ADUR Informa
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ANO
23 |
Nº 45 |
26 DE NOVEMBRO |
2002 |
Seção
Sindical do ANDES-SN Filiada
à CUT |
ADUR
Informa - É uma publicação da Associação dos Docentes da
UFRuralRJ.
Conselho Editorial: Abner Chiquieri, Áurea
Echevarria, Luciana Nóbrega,
Nídia Majerowicz e Ricardo Berbara.
Edição e editoração:
Regina Rocha
(Reg. 16269/MTb).
Fotos: Lenin Pires.
As matérias não assinadas são de responsabilidade do Conselho
Editorial. |
FHC deixará
governo com inflação em alta |
Quando foi lançado, em 1ºde julho de 1994, o Plano Real,
anunciado pelo então ministro da economia Fernando Henrique Cardoso,
se propunha, em primeiro lugar, a combater a inflação que, naquele
ano, chegou a atingir cerca de 50%, segundo IPC calculado pela FIPE.
Através de um conjunto de medidas, quase sempre ditadas e conduzidas
por representantes dos organismos financeiros internacionais, o
governo logrou êxito em controlar a inflação tendo como principal
artifício o aumento das taxas de juros, o que inibiu o consumo
interno, e a intervenção diária para procurar manter a paridade
entre o Real e o dólar. Criava-se a legitimidade para o futuro
governo de FHC e se abria o caminho para as reformas neoliberais.
Passaram-se
oito anos e a história agora é outra. FHC, após se reeleger em 1998,
não conseguiu eleger seu candidato e amigo, o ex-ministro José
Serra. Como conseqüência, a partir de janeiro, o Brasil terá, pela
primeira vez, um líder operário comandando o país a partir do
Palácio do Planalto. Luís Inácio Lula da Silva foi eleito em 27/10
com mais de 51 milhões de votos.
Reação em cadeia
O fato
é que, desde então, a população brasileira vem assistindo a uma
explosão de preços no País, como se experimentasse uma volta aos
tempos pré-FHC. Puxado pela disparada dos preços dos combustíveis, a
alta de preços atinge praticamente todos os itens básicos consumidos
pela esmagadora maioria da população: alimentação, vestuário,
transportes, tarifas públicas, entre outros. Parece mesmo uma
vingança depois da vitória da oposição, mas, justiça seja feita, se
é vingança ela começou antes da realização do segundo turno: a
poucos dias da eleição o Banco Central, sob o comando do sr. Armínio
Fraga, decidiu elevar a taxa de juros de 18% para 25%. Os gênios do
governo FHC esperavam, à luz do modelo econômico com o qual
afundaram o País, conter o consumo e evitar um agravamento da crise
econômica que se prenunciava com a alta incontrolável do dólar
frente ao Real. Foi pior a emenda que o soneto.
O
resultado aí está. Apesar da grande sova que levou nas urnas, o
governo Fernando Henrique se nega a sair em paz; nos deixará daqui
há algumas semanas com mais ruínas do que poderíamos supor ser capaz
de produzir neste final de mandato. Prepara um terreno pantanoso
para o futuro governo de Luís Inácio Lula da Silva, que desde já
desperta uma grande expectativa no conjunto da sociedade
brasileira.
Governo Lula gera grande expectativa
no país
Com
quase 52 milhões de votos, Luís Inácio Lula da Silva foi escolhido
presidente da República por 62% dos eleitores que escolheram um
candidato no segundo turno. Esta vitória não significa apenas uma
grande vitória pessoal de Lula, retirante nordestino, operário do
ABC paulista e uma das mais fantásticas lideranças populares da
América Latina. É uma vitória de seu partido político, o PT, e do
conjunto da sociedade que vinha, há algum tempo, questionando os
rumos nos quais o governo FHC vinha conduzindo o País. Ter um líder
operário como dirigente máximo do Brasil, com todo o seu histórico
de desigualdade e de hierarquização, é, como mínimo, a afirmação de
que o trabalho volta a assumir maior valor que a especulação
financeira.
Não por
acaso a chegada de Lula ao Planalto gera grande expectativa.
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Indicadores
apontam queda na produção da RURAL |
Qual a relação entre as bolsas PIBIC e a distribuição de
vagas docentes na Rural? Esta é a pergunta central de um estudo pelo
professor do Instituto de Agronomia, Ricardo Louro Berbara, e
enviado para publicação no jornal da ADUR-RJ. O docente constata a
queda do número de bolsas do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica, do CNPq, para a Rural e propõe reflexões sobre
os motivos deste fato.
Baseado na proposta do artigo, o
ADUR Informa procurou ouvir professoras e professores, alguns deles
dirigentes, para apurar opiniões sobre o assunto. Por outro lado,
resolvemos estender a reflexão considerando e procurando analisar,
ainda que preliminarmente, outros indicadores a partir dos
relatórios de gestão da Reitoria de 2000 e 2001. Os dados que
sistematizamos, somados às opiniões coletadas, permitem-nos supor
que os problemas que rondam o ensino de graduação da Rural são mais
complexos do que pensamos até agora. Eles, na verdade, apontam para
uma queda expressiva dos indicadores acadêmicos importantes de nossa
universidade e provavelmente projetam as descontinuidades que vêm
caracterizando a atividade universitária na Rural.
(Páginas 3, 4 e 5)
|
Página 2
Inflação acaba com a farra do Real |
Desemprego em alta, queda de rendimentos e, para agravar a
situação, inflação corroendo o salário. A festinha de despedida do
governo Fernando Henrique não faz sucesso entre os trabalhadores.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), órgão do
governo, o rendimento médio do trabalhador vai chegar ao fim de 2002
com perda estimada de 0,7% durante os oito anos do Real. Ao fim de
1994, o trabalhador ganhava R$ 664,93 e chegará ao fim de 2002
recebendo em média R$ 660 (valores de janeiro de 2000).
