiçõesda entidade para o fortalecimento e valorização da
universidade pública brasileira. Segundo Wrana, é preciso uma maior
autonomia, “a partir da compreensão de que a universidade pública é
instituição do Estado e não de governo”. Enfatizou também a
necessidade de um novo projeto acadêmico, com ênfase na formação
cidadã e de fortalecimento do ensino, da pesquisa e da extensão.
Para Wrana, a universidade deve responder à necessidade de
diminuição das desigualdades sociais.
O outro lado da reforma
Os debates prosseguiram com o tema Reforma Universitária: O que está
em jogo?, com os expositores João dos Reis Silva Junior (Unisa) ,
Kátia Lima (UFF) e Roberto Leher (UFRJ).
Na avaliação de João dos Reis, o governo Lula vem aprofundando o
projeto de desmonte do serviço público. Ironizou, ao afirmar que
Lula personificou a imagem do “povo”, o que favoreceu mudanças
passivas, aproximando-se da lógica do capital.
A profª Kátia Lima reforçou o aspecto privatizante da política do
governo Lula, a partir de um discurso marcado pela humanização do
capitalismo. Segundo Kátia, não se pode entender a reforma
universitária descolada da OMC e da ALCA.
Roberto Leher aprofundou a discussão, ao afirmar que não se trata de
uma reforma no sentido formal, relacionada a ganhos dos
trabalhadores. “Trata-se de uma contra-reforma. A maioria do povo
está sendo forçado a perder direitos em benefício dos dominantes,
que é congruente com os ditames do Banco Mundial e incongruente com
o acúmulo de discussões do PT”, afirmou.
Leher denuncia que a reforma universitária é uma imposição do Banco
Mundial, visando ao fim da gratuidade do ensino. “O ajuste
estrutural é a forma de ser do imperialismo hoje”, disse.
Segundo Leher, por meio de parceria entre o público e o privado, o
Estado dispõe-se a permitir que entes privados estabeleçam contratos
para oferecer serviços como se públicos fossem. Nesse contexto, a
educação transforma-se em um serviço a ser realizado no mercado e
deixa de ser um direito.
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CHAPAS
SE INSCREVEM ÀS ELEIÇÕES DO ANDES-SN
As eleições da Diretoria do
Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino
Superior para o Biênio 2004/2006 serão realizadas dias 18 e 19
de maio de 2004. A Secretaria Geral do ANDES-SN recebeu no dia
9/3 a solicitação de inscrição de 3 chapas. Pela ordem de
recebimento:
EDUCAÇÃO E REVOLUÇÃO – Candidato ao cargo de:
Presidente: Maria de Lourdes Sarmento (Universidade Estadual
da Paraíba); Secretário Geral: Patrícia Cristina P. de
Almeida – (Universidade de Brasília); Tesoureiro: Valdeci G.
Silva (Universidade Estadual da Paraíba. Representante e seu
suplente na Comissão Eleitoral Central: Antonio Eduardo
Oliveira e Maria Lúcia Pinto Leal
UMA NOVA ANDES É POSSÍVEL – PLURAL E DE LUTA -
Candidato ao cargo de: Presidente: Gil Vicente Reis de
Figueiredo (Universidade Federal de São Carlos); Secretário
Geral: Cássia Damiani (Universidade Federal do Ceará);
Tesoureiro: Denise Maria Maia – (Universidade Federal do
Paraná); Representante e seu suplente na Comissão Eleitoral
Central: José Roberto Braga Portella e Maria Adélia Pinhal de
Carlos
ANDES-AUÔNOMAEDEMOCRÁTICA - Candidato ao cargo
de:Presidente: Marina Barbosa Pinto (Universidade Federal
Fluminense); Secretário Geral: Márcio Antônio de Oliveira
(Universidade Federal de Juiz de Fora); Tesoureiro: Antônio de
Pádua Bosi – (Universidade Estadual do Oeste do Paraná);
Representante e seu suplente na Comissão Eleitoral Central:
José Raphael Bokeri e Rachel Nunes da Cunha.
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FORTALECER
A LUTA:
PRIMEIRO EIXO APROVADO |
A Assembléia Geral da ADUR-RJ, realizada em 17 de fevereiro, no Cine
Gustavo Dutra no P1 discutiu as teses e elegeu os delegados para o
Congresso e para a Plenária dos SPF’s de 16 de março, em Brasília.