Segundo o IPEA, este ano o rendimento
real do trabalho deve cair 5%, anulando os ganhos com a
estabilização de preços. Até 1997, enquanto o salário ainda estava
subindo, o ganho acumulado desde 1994 era de 15,44%, mas foi caindo
ano a ano, a partir de 1998, até voltar ao patamar do primeiro ano
do Real.
Nitroglicerina pura
A inflação deve fechar o ano em dois
dígitos, segundo o IPEA que contabilizou, até outubro, o índice de
6,98%. A última vez que isso aconteceu foi em 1995, ano seguinte à
implantação do Real. Esta novidade se combina com outro dado
crítico: a taxa de desemprego está subindo. Passou de 6,8% em
janeiro para 7,5% em setembro. No início da década de 90, até 1994,
período de aceleração explosiva de preços, a taxa de desemprego
ficou entre 4,5% e 5%.
A expectativa, no entanto, é que os
próximos meses, pelas características de abrigarem as festas de
final e início de ano, período de férias com o aquecimento do
turismo interno, entre outras particularidades, ajudem nos índices
de desemprego. A posse do futuro governo também é uma novidade que
os chamados especialistas apontam como importante para a
possibilidade de reversão do quadro e a manutenção de uma agenda
positiva de desenvolvimento.
Pão, carnes e combustíveis apresentaram as maiores
contribuições
no IPCA
O Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) do mês de outubro apresentou variação
de 1,31% e ficou 0,59 ponto percentual acima do resultado anterior
(IPCA de setembro foi 0,72%). O crescimento da taxa de um mês para o
outro foi provocado, segundo o IPEA, pelo repasse da alta do dólar
sobre os preços ao consumidor. Os alimentos apresentaram aumento de
2,79%, acima do resultado de setembro que foi 1,96%. Em razão da
alta do trigo, o pão francês subiu 6,37%. Com o trigo, cresceram os
preços da farinha de trigo (15,28%), macarrão (5,62%) e biscoito
(2,62%). Da mesma forma, a alta da soja em grão ocasionou 10,46% de
aumento nos preços do óleo de soja durante o mês de outubro. Merecem
destaque, também, o arroz (9,03%), o frango (5,52%) e as carnes
(3,32%).
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A inflação está de volta? O que você espera do futuro governo? |
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Alan Kardech,
analista de sistemas, desde 1987 na UFRRJ.
“Estamos voltando a época de ter que pesquisar para poder comprar.
Minhas compras aumentaram cerca de 20%. Antes era por que o Lula
estava na frente e o dólar disparou. Lula foi eleito, o dólar
começou a cair, mas os preços continuaram a disparar. Está tudo
subindo. Gasolina, alimentação, energia elétrica. E o pior é que
quem mais sofre não somos nós, mas a população de baixíssima renda. |
É um momento em que o movimento sindical tem que
ter muito cuidado. Não podemos deixar de reivindicar nossos
direitos, como uma correção salarial; todavia, não podemos atropelar
aqueles que podem, pela primeira vez no país, tomar iniciativas
importantes em favor dos mais pobres”.
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Marli Alves de Faria, moradora de Seropédica,
trabalha na empresa Comercial, responsável pela limpeza do P1.
“Está aumentando tudo. Arroz, óleo,
açúcar, café, sabão em pó, gás, passagens de ônibus. Eu gastava
cerca de R$ 100,00 com a maioria das compras, o grosso. Agora
estou gastando quase tudo que ganho. |
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Não sei não, mas
acho que a tendência é piorar. Mas eu espero que o novo governo
baixe o preço das coisas, dê aumento para as pessoas. O salário não
está dando pra gente viver”. |
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Humberto Mendonça, professor de matemática,
leciona na Rural há 12 anos
“Estou sentindo o impacto do aumento
de preços. O combustível, por exemplo, aumentou muito e isso
repercute sobre os outros preços. Acaba que você tem que fazer
escolhas. Por exemplo, tem que reduzir o uso do automóvel para poder
manter os filhos na escola, cuidar da alimentação, ou seja,
priorizar as questões básicas. |
Eu votei no Lula e
espero, como muita gente, que ele venha para mudar esse quadro”. |
Luiz Carlos do Nascimento, professor de Propedêutica
Clínica do Instituto de Veterinária. Aposentado em junho de 1996.
“A inflação existe há algum tempo. O
governo sempre manipulou os dados. O que aparecia na mídia, fruto
dessa manipulação, é que a situação estava estável, mas não estava.
Para mim, a impressão que fica é que o governo estava segurando essa
explosão de preços por causa das eleições. Uma vez que havia alguma
esperança do candidato do governo ganhar, não havia por que mexer no
contexto econômico.
Como foi o candidato da |
|
oposição que ganhou, eles agora
abriram a mão. É bem verdade, porém, que eles perderam antes o
controle sobre o dólar. Está um absurdo. Onde já se viu um quilo de
feijão custar entre R$ 2,00 e R$ 3,00? Um produto que pode ser
produzido aqui.
Estou desacreditado da situação atual e temo pelas futuras
gerações.Contudo, enquanto há vida, há esperança. Temos que apostar
nessa energia positiva que está aí.
Se o governo que foi eleito quer
realmente fazer algo diferente, ele tem que começar pelo combate à
fome. Saco vazio não para em pé. Combatendo a desnutrição que existe
no país, já será possível sentir uma grande melhoria na situação da
maioria do povo. É preciso dar condições para que as pessoas possam
produzir no campo para si e abastecer as cidades.
É preciso propiciar condições dos
indivíduos saciarem a forme, terem assistência à saúde e acesso à
educação. No ambiente universitário, o governo precisará dar apoio
aos menos favorecidos, com bolsas de estágios, bolsa-alimentação e
incentivar as empresas para que os recém-formados sejam
contratados”. |
PIBIC
e Distribuição de Vagas
Docentes: Alguma Relação? |
Ricardo Berbara — Professor adjunto do
Departamento de Solos do Instituto de Agronomia. |
O sistema de ensino na Rural
aponta para contradições que a tensionam em escala crescente.
Observa-se que a carência de vagas de docentes não é generalizada,
mas concentrada em algumas unidades acadêmicas, percebe-se o impacto
nulo dos cursos de pós-graduação lato senso (pagos) na formação de
estudantes de graduação e, finalmente, as conseqüências altamente
positivas da presença de cursos de Pós-Graduação stricto senso,
(Mestrado (MSc) e Doutorado (Dr)) na formação de estudantes de
graduação. Entretanto, dentre os aspectos mais emblemáticos, é
constrangedor ver como a UFRRJ trata destes temas. Quando o faz,
lança mão de critérios defasados e não acadêmicos.
O estudo, ora apresentado,
sustenta-se parcialmente em levantamentos do NAAP/DPPG e DEPLAN, não
é amplo mas busca, a partir de um breve diagnóstico, indicar algumas
das razões deste fenômeno. Sugere-se ao longo do texto, algumas
críticas para a promoção do debate.
Desde a criação da UFRRJ, apostou-se
na qualificação acadêmica como força geradora de conhecimento
científico e tecnológico. Ao longo das décadas de 60 a 80, a criação
de cursos de MSc e Dr eram estimuladas pelas diversas agências de
fomento uma vez que as pós-graduações stricto senso eram
consideradas estratégicas para um desenvolvimento soberano e sólido
ao consolidar a produção científica e tecnológica.
Alguns departamentos se mobilizaram e
em um grande esforço organizaram cursos de Mestrado e Doutorado que
hoje são considerados de excelência. Eles movimentam recursos,
captam bolsas e garantem uma melhor formação técnica e científica do
profissional. Este impacto entretanto não se restringe às PGs.
Impactos significativos são percebidos também na graduação.
Se observarmos a Figura 1,
percebemos a distribuição de bolsas PIBIC por curso. Neles
observa-se cabalmente que, onde houve investimento em PG stricto
senso, os estudantes são mais beneficiados na captação de bolsas.
Curiosamente, mas não tanto, os departamentos que por um motivo ou
por outro não seguiram este caminho, ou os que optaram por cursos de
especialização pagos, o impacto sobre a formação do aluno de
graduação foi nulo.
Mas podemos aprender mais com a
distribuição de bolsas PIBIC ao longo da séria histórica de
1999-2002. Em unidades que conseguiram organizar cursos stricto
senso ao longo das décadas de 70-80, mantém altos níveis de captação
(Figuras 1, 2, 10). Departamentos com cursos de MSc ou Dr mais
recentes, apresentam alta captação de bolsas mas em níveis ainda
inferiores aos mais tradicionais (Figuras 3, 9).
Em alguns departamentos
registraram-se aumentos, no tempo, do numero de bolsa captadas
(Figuras 5 e 7) enquanto em outros, redução, como ocorrido de
maneira significativa no ICE, IZ e IF (Figuras 3, 6 e 8). Neste
último Instituto por exemplo, a despeito da crescente qualificação
de seus docentes, percebe-se uma redução na captação de bolsas
PIBIC. Este descompasso sugere a existência de problemas internos
não associados à qualificação e que merecem consideração. Em alguns
casos, é provável que considerável energia esteja sendo despendida,
não na articulação de grupos de pesquisa, em produção ou orientação,
mas em conflitos internos. O assunto merece análise cuidadosa e
tranqüila pelos colegas tanto do IF como do IZ.
No caso do ICE, por outro lado, é
evidente o impacto negativo da relação alunos/docentes (Tabela 1)
sobre a atividade acadêmica. Como critério geral, departamentos com
sobre-carga de lecionação, padecem. Seus professores são
qualificados, tem alta titulação mas simplesmente parece haver falta
de tempo para a condução de projetos ou orientação. Tal parece ser o
caso do DMAT entre outros. A Tabela 1 sugere ser este o caso uma vez
que a relação número de alunos/docentes dos Departamentos do ICE é
das maiores da UFRRJ.
Em outras unidades acadêmicas, como o
DLCS, percebe-se o inverso. Ocorre nesta unidade um claro esforço
pela projeção acadêmica com captação de bolsas continuamente
ascendente ao longo dos anos (Figura 5) apesar da também alta
relação aluno/docente (ainda que bem menor que a encontrada no DMAT
ou DPO por exemplo). A trajetória deste Departamento é a mais clara
evidência de que, quando existe projeto acadêmico qualificado e
pactuado por seus docentes, ocorre uma melhor qualificação, docente
e discente.
A Figura 7 indica para os cursos do
IT, o ainda baixo impacto da criação de cursos de graduação em áreas
de conhecimento sombreadas por cursos pré-existentes. Nada indica
que esta situação deva ser alterada. Parece-nos claro que, neste
caso, o significativo esforço do IT deveria estar focado na oferta
de cursos de PG stricto senso. Esta opção mereceria séria reflexão
por parte da área de Engenharia em especial.
Fenômeno curioso observa-se no
ICHS/DDAS. Este departamento é talvez o mais produtivo da Rural em
termos científicos e um dos mais qualificados quanto à titulação de
seus docentes. Entretanto, o impacto desta excelência sobre a
formação de graduandos é mínima (Figura 5). Seria interessante ao
DDAS refletir sobre mecanismos que o potencializem. É uma unidade
cujos custos de manutenção são elevados, em termos financeiros, e
que tem condições de ampliar seu leque de atuação no sentido de uma
maior integração PG-Graduação.
Uma última evidência merece registro.