Os delegados indicados foram: Rosane, Orlando, Luís Mauro, Fred,
Célia, Nidia e Ricardo Miranda. O primeiro tema discutido foi sobre
Direitos Humanos, Sindicais e Trabalhistas. Foi feita uma explanação
pelo GTPFS da ADUR-RJ sobre a Reforma Sindical e sobre os conflitos
recentes com a cúpula da CUT, sendo que este último tema foi
bastante debatido. Por maioria foi aprovada a proposta de que o
Congresso do ANDES enviasse uma discussão para a Base sobre o
“Indicativo de Desfiliação” da CUT e não sobre a “Relação do ANDES
com a CUT”. Foi aprovada também a proposta de que o Congresso
deliberasse pela suspensão da contribuição para a CUT, enquanto
esta questão estivesse sendo discutida no ANDES.
A seguir foi discutida e aprovada por unanimidade a sugestão de
inclusão de um item no texto de resolução n 5 do Congresso:
“Denunciar e lutar contra a PEC 29/03, de autoria de Vicentinho e
Maurício Rands, que corrompe a concepção de liberdade sindical,
verticaliza a estrutura sindical e fortalece a burocracia das
centrais em detrimento às deliberações de base”.
Foi sugerido o desenvolvimento de ações contra iniciativas ou
instrumentos legais que imponham restrição à ação sindical e à livre
organização dos trabalhadores. A assembléia aprovou o repúdio à
política de Formação Continuada e Certificação de Professores, em
fase de implementação pelo MEC, indicando a construção, em conjunto
com as entidades do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, uma
proposta de política global de formação de profissionais da
educação que reafirme que o locus da formação de professores é a
universidade. |
CARTA
ABERTA À COMUNIDADE DA
UFRuralRJ |
REFORMA
DO PROCESSO
POLÍTICO
DA RURAL |
De: Roberto José Moreira* |
“VOTE
EM REITOR
E VICE.
NÃO VOTE EM
CHAPA” |
|
“(...)AS INSCRIÇÕES DE
CHAPAS NAS CONSULTAS TÊM TRAZIDO À COMUNIDADE UM RESULTADO NÃO
ESPERADO. AO ELEGER O REITOR E VICE, A COMUNIDADE “ELEGE”
TAMBÉM OS DECANOS POR QUATRO ANOS. MESMO RECONHECENDO-SE QUE O
REITOR PODE SUBSTITUIR SEUS DECANOS A QUALQUER MOMENTO, NOSSA
HISTÓRIA RECENTE TEM DEMONSTRADO QUE ISTO RARAMENTE OCORRE
(...)”., |
|
Caros Professores, Servidores Técnicos
e Alunos Tomo a liberdade de dirigir-me a todos vocês para dividir
minhas preocupações quanto aos caminhos que nós mesmos no impusemos
desde as lutas de legitimação da eleição direta para a Reitoria. Os
procedimentos que instituímos, a meu ver, precisam de reforma.
Impõem excessiva rigidez acadêmico-administrativa à gestão
universitária.
A Reforma do Processo Político da Rural, que coloco para ponderação
na Comunidade nesta carta aberta está contida nestas duas frases:
“Vote em Reitor e Vice. Não vote em Chapa”.
Os processos eleitorais brasileiros para prefeitos, governadores e
presidentes colocam para avaliação do voto o candidato principal e o
vice. Não há “chapas” para a composição das secretarias das
prefeituras e dos governos de estados e, nem “chapas” para os
ministérios. Somente após a eleição é que o eleito compõe sua
equipe, segundo sua leitura das redes de alianças que o ajudaram a
se eleger no primeiro e no segundo turnos. Este poder instituído
pelo processo eleitoral responsabiliza e capacita o eleito a
constituir e reconstituir a sua equipe a qualquer momento do
mandato. Tal poder se origina no voto e nos compromissos assumidos
com a comunidade votante e expressos no programa eleitoral
A eleição por “chapa” na Rural não reflete este princípio. Nosso
processo eleitoral dá poder à “chapa” e não ao reitor eleito. Tais
procedimentos eleitorais impedem que o reitor eleito possa governar
com os “melhores” quadros disponíveis no conjunto da universidade e
que estes possam, com eficiência, colaborar na realização dos
compromissos assumidos com a comunidade da Rural e legitimado pela
maioria dos votos.