Existe uma relação absoluta e radicalmente inversa entre cursos lato
senso PAGos, e a
captação de bolsas PIBIC. Ao observar-se o desempenho de
departamentos que há anos mobilizam esforços no sentido da promoção
destes cursos, percebe-se que nenhuma bolsa PIBIC é obtida. Esta
linha de atuação merece reflexão.
Finalmente, deve ser registrado as
sucessivas quedas na captação de bolsas PIBIC por parte desta
segunda administração do Prof. José Antônio. Este cenário poderia
ser debitado a cortes orçamentários mas apenas no biênio 2002/2003,
nunca no de 2001/2002.
Este diagnóstico preliminar sugere
que a política de distribuição de vagas de docentes por
departamentos deva seguir critérios que relacionem qualificação com
a relação alunos/docentes. Tomados isoladamente estes indicadores
não são suficientes uma vez que desprezaria o esforço que unidades
acadêmicas realizam em prol dos cursos de Mestrado e Doutorado
stricto senso. Alunos de PG são fonte de recursos orçamentários, de
bolsas e causam, conforme discutiu-se acima, enorme impacto na
formação de estudantes de graduação.
Ao concluir, deve-se registrar que
críticas como estas deveriam ser estimuladas pelos Decanatos
acadêmicos, em especial, o de Graduação (DEG) e o de Pesquisa e
Pós-Graduação (DPPG). Entretanto, esperar este esforço do já
sobrecarregado DEG, envolto em desafios vinculados à infra-estrutura
e matrícula, seria injusto. Mas não é incorreto responsabilizar o
DPPG
É necessário, por parte deste
Decanato, que ele se torne um defensor de políticas de alocação de
vagas qualificadas por indicadores acadêmicos e não políticos. Caso
queiramos retornar a Rural aos seus objetivos originais, qual seja a
de sermos uma Universidade que tem na pesquisa e PG um de seus
pilares mais sólidos, seria importante à Reitoria despender maior
atenção nesta, que é uma de suas responsabilidades.
O primeiro passo seria reconhecer as
distorções que existem na Rural. Algumas foram aqui propostas.
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Figura 1 |
Figura 2 |
Figura 3 |
Figura 4 |
Figura 5 |
Obs: Na Figura 5, a queda brusca
verificada no IB se deve à transferência do Departamen-to de
Parasitologia Animal para o Instituto de Veterinária. |
Figura 6 |
Figura 7 |
Figura 8 |
Figura 9 |
BOLSAS PIBIC DIMINUEM NA RURAL |
Nos últimos anos, a UFRRJ vem sofrendo uma perda significativa de
bolsas do Programa Institucional de Bolsas do CNPq (PIBIC). Segundo
dados levantados pelo professor Ricardo Louro Berbara, nos últimos
anos elas regrediram de 148 para 114. Esta redução pode ser
observada até mesmo em alguns cursos ou departamentos que têm
tradição em pesquisa, com pós-graduações stricto sensu bem avaliadas
pela CAPES. A bolsa de R$ 241,51 é distribuída, anualmente, por
quotas, às instituições. Elas são destinadas aos doutores e mestres
que, segundo os critérios do CNPq, possuem produtividade científica.
O aluno deve ter até 24 anos (segundo imposição normativa do CNPq,
agora contestada na justiça) e estar disposto a se envolver em
projetos de pesquisa por um período de até 20 h semanais.
O CNPq divulgou recentemente as quotas para o período de agosto de
2002 a setembro de 2003. A instituição havia anunciado uma redução
nas bolsas PIBIC, devido a cortes orçamentários, de modo que as
instituições sofreriam cortes entre 2 e 15%. As bolsas na Rural
foram reduzidas de 133 para 114, uma redução de 14,3%.
Por que as
atividades de pesquisa na graduação da Rural perderam estes
recursos? Quais os critérios que definiram um corte tão profundo nas
bolsas PIBIC da Rural?
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As explicações são variadas, de
acordo com as opiniões dos pesquisadores e de alguns dirigentes
institucionais. A chefe do Departamento de Ciências Ambientais do
Instituto de Florestas, professora Marlene Nobre, afirmou que
desconhece os dados. Ela explicou que entrou no cargo há alguns
meses e ainda está elaborando o plano departamental. Com ele espera
poder visualizar o departamento como um todo. Contudo, ela disse que
não foi procurada por nenhum pesquisador para debater o assunto;
tampouco percebeu alguma conseqüência visível na redução no número
de bolsas (naquele departamentoera de 4 e caiu para 1): “O que vejo,
diariamente, é uma quantidade considerável de estudantes
participando de pesquisas com orientadores docentes. Cada
pesquisador, porém, é que sabe a realidade de cada um deles”.
O vice-diretor do Instituto de
Tecnologia, Pedro Paulo de Oliveira Silva, professor do Departamento
de Tecnologia de Alimentos, é da opinião de que a perda de doutores,
com os processos de aposentadoria, influiu bastante na capacidade da
Rural de captar bolsas PIBIC. Seu Instituto experimentou um declínio
pouco acentuado destas bolsas, se comparado com outros, mas nem por
isso ele se julga satisfeito: “Vejo com maus olhos estes
acontecimentos. As bolsas PIBIC são um incentivo importante para
futuros pesquisadores”. Silva acredita, no entanto, que é preciso
apostar em políticas que minimizem os efeitos de situações como
essa. Para ele, as iniciativas do PARD (Programa de Apoio ao
Recém-Doutor) e o PAPED (Programa de Apoio à Pesquisa em Espaços
Delimitados), tomadas pela Reitoria, são importantes: “Acho que a
ampliação deste incentivo da Administração Superior seria ideal para
suprir esta insatisfação geral com o corte de bolsas”.
Marcelo Dib, chefe do Departamento de
Matemática, também acredita que o aumento de exigências por parte do
CNPq acabou combinando-se com a perda de doutores com o perfil
requerido por aquela instituição. Ele acredita que a instituição
perde em não poder destinar a alunos de graduação bolsas que
incentivem e propiciem a prática de pesquisa científica.