Tal proposta de reforma eleitoral visa: a) Criar espaços para
manifestação da diversidade de projetos para a Universidade,
estimulando candidaturas de reitores e vices que personifiquem tais
projetos; b) Dar maior flexibilidade ao Reitor e Vice-eleitos na
composição de seu decanato, após o processo eleitoral; e, c) Criar,
em longo prazo, espaço para emergência de lideranças universitárias
já provadas por processos eleitorais anteriores.
Abaixo apresento elementos para a compreensão desta proposta.
Nos idos dos anos 80 do século passado, ainda sobre o domínio dos
Governos Militares do Golpe de 1964, o processo de escolha de uma
lista sêxtupla de candidatos a Reitor era decidida pelo Colégio
Eleitoral superior – uma instância restrita e fechada composta pelo
Conselho Universitário e alguns representantes do CEPE – o que,
ainda hoje, acontece na decisão da lista tríplice que é enviada ao
ministro em exercício no MEC.
Naquela época parte significativa de nossa comunidade, representada
pela ADUR, ASUR-RJ e pelo DCE entendia que tal processo de escolha
devia ser democratizado pelo voto direto da comunidade universitária
na composição da lista sêxtupla. Politicamente reivindicava que a
Reitoria e o Conselho Universitário de então acatasse os que viessem
a ser eleitos diretamente pelos três segmentos de nossa comunidade.
Lembro que da lista sêxtupla que o Reitor enviava ao MEC, o Ministro
em exercício poderia indicar qualquer um de seus componentes,
significando, assim, que o Reitor escolhido representava o Ministro
e o Governo Federal e, no nosso Campus, apenas a Gestão anterior.
Por iniciativa do Movimento Docente, posteriormente ampliada pela
Asur e pelo Diretório Central, deu-se início, em 1984, a uma intensa
campanha eleitoral com vários candidatos a reitores inscritos.
Daquela eleição direta resultou uma lista sêxtupla de candidatos a
reitor – a Chapa Primavera - que foi encaminhada ao Reitor e ao
Conselho Universitário.
Do processo eleitoral indireto, restrito ao Conselho Universitário,
saiu a lista sêxtupla – que não continha nenhum dos seis nomes
legitimados pela comunidade votante da Rural. Da lista enviada pelo
Reitor ao Ministro da época foi escolhido o novo reitor (Gestão
1985- 1989 - Prof. Adriano).
No processo eleitoral da Rural de 1988 – já nos idos da “abertura
democrática” na política nacional e tendo já acorrido a primeira
eleição democrática dos governadores de estado e de estarmos em
pleno processo político que originou nossa Constituição de 1988 – os
três segmentos da comunidade universitária ruralina retomaram as
demandas de Eleição Direta e reivindicavam ainda compromissos com
uma nova Estatuinte (para renovação dos Estatutos da Rural). O
Reitor e o Conselho Universitário mantiveram a regra da eleição
restrita. Em resposta, a própria comunidade organizou uma Consulta
e elaborou os procedimentos daquela consulta, que se tornaram
regras para realização das consultas dos processos eleitorais desde
então.
Tento recompor tais regras de memória: a) Os três segmentos
(professores, servidores e alunos) teriam o mesmo peso eleitoral –
eleição paritária por segmento; b) As inscrições seriam por Chapa
(Reitor, Vice e decanos) com Programa que deveriam ser divulgados e
discutidos nos debates eleitorais promovidos pela Comissão
Eleitoral, esta composta pelos três segmentos; c) Em primeiro ou
segundo turnos a Chapa vencedora deveria receber metade mais um dos
votos ponderados dos três segmentos; e d) Com os nomes de seus
membros, a Chapa vencedora comporia e protocolaria, a lista dos seis
candidatos ao Reitor, que seria submetida, ainda em eleição
restrita, ao Colégio Eleitoral superior, quando era gerada a lista
sêxtupla a ser enviada ao MEC, para escolha do Ministro.
Os acordos tácitos – não escritos – da institucionalização destas
regras eram: a) O Colégio Eleitoral superior não receberia nenhuma
inscrição que não fosse oriunda da consulta promovida pela
Comunidade da Rural; b) Se algum membro da lista, que não o Reitor e
Vice, fosse escolhido pelo Ministro ele não aceitaria a indicação,
Tais acordos tácitos garantiriam a vontade e o compromisso do Reitor
com a comunidade da Rural.
Posteriormente por iniciativas do Governo Federal, a lista sêxtupla
foi substituída por lista tríplice. Foi exigido ainda que a lista
fosse composta por doutores ou professores-adjuntos, que, na
Consulta à Comunidade e no Colégio Eleitoral, o peso da categoria
docente correspondesse a 70% dos votos e foi permitida a reeleição.
Tais regras passaram a ser respeitadas pelo Colégio Eleitoral
restrito, mas a Comunidade manteve a consulta com peso paritário dos
três segmentos, mantendo também a eleição na Chapa.
Destas regras formais e tácitas foram eleitos, espectivamente, em
1988, 1994, 1996 e 2000 os professores Hugo (1989-1992), Mânlio
(1993-1996), José Antônio (1997-2000) e José Antônio (2001-2004).
No caso da Rural, a estratégia contida nas regras formal e tácita
garantiu, até aqui, que o desejo expresso nas Consultas promovidas
pelos três segmentos fosse acatado pelo Colégio Eleitoral e pelos
Ministros da Educação.
O que considero relevante ressaltar – e que coloco em discussão – é
que as inscrições de Chapas nas Consultas têm trazido à comunidade
um resultado não esperado. Ao eleger o Reitor e Vice, a comunidade
“elege” também os Decanos por quatro anos. Mesmo reconhecendo-se que
o Reitor pode substituir seus decanos a qualquer momento, nossa
história recente tem demonstrado que isto raramente ocorre, a
despeito de possíveis problemas que possam estar emperrando ações
nas esferas acadêmico-administrativas dos diferentes decanatos.
Certamente você mesmo poderá apontar outros problemas relativos ao
procedimento de eleição por “chapa”. Em assim sendo, conto com seu
apoio na divulgação e na discussão deste tema.
Finalizando, a Reforma do Processo Político da Rural, que coloco
para ponderação de docentes, servidores-técnicos e alunos, só poderá
ser legitimada pela própria Comunidade. Solicito que seja
considerada no momento em que a Comunidade vier a re-consolidar as
regras eleitorais para a próxima consulta, se possível antes de
começar a consolidação de novas candidaturas e das chapas
pré-eleitorais para o próximo momento eleitoral.
Esperando ser compreendido por todos e certo de estar exercendo meu
direito de manifestação,
Atenciosamente.
Roberto José Moreira |
* Aos que não me conhecem, sou Prof. djunto IV do
DDAS/ ICHS/UFRuralRJ desde 1982. Agrônomo, ESALQ,USP, 1968, Ms em
Ciências Agrárias, ESALQ,USP, 1973, DR em Economia, FCEA de Osasco,
SP, 1975, MA em Economia, e PHD em Economia, Cornell University, NY,
espectivamente em 1977 e 1978. |
REFORMA
PODE TRANSFORMAR EDUCAÇÃO EM MERCADO |
O governo quer implementar profundas
mudanças nas universidades públicas em 2004. Mudaram o chefe da
pasta da Educação e a equipe que cuidará do ensino superior. O novo
ministro, Tarso Genro, nomeou uma comissão para executar a reforma
universitária de forma diligente. Dizem que tudo será discutido.
Mas a tirar pela maneira como foi conduzida a reforma da
Previdência, não se pode esperar muito a não ser com mobilização.
Para os que consideraram exagero a opinião do ministro chefe da Casa
Civil, José Dirceu, de que “o pau vai comer” nas universidades
públicas, é só dar uma olhada no documento resultante do Grupo de
Trabalho Interministerial instituído por decreto, em outubro de
2003. O relatório trata de autonomia, financiamento, contratação de
docentes e servidores técnico-administrativos e leva à compreensão
de que a tal reforma vai reestruturar profundamente as
universidades públicas. E ela está em curso. Medidas provisórias que
a segmentam já põem em prática medidas como a avaliação. |
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Para Roberto Leher, que foi presidente do Andes-SN, a reforma
universitária poderá destruir a concepção de universidade da
Constituição 1988. |
As entidades representativas da comunidade estão em alerta máximo.