A professora Ana Cristina Santos, do
Departamento de Teoria e Planejamento de Ensino (DTPE) do Instituto
de Educação, também associou a diminuição da oferta de bolsas PIBIC
à perda de muitos doutores com as aposentadorias. Por outro lado,
segundo ela, em seu Instituto, a maioria dos docentes está em
capacitação, em regime de afastamento parcial. Ana Cristina lembrou
que os critérios de concessão de bolsas são estabelecidos pela
comissão coordenadora do PIBIC-CNPq/UFRRJ. Esta, em seu entender,
não privilegia os chamados grupos emergentes de pesquisa, onde estão
agrupados muitos dos recém-doutores. “O DTPE cresceu. Temos mais
quatro doutores; cresceu a titulação e não temos direito às bolsas.
É contraditório. Chega a ser desestimulante”. Para Cristina, como
muitos dos pedidos destes profissionais são negados, a procura pelos
estudantes não tem sido muito grande.
Regras não agradam
O edital nº 001, de 07/02/2002,
assinado pelo Decano de Pesquisa e Pós-Graduação, estabeleceu as
regras para o PIBIC deste ano. Entre outras questões, está lá
escrito que a quantidade de bolsas reservadas para os profissionais
que se doutoraram nos últimos dois anos – denominados como
recém-doutores – é de apenas 5%. Por isso mesmo o diretor do
Instituto de Zootecnia, Nelson Matos, opinou que “é preciso repensar
os critérios que possibilitem incentivar os grupos emergentes de
pesquisa e, neste contexto, o pesquisador jovem”. Ele explicou que
as áreas que tradicionalmente têm maior presença institucional na
pós-graduação acabam levando maior número de bolsas “Na área de
Ciências Agrárias, por exemplo, a disputa é grande. Os alunos que
tiverem os melhores Índices de Aproveitamento são agraciados; eles
estão justamente nestas áreas onde a pós-graduação é forte”.
Nelson afirmou ainda que os critérios
não são definidos claramente e que muitas coisas não são
consideradas na hora de defini-los: “Não dá para avaliar, por
exemplo, um projeto de pesquisa na área de Zootecnia, onde os
animais ficam no pasto e o tempo é uma variável importante, com os
experimentos realizados em animais, no laboratório”. Nelson diz que,
em alternativa ao PIBIC, tem buscado outras modalidades de bolsas
para estimular a graduação, como as da FAPERJ.
O aluno do curso de Veterinária e
coordenador do DCE, Olavo Brandão, questionou a exigência da idade
máxima de 24 anos para os alunos integrarem o programa. Ele lembrou
que há muitos casos em que os alunos chegam a universidade com uma
faixa etária maior porque enfrentaram processos de desigualdades
sociais que só lhes permitiram entrar na universidade mais tarde.
Ele defende a inter-relação entre pesquisa, ensino e extensão como
forma de “Formar homens e mulheres qualificados para os diferentes
setores profissionais da sociedade”. Ele acredita ainda que a
prática científica pode estimular o estudante a se dedicar à
pesquisa acadêmica, “diferente dos escolões, que formam hoje um
profissional que amanhã estará obsoleto”. Ele localiza no
contingenciamento de recursos orquestrado pelo governo um dos
principais motivos pela queda do número de bolsas.
Para o decano de Pesquisa e
Pós-Graduação, professor Jorge Jacob, a diminuição de bolsas PIBIC
pode ser explicada a partir da combinação de vários eventos,
começando pelos contingenciamentos de recursos operados
sistematicamente pelo governo FHC. Ele comentou o corte de 14,3% das
bolsas da Rural, afirmando que este foi um critério observado
linearmente na maioria das universidades. Levantamento realizado
pela ADUR-RJ, no entanto, contesta a linearidade desta medida.
Algumas Universidades do mesmo porte da Rural, fora do eixo
norte-nordeste-centro-oeste, não tiveram cortes tão profundos
Um outro problema na opinião do
decano é que a clientela de pesquisadores e possíveis orientandos
para serem admitidos pelo Programa do CNPq ainda está em formação.
Ele lembrou que muitos profissionais que atendiam os critérios de
produtividade daquela instituição buscaram a aposentadoria e que a
construção de um novo grupo de pesquisadores ainda está em curso;
“Por isso criamos os dois programas, o PARD e o PAPED”.
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Outros dados indicam que há forte
inibição
da atividade acadêmica na Rural |
É quase unânime a opinião de que a queda de bolsas PIBIC ocorre
por variadas questões. Contudo, pode não haver acordo acerca de qual
o principal aspecto a ser analisado: se a aposentadoria de doutores
mais experientes, se os critérios internos de seleção, etc.
Um argumento, pelo menos, não se pode
aceitar: o de que o governo federal cortou 14% das bolsas PIBIC da
Rural para racionalizar custos. Analisando os relatórios das
Universidades de Viçosa, UFSCar, Embrapa, entre outras, percebemos
que estas não sofreram impactos da mesma ordem que a Rural. Quais os
critérios que determinaram tamanho corte? Assim, resta proceder a
uma análise sobre os indicadores acadêmicos da Rural, constantes nos
relatórios de gestão de 2000 e 2001, na tentativa de estabelecer
outras reflexões.
Bolsas e assistências
Para começar, nos anos 2000 e 2001,
segundo estes relatórios, o PIBIC manteve o número de 133 bolsas,
enquanto outras modalidades, como FAPERJ, Pré-Iniciação Científica,
entre outras, apresentavam cifras bem menores. Outras modalidades de
bolsa mereceram nossa atenção: as bolsas de monitoria somaram 135 em
2001 e a chamada bolsa-trabalho, subiu de 539 em 2000 para 561 em
2001.