As seções sindicais do ANDES-SN vêm promovendo debates e preparando
a categoria para entender e enfrentar esse projeto. O debate
organizado pela ADUR no dia 12 de fevereiro, no auditório Hilton
Sales, foi um sucesso. O público, formado por docentes, estudantes e
funcionários, começou a dimensionar, perplexo, o que o governo
pretende, através das explicações de Roberto Leher, professor da
Faculdade de Educação da UFRJ e pesquisador do Laboratório de
Políticas Públicas, da UERJ, Célia Otranto, do GT de Políticas
Educacionais, da ADUR, Gelta Xavier, da regional Rio do ANDESSN,
que apresentaram os elementos em jogo nesta reforma, compondo a mesa
coordenada por Ana Maria Dantas, também do GTPE da ADUR.
Educação não é mercado
Para Leher, que foi presidente do ANDES-SN, a reforma universitária
poderá destruir a concepção de universidade da Constituição de 1988.
Ele identifica que, juntos, o Banco Mundial, o governo Lula e uma
ONG francesa, a ORUS, buscam difundir consenso sobre suas propostas
que têm como eixo central da redefinição profunda da universidade
brasileira a conversão da educação em um mercado. O objetivo das
políticas de ajuste estrutural do Banco Mundial e do FMI, sustenta
o docente, é viabilizar o pagamento dos juros e serviços da dívida.
E o país muda seus textos constitucionais para atender seus
acordos. Neste pacote, está o fim da gratuidade do ensino superior,
visto com entusiasmo pela área econômica. Isso ficou evidenciado no
documento do Ministério da Fazenda que aponta o ensino superior
gratuito como principal obstáculo à concretização da justiça social
no país, recomendando empréstimos aos alunos, para que estudem nas
escolas privadas.Tudo isso preconizado no documento do Grupo de
Trabalho Interministerial (GTI).
Universidade não é o locus do privilégio
Para Leher, quando Lula diz que o responsável para fazer a reforma
não deve ser alguém da área acadêmica está afrontando a autonomia
universitária. “Quando o governo afirma que não pode abrir mão de
interferir nas eleições, há um problema político muito grave em
curso. Diz respeito ao conceito de que a instituição é corporativa,
privilegiada, carcomida pelo tempo e incapaz de preocupações
sociais. Um espaço de privilégios. Essa visão é explicitada pelo
Ministério da Fazenda no documento que diz que a universidade
brasileira é responsáveis pelas injustiças sociais; atende a uma
elite, e que compensaria mais comprar vagas nas instituições
privadas. É verdade, as universidades são custosas. Mas dados do
próprio governo mostram que 75% dos estudantes têm renda familiar de
até R$2.400; 55% dos estudantes têm renda familiar de até R$600. É
essa a elite da qual o governo está falando? A elite são 2% ou 3%
que detêm 40% das riquezas do país. São dados do governo
(www.inep.gov.br) e do IBGE”.
“Vamos encontrar essa premissa – de que a universidade é locus de
privilégios – em formulações do Banco Central. Se a universidade é
o espaço das elites, que os ricos paguem seus privilégios. É
rigoroso o documento do GTI (Grupo de Trabalho Interministerial)
quando aponta que a saída é a gestão do mercado. O GTI defende que
não vale a pena investir dinheiro e opta pela compra de vagas na
iniciativa privada. O programa de parceria público-privado (PPP)
demonstra que o governo pensa que esfera privada é mais eficiente.
Isso dá o arcabouço da reforma. Esta está sendo encaminhada com a
lógica construída no governo FHC, das organizações sociais, que
prevê que organizações privadas possam estabelecer acordos com o
Estado, para explorar coisas que são de sua responsabilidade, como a
educação”, diz Leher, fornecendo um pequeno vislumbre do que isso
pode significar, como professores cedidos para empresas para
desenvolver projetos, contratações de pesquisadores pela CLT e por
aí vai.
Afronta à autonomia
Leher explica que a coluna vertebral passa por três categorias:
autonomia, financiamento e fundações de direito privado: “Para que
universidade saia da crise, é preciso que seja uma autarquia com
autonomia financeira, para que possa captar recursos no mercado.
Conceder autonomia não é o que está na constituição, mas sim o que é
preciso para que a universidade possa gerir seus recursos e ter uma
administração democrática. Na proposta, está autonomia financeira
para gerar recursos.”
Segundo ele, outros pontos também merecem destaque. Como a avaliação
que tem por base saber se a universidade está conseguindo contratos
produtivos e expansão de vagas. O governo anuncia mais 100 mil
vagas. Essa expansão se baseará em aumento do número de estudantes
por turma e aumento da carga horária dos docentes – questões que são
próprias da autonomia universitária. “A universidade é a casa da
liberdade”, lembrou Leher, destacando a importância do momento para
“que possamos dar materialidade às nossas utopias”.
Mobilização vence afrontas à autonomia
A integrante do GTPE, Célia Otranto, lembrou que elementos do GTI já
estão implementados, como a avaliação que foi regulamentada por
medida provisória em 15 de dezembro de 2003. Ela abordou pontos da
proposta de indicadores de desempenho do governo, como o pressuposto
de que a universidade precisa adequar-se às demandas, refletidos no
SINAPES – o sistema de avaliação. “E nada disso está sendo
discutido. A reforma universitária está sendo fechada à nossa
revelia. Ou fazemos alguma coisa agora, ou nunca mais. A
universidade vai ser implodida. Aquela que apresentar resultado
insatisfatório vai ter que celebrar o pacto de ajustamento de
conduta”.
Célia informou que as instituições foram obrigadas a constituir
comissões em 90 dias a contar da MP (de dezembro). A UFRRJ vai ter
que criar sua comissão de avaliação, portanto, até o dia 15 de março
de 2004. “Vocês sabiam disso? Dessa comissão devem constar todos os
segmentos da comunidade e a sociedade organizada. Já é lei, está na
MP. Esse pacto interfere diretamente na autonomia universitária”,
diz ela.
A professora defendeu recentemente tese de doutorado justamente
sobre a autonomia universitária: “A autonomia prevista no artigo 207
da constituição é diferente de autonomia financeira. Cada lei que
surge só serve para restringir a autonomia”, explica ela, afirmando
que só com a união de professores, estudantes e funcionários na luta
pela resistência, conseguiram-se conquistas: “A autonomia é uma
conquista de todos nós”.
Preparando a resistência
A representante do ANDES, Gelta Xavier, informou que Congresso
Nacional da Educação (de 2 a 5 de maio) quando se reúnem de cinco
mil pessoas aproximadamente, é um evento nacional em que se pode
definir “o que pensamos sobre a universidade pública, o que queremos
deixar apara a próxima geração”. Lembrou, ainda, que um congresso
estadual vai formular o Plano Estadual da Educação. “A reforma nos
atinge, aos professores e universitários. Autonomia para captação de
recursos significa ir para o balcão para pegar um dinheirinho. Na
minha visão, universidade não é balcão”. Para Gelta, estão
aprofundado a passos largos, todos os dias, a reforma, conforme se
vê na imprensa, com cobranças de taxas, expansão de instituições
privadas, e uma avaliação por ranking de qualidade, na ótica
produtivista. “A palavra qualidade está sendo usada na lógica
capitalista. A universidade é patrimônio da humanidade”. |
EM
RESPOSTA AO ADUR INFORMA,
EDIÇÃO
ESPECIAL |
No dia 06 de fevereiro de 2004, o ADUR
informa, edição especial, divulgou o artigo do professor Roberto
Leher intitulado: “Reforma Universitária do Governo Lula: retorno do
protagonismo do banco Mundial e das lutas antineoliberais”.
Um texto denso com denúncias importantes, procurando dar subsídios
ao movimento docente na luta contra a retirada de direitos e na
defesa da Universidade pública, gratuita e socialmente referenciada.
No entanto, estes não se constituem nos únicos efeitos desta ação.