A bolsa-trabalho é utilizada em
muitas universidades para prover o aluno de condições de se
alimentar nos restaurantes disponíveis nos campi universitários,
entre outras possibilidades. Na maioria dos casos, não prevê uma
contrapartida do aluno em atividades acadêmicas, como a pesquisa,
mas em ações administrativas como recepção de bibliotecas, serviços
comunitários, etc.
Aposentadorias e número de doutores
Em cinco anos a UFRRJ sofreu uma
defasagem de 36 docentes. Todavia, se em 1997 os docentes com
doutorado perfaziam 28,7% do total, em 2001 eles eram 42,6%. Nos
primeiros três anos, 35 docentes obtiveram o doutorado. Se levarmos
em consideração o critério que exclui os recém-doutores, ainda assim
a porcentagem é maior do que há 5 anos. Neste caso, os doutores que
se enquadram nos critérios do edital nº 001, de 7/2/2002, são 35%.
Lembramos ainda que os mestres com produção científica, segundo o
mesmo edital, também podem concorrer às bolsas PIBIC.
Ano |
Número de professores |
Professores Doutores |
% de
doutores |
Professores em qualificação |
1997 |
571 |
164 |
28,7 |
102 |
1998 |
568 |
181 |
31,9 |
77 |
1999 |
554 |
199 |
35,9 |
87 |
2000 |
543 |
225 |
41,4 |
89 |
2001 |
535 |
228 |
42,6 |
92 |
NÚMERO DE PROFESSORES EFETIVOS X
SUBSTITUTOS
Considerando os dados disponíveis de 2000 e 2001 vemos que ambos
os contigentes diminuíram ... |
Docente |
2000 |
2001 |
Efetivo |
543 |
535 |
Substituto |
82 |
77 |
Ano |
Número de alunos |
Nº de professsores (efetivos) |
Indice de alunos por docente (efetivos) |
2000 |
5.965 |
543 |
11,0 |
2001 |
6.303 |
535 |
11,8 |
Se analisarmos estes dois anos, temos um
aumento de 5,7% de alunos para um decréscimo de 1,5% de
professores. Contudo, se analisarmos os dados disponíveis
que relacionam estas variáveis, que recuam ao ano de 1997 ... |
Ano |
Número de alunos |
Nº de professores (efetivo) |
Indice de alunos por docente (efetivo) |
1997
1998
1999 |
5.038
5.257
5.565 |
571
568
554 |
8,8
9,3
10,0 |
2000
2001 |
5.965
6.303 |
543
535 |
11,0
11,8 |
...percebemos que, na verdade, o aumento de alunos foi da ordem
de 25% para um recuo de 7% no número de docentes. Na
prática, é como se cada professor remanescente recebesse mais
três alunos para ensinar e orientar.
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Perdendo espaço
Temos diante de nós informações
preciosas que mereceriam cuidadosa análise. Acreditamos que
conseguimos demonstrar que na Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, segundo dados oficiais, vem diminuindo o número de docentes
envolvidos em atividades de pesquisas; que publicam trabalhos ou
estão envolvidos em atividades de extensão. Contraditoriamente,
enquanto cresce o número de alunos orientados na graduação e
pós-graduação, é decrescente o número de professores relacionados a
esta atividade, o que aponta para a sobrecarga de trabalho.
É significativo que a carga semanal
para as aulas de graduação tenha variado muito pouco, de 2000 para
2001, apesar do aumento significativo do número de alunos e o
decréscimo de professores. Na verdade, 3,5%, podem ser interpretado
como uma discrepância residual. O número de feriados em 2001, ou a
própria greve docente, pode explicar essa variação de 16 minutos a
menos, por semana, para cada professor.
No entanto, o que se pode concluir
nessa demonstração é que o ethos acadêmico está seriamente
ameaçado na Rural. Projetos de pesquisas que deixam de atrair
coordenadores e alunos são espaços que se perdem para a devida
prática acadêmica. Nas pesquisas aprovadas na instituição, por
exemplo, espaço que pode congregar um maior número de estudantes de
graduação, pela possibilidade de flexibilização das regras de
participação (índice de aproveitamento, por exemplo), esta redução é
da ordem de 48%.
Igualmente alarmante é a queda brusca
de participação e de coordenadores nos projetos de extensão, muitas
vezes um espaço para o aluno visualizar o compromisso social da
universidade e pôr em prática suas primeiras reflexões científicas.
Os professores da UFRRJ, por alguma
razão, publicaram menos, participaram menos de eventos técnicos e
científicos e prestaram um número bem mais reduzido de consultorias.
Desta forma, deixaram de participar das trocas efetivas
proporcionadas pelo meio científico, em uma relação dialética que
caracteriza a prática docente. Trocas estas que deixam de acontecer
no ambiente universitário, em prejuízo de uma das práticas que mais
caracterizam a universidade: a orientação à pesquisa e extensão.
Esta prática, junto a outras formas de estágio e socialização de
saberes profissionais, responsáveis por despertar a prática docente
e de pesquisa em inúmeras gerações de educadores-pesquisadores,
recuou de 2000 para 2001 em 75%!
Assim, no mínimo, podemos dizer que a
perda das bolsas do PIBIC/CNPq é um realidade coerente com o modelo
de universidade que está sendo, paulatinamente, introduzido na
Rural. Modelo que propicia afastamentos de práticas de socializações
que congregam pesquisa, extensão e ensino teórico. Aqueles que
administram há algum tempo os destinos de nossa universidade abrem
mão de um programa interno de valorização da qualidade acadêmica,
dificultam a integração entre graduação e pós-graduação e, desta
forma, afastam-se de um ensino democrático, democratizante,
libertador e de qualidade.