No primeiro parágrafo, o autor relata que a reforma universitária do
governo Lula da Silva, se bem-sucedida, estraçalhará a concepção de
universidade da Constituição Federal de 1988 e o futuro dessas
instituições. Denuncia que tal projeto é constituído por um tripé
formado pelo Banco Mundial, pelo próprio governo Lula da Silva e por
uma ONG francesa, ORUS, dirigida por Edgar Morin.
A terceira base deste tripé, o ORUS, provocou, em um primeiro
momento, perplexidade e/ou indignação nos que hoje são adeptos ao
“Pensamento Complexo”, defendido e divulgado por Morin.
O Pensamento Complexo é um paradigma emergente que tenta religar o
que o pensamento disciplinar e compartimentado fragmentou. Ele
religa não apenas domínios separados do conhecimento, como também –
dialogicamente – conceitos antagônicos como ordem e desordem,
certeza e incerteza. Este novo “olhar” é adotado por diferentes
grupos, em instituições de ensino e de pesquisa, em programas de
pós-graduação renomados e em propostas de extensão de todo o mundo,
incluindo o Brasil.
Concordamos que um projeto de reforma universitária legítimo deve
ser discutido pela sociedade e entre os principais atores envolvidos
diretamente na questão, ou seja, alunos, professores e servidores
técnico-administrativos, representados através de suas respectivas
entidades de classes. Neste sentido, no entender do autor, o ORUS,
embasado no “Pensamento Complexo”, estaria na contramão de tais
processos.
O caráter da denúncia se aplica até o 10º parágrafo, quando o autor
destaca que as reflexões epistemológicas mereceriam um estudo à
parte, mas, inadequadamente, no que se refere a subsidiar o
movimento docente na luta contra o atual projeto de reforma
universitária, expõe um juízo de valor que merece destaque:
“Fracassado no centro do capitalismo, o “modelo da complexidade”
está sendo vendido como uma nova referência a ser seguida na
periferia, em especial no Brasil e na Venezuela, coincidentemente
países com grandes mercados educacionais”. E continua..., “Os
operadores do ORUS pensam que, com o seu projeto, os atrasados
latino-americanos poderão ser finalmente “civilizados” pelo que
Morin denomina pensamento complexo”.
Neste mesmo parágrafo, o autor rompe com as suas intenções iniciais,
não entrar nas reflexões epistemológicas, e prossegue: “Na reforma
Allègre, Morin liderou uma consulta por meio de formulários
padronizados distribuídos aos estudantes e professores dos Liceus
(cujos questionários são um esplêndido contra-exemplo de
cientificidade, tanto ao nível da coleta de informação, como do seu
impossível tratamento científico)”.
Nos parágrafos subseqüentes, constata-se que ORUS, Edgar Morin,
“Pensamento Complexo” e Banco Mundial pertencem a um único bloco,
cuja pretensão é adequar as nossas universidades às novas
tecnologias e ao mercado, na perspectiva de atender as principais
intenções do Banco Mundial. Será que não seria mais interessante,
neste espaço, separar estes campos?
Ao estabelecer tais aproximações, o autor discrimina os defensores
do “Pensamento Complexo” e invalida práticas, métodos e propostas
inseridas neste paradigma. Desta forma, o texto que tem como
propósito subsidiar o movimento docente na luta contra o atual
projeto de reforma universitária torna-se refratário.
O político e o acadêmico confundem-se e confrontam-se, promovendo o
que Pierre Bourdieu, citado no artigo, denominou de Teoria dos
Campos. Esta teoria define que, dentro de um mesmo campo social,
grupos buscam distinguir-se. Enquanto médicos, advogados,
empresários e políticos desenvolvem o gosto e o sentido da
distinção, pela escolha de suas roupas, carros, restaurantes e dos
lugares onde passarão as férias, os operários vestem-se de maneira
funcional, protegendo-se do frio e do calor, viajando dentro da
França, para conhecer melhor suas províncias (Bárbara Freitag,
Absolutamente Político, p. 45-46. Correio do Livro da UnB,
Brasília: editora da unb, ago/set 2002).
Há campos sociais que tendem a desenvolver-se em microcosmos, até
certo ponto homogêneos e autônomos, como o campo científico, o
jornalístico, o artístico, entre outros. Nesses campos,
desenvolvem-se linguagens e sistemas simbólicos específicos. Quem
domina pertence ao campo, quem os ignora ou rejeita, é excluído.
E assim, embora o artigo não traga nenhuma menção a grupos distintos
num mesmo campo social, fica latente a rejeição ao paradigma da
complexidade e, conseqüentemente, aos que a ele se enquadram.
Parece que os defensores do “Pensamento Complexo” pertencem ao outro
lado da luta, contra a universidade pública.
Defensores do “Pensamento Complexo” também fazem parte dos que estão
do mesmo lado da luta, na defesa da universidade pública, gratuita e
socialmente referenciada, que participe intensamente da
transformação da realidade, alicerçando bases intelectuais e
práticas para o desenvolvimento de melhores condições de vida para
a classe trabalhadora: defendendo a autonomia universitária, nos
termos do artigo 207 da Constituição Federal, garantindo
democraticamente as eleições diretas para dirigentes das
universidades e o financiamento integral destas por parte do
tesouro dos Estados.
FREITAG, Bárbara. Absolutamente Político, p. 45-46. Correio do Livro
da UnB, Brasília: editora da unb, ago/set 2002. Ana Cristina Souza
dos Santos – IE/DTPE (Professora da área de Educação em Química,
Coordenadora do LEPTRANS e da disciplina Epistemologia e Ciência.
Foi membro da Diretoria da ADUR em 95-97)
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TARSO VAI NEGOCIAR CONTRATAÇÃO DE 5
MIL PROFESSORES |
Segundo matéria do JC e-mail 2.497, de
02 de Abril de 2004, o MEC quer contratar 5 mil professores para
trabalhar nas Universidades federais do país. A proposta será
levada, nos próximos dias, pelo ministro Tarso Genro a seus dois
colegas responsáveis pelo caixa do governo federal, os ministros
Antônio Palocci (Fazenda) e Guido Mantega (Planejamento).
Tarso - que esteve ontem em SP para participar do Fórum Mundial da
Educação - não mencionou qual seria o impacto econômico da medida.
Mas segundo a Andifes, a folha de pagamento de 5 mil novos docentes
ficaria em torno de R$ 175 milhões. A entidade defende a
contratação de 8 mil docentes e 7 mil técnicos - o que seria
necessário para preencher vagas hoje ocupadas por funcionários
contratados em regime temporário, com salários mais baixos e sem
vínculo de dedicação exclusiva. Tarso considera que embora sua
proposta não atinja o número pedido, os 5 mil já seriam ‘um aporte
revolucionário.’ A idéia - se aceita - seria colocada em prática em
2005.
Entre 1995 e 2001, o governo Fernando Henrique Cardoso contratou
3.662 professores para as 55 Universidades federais, segundo a
Andifes. Juntas, elas têm cerca de 43 mil docentes. Fórum - A
prefeita Marta Suplicy, que recebeu à noite vaias na abertura do
Fórum Mundial de Educação, assinou a adesão à Associação
Internacional de Cidades Educadoras. ‘SP quer ser uma cidade
educadora. Nos esforçamos muito para isso.’ Para o ministro Tarso
Genro o fórum poderá contribuir para a discussão social. ‘Será um
momento de solidariedade e da globalização pela justiça social e
cidadania.’
Os professores da rede municipal aproveitaram a cerimônia para
reivindicar aumento de salário à prefeita. Uma das faixas procurava
sensibilizar os participantes estrangeiros do evento: ‘Marta: value
the professionals in education too’. O sindicato pede piso de três
salários mínimos para a categoria.
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JUSTIÇA
RESTABELECE REGISTRO SINDICAL DO
ANDES-SN
No início de fevereiro, o juiz
titular da 20ª Vara Federal do DF, Alexandre Vidigal de
Oliveira, concedeu liminar restabelecendo o registro sindical
do ANDES-SN até o julgamento do mérito do mandado de segurança
impetrado pela Assessoria Jurídica Nacional (AJN). |
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25
ANOS DA ADUR-RJ
Chamamos todos os associados para
participarem das comemorações, apresentado propostas de
atividades para a comemoração dos 25 anos de existência
de nossa associação. Para isto os interessados devem
procurar os Diretores Orlando e Tise.
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Opiniões
sobre as matérias do Adur Informa ...
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