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O impacto sobre a atividade acadêmica |
Sempre consultando os relatórios de gestão da atual Reitoria,
procuramos dividir as atividades docentes em blocos. Com este
exercício podemos perceber a redução dos indicadores de 2000 para
2001, ora de forma significativa, ora de maneira menos
surpreendente. Foi possível perceber o crescimento de alguns, sem
que isso coloque em dúvida, para nós, a tendência de declínio destas
atividades.
Obs: Tabela somente na mídia impressa. |
Universidades podem ser transferidas
para o MC&T |
Os veículos da grande imprensa publicaram na semana passada que o
Ministério da Educação deve sofrer significativas modificações no
governo Lula. O desmembramento da pasta prevê uma redistribuição de
áreas: a Secretaria de Ensino Superior, que congrega 53
universidades federais, iria para o Ministério da Ciência e
Tecnologia. No MEC ficaria o ensino fundamental e médio. A proposta,
segundo o jornal O Globo de 16/11/2002, seria do ex-reitor da
Universidade de Brasília (UnB), Cristovam Buarque. Ele foi eleito
senador pelo Distrito Federal e está cotado para assumir um
Ministério do governo que tomará posse em 1º de janeiro.
Prós e contras
– Segundo aquele jornal, Buarque
estaria procurando costurar o apoio dos reitores no meio acadêmico.
No entanto, o presidente da Associação Nacional de Dirigentes de
Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Mozart Neves,
reitor da Universidade Federal de Pernambuco, apontou dois
problemas: a ruptura de convênios de instituições superiores para
melhorar o ensino fundamental e a briga pelo repasse dos recursos
destinados à educação. Mozart, porém, acredita que a favor da
proposta pesaria a possibilidade de melhorar a distribuição dos
recursos dos fundos setoriais para a manutenção de universidades.
O presidente do ANDES-SN, Luiz Carlos
Gonçalves Lucas, em artigo assinado em co-autoria com o
ex-presidente da entidade, professor Roberto Leher, afirma que essa
medida “coroaria o êxito das políticas neoliberais” (o artigo, na
íntegra, está publicado na pág. 8).
O Ministério do Esporte e Turismo
também deve ser desmembrado. A Secretaria Nacional dos Esportes
voltaria para o Ministério da Educação. O turismo (Embratur), seria
transferido ao Ministério da Indústria e Comércio.
Há a possibilidade ainda, segundo a
matéria, de o Ministério da Ciência e Tecnologia incorporar
institutos de pesquisa pulverizados em várias pastas. A Embrapa,
hoje vinculada ao Ministério da Agricultura; a Fundação Oswaldo Cruz
e o LaboratórioManguinhos, subordinados ao Ministério da Saúde,
entre outros.
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NOVA
TRAIÇÃO NA DESPEDIDA |
A publicação do decreto nº 4.432, de 18 /10/2002, com a
regulamentação da GID (Gratificação de Incentivo à Docência) foi
mais um episódio onde o governo federal descumpriu o que foi
acordado ao final da greve de 2002.
Uma análise da diretoria do ANDES-SN revela que foram incluídas
várias modificações que prejudicam a pontuação dos docentes. Estas
modificações foram introduzidas mesmo depois que uma minuta de
decreto foi elaborada em conjunto com as entidades sindicais da
Educação (Andes-SN, Sinasefe, entre outras) e o MEC, em maio de
2002.
Foram retirados pontos importantes como, por exemplo, o inciso II
que permitiria a obtenção de pontos para atividades de orientação e
de apoio técnico-pedagógico. Da mesma forma, o inciso VI garantiria
a cobertura de pontos para a diversidade de atividades exercidas
pelos docentes de 1º e 2º graus das IFES.
Por outro lado, o exercício da atividade sindical é cerceado no
artigo 3º do decreto nº 4.432. No artigo 4º, outro golpe. Na
negociação ficara previsto que o valor, por hora semanal, para os
professores investidos em cargo de direção ou função gratificada na
própria instituição e professores participantes de programas de
doutorado, mestrado ou especialização autorizados pela instituição,
valeriam 10 pontos. Para isso o docente deveria ter, no mínimo,
quatro horas semanais de aulas. O texto publicado altera para oito
pontos.
O
Andes-SN alerta que, ainda no artigo 4º, o MEC estabeleceu
parâmetros que podem aumentar o controle do governo federal sobre os
critérios de pontuação da GID. São mudanças sobre os métodos de
cálculo da pontuação, impondo obstáculos para que as próprias
instituições estabeleçam métodos mais adequados à sua realidade.
São impostas ainda, no artigo 6º, sérias restrições às
possibilidades de ampliação da pontuação máxima em cada instituição,
excluindo parte dos docentes do direito de perceber o valor integral
da pontuação.
Após o artigo 7º, em outro parágrafo único, impede-se que docentes,
em situações não previstas na lei, venham a ser considerados nos
regulamentos internos das IFES. Professores em licença médica, por
exemplo, estarão sem chances de receber sequer o valor
correspondente a sessenta por cento da gratificação.
Contra mais esse golpe, a diretoria do Andes-SN convoca a categoria
para a mobilização, debatendo o conteúdo da regulamentação da GID.
Fonte:
www.adufrj.org.br/documentos.htm
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Relatório
Financeiro
2002
(jan/ago) - somente na mídia impressa. |
Contra a Mercantilização da Educação |
Os educadores que ousaram construir um Plano Nacional de
Educação da Sociedade Brasileira, no decorrer de quatro
Congressos Nacionais de Educação (CONED), perplexos e
apreensivos, acompanham as notícias de que as universidades
poderão ser deslocadas para o Ministério da Ciência e
Tecnologia. Essa orientação colidiria com todos os
encaminhamentos contra a mercantilização do ensino produzidos ao
longo dos ásperos anos 90 e coroaria o êxito das políticas
neoliberais.
As resoluções dos CONED propugnam
que é preciso desencadear um esforço de racionalização que
reorganize de alto a baixo a intervenção do Estado na educação,
na produção científica, na criação artística e na capacitação
tecnológica, como exortara Florestan Fernandes no início da
década passada. O eixo dessa política seria um Sistema Nacional
de Educação (SNE) expresso no projeto de LDB da sociedade
brasileira, infelizmente derrotado no Congresso Nacional, que
aprovou a atual Lei 9394/96, na qual não está previsto um
sistema educacional articulado. A meta então em voga era a
desregulamentação-flexibilização, em benefício do setor privado.
Com o objetivo de fragmentar as
iniciativas educacionais, o Banco Mundial, por intermédio do
MEC, promoveu a descentralização da oferta da educação e, ao
mesmo tempo, criou um sistema centralizado de avaliação para
manter a educação sob seu controle. Quanto às universidades, o
propósito passou a ser a autonomia das mesmas como pensada por
Hayek: para operar livremente no mercado, sem amarras estatais,
para que, em curto prazo, as organizações pudessem
caminhar com os próprios pés (ver PEC-370/96).
Na realidade, o fracionamento da
educação já havia sido iniciado, de modo mais agudo, por Collor
de Mello, José Goldenberg e Eunice Durhan, que pretendiam
deslocar as universidades para a área de ciência e tecnologia.
Como Collor tentara suprimir o INEP, a CAPES e o próprio MCT,
foi possível unificar a reação ao desmonte e os referidos órgãos
foram mantidos, ainda que em estado vegetativo: enquanto as
fronteiras do país eram abertas, expondo as empresas nacionais à
competição externa, as verbas para a pesquisa foram
drasticamente reduzidas, chegando, em 1992, a um terço do valor
que tinham em 1987. No caso das universidades federais, a
mobilização assumiu grandes proporções, em particular por meio
da grande greve de 1991, assegurando a manutenção dessas
instituições no âmbito do MEC.
A reforma do Estado, empreendida
por FHC, buscou esquartejar os centros de pesquisa e as
universidades. Em suas primeiras versões, conforme noticiado à
época, a reforma administrativa pretendia reconfigurar
inteiramente o setor: o MCT seria transformado em Secretaria, a
FINEP e a pesquisa tecnológica iriam para o Ministério da
Indústria e Comércio. Novamente, a reação da comunidade impediu
essa reforma. Contudo, aos poucos, o MCT tem sido transformado
em coadjuvante do setor produtivo. Com as privatizações, muitos
centros de pesquisa e desenvolvimento das antigas estatais foram
extintos e, desse modo, o vazio poderia ser preenchido mediante
a ressignificação das universidades públicas como setor de
serviço, atendendo a demandas de “adequação” de pacotes
tecnológicos e de formação aligeirada de mão-de-obra.
Com efeito, a política de C&T,
valendo-se de um eufemismo, ciência, tecnologia e inovação
(CT&I), deslocara-se para pesquisa e desenvolvimento, sob
controle privado, no âmbito do Conselho Nacional de Ciência e
Tecnologia (CCT, Lei 9257/96). O objetivo seria melhorar a
competitividade do país. É nesse ambiente que a Finep promove o
Programa Educação para a Competitividade. Tudo é mercado, tudo é
lucro. Adiante, foram criados os Fundos Setoriais que induzem à
conversão das universidades em organizações sociais privadas. A
Greve Nacional das Instituições Federais de Ensino Superior de
2001 impôs um revés neste objetivo, porém logo um novo
estratagema foi construído: o Projeto de Lei de Inovação
Tecnológica (PL 7282/02), medida síntese de toda a política de
subordinação da C&T ao capital. Os gestores da área parecem
esquecer que, mesmo nos EUA, onde as universidades são dotadas
de orçamento na casa de bilhões de dólares, as inovações vindas
de forma mais ou menos direta das universidades não chegam a 10%
do total. No Brasil, com os Fundos e a nova lei, as
universidades seriam o paraíso dos empreiteiros acadêmicos. Mas
deixariam de ser universidades.
Em um esforço sério de
reorganização de alto a baixo da área, a mudança na política de
C&T teria de ser profunda. A área de Inovação deveria ter
tratamento específico, não podendo ser confundida, em nenhuma
hipótese, com a pesquisa universitária, visto que esta tem de
ser orientada por outros princípios e valores. Essas
instituições interagem, mas não se confundem. Por outro lado,
urge vincular as universidades de forma estreita ao ensino
básico e tecnológico. Esses níveis e modalidades, uma vez
articulados, poderiam produzir uma sinergia positiva, capaz de
servir de emolumento à revolução educacional necessária. Cumpre
registrar que, embora insuficientes, em virtude da desvinculação
de vários tributos e do fundo de estabilização, os montantes de
recursos constitucionalmente destinados nos âmbitos federal (18%
da receita advinda de impostos), estadual (25%) e municipal
(25%) para os órgãos responsáveis pela educação (LDB) (e
não para o MCT) não são negligenciáveis. Hoje, mais do que em
qualquer outra época, esta é uma política que tem de ser feita
pela esquerda, pois os conservadores, após a barbárie
neoliberal, não podem mais empunhar a bandeira da educação
pública. No entanto, seria um grave erro subestimá-los.
As notícias de que as
universidades poderiam ser deslocadas para a órbita produtiva
comprovam a debilidade da crença de que o neoliberalismo é uma
página virada da história. Seria inconcebível que o governo de
Lula da Silva tentasse implementar uma medida dessa envergadura
sem promover um debate democrático com a sociedade.
É preciso ousadia para não
sucumbir às ideologias dominantes. E os educadores brasileiros,
ao construírem um PNE unitário, capaz de moldar um sistema
nacional de educação democrático e com qualidade social,
comprovaram que têm disposição de prosseguir na luta pela causa
da educação pública! |
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