ADUR Informa
|
ANO
23 |
Nº 43 |
3 DE
SETEMBRO |
2002 |
Seção
Sindical do ANDES-SN Filiada
à CUT |
ADUR
Informa - É uma publicação da Associação dos Docentes da
UFRuralRJ.
Conselho Editorial: Abner Chiquieri, Áurea
Echevarria, Luciana Nóbrega,
Nídia Majerowicz e Ricardo Berbara.
Edição e editoração:
Regina Rocha
(Reg. 16269/MTb).
As matérias não assinadas são de responsabilidade do Conselho
Editorial. |
FALTA PROFESSOR
NA RURAL? |
Este foi o questionamento formulado pelo
professor Laélio Nunes, para orientar o debate entre a Reitoria, as
entidades representativas da comunidade e chefes de departamentos da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, na tarde de 29/7. Com
a presença do reitor José Antonio Veiga e o decano de Ensino e
Graduação, professor Ildemar Ferreira, representantes da ADUR-RJ, do
DCE e dos departamentos de Matemática e de Letras e Ciências Sociais
debateram os problemas que tem levado a turmas sem professores,
número de excessivo de alunos por turma, reprovação em massa, entre
outros elementos que têm apontado para um horizonte bastante
nebuloso para o ensino de graduação na Rural.
A
pergunta foi respondida positivamente. Todavia, há diferentes
interpretações para as causas de tal fenômeno e, principalmente,
diferentes visões sobre a extensão e gravidade do problema. A
Reitoria insiste em atribuir responsabilidade por tais fatos a este
ou àquele departamento e considera, portanto, como um problema
localizado. Os representantes do DCE, da ADUR-RJ e dos departamentos
citados acreditam que é reflexo do modelo adotado pela administração
central que, combinado com a política educacional do Ministério da
Educação, pode levar a Rural a assumir um perfil de “escolão”,
conforme modelo preconizado pelo Banco Mundial para a América Latina
desde 1990.
O
Adur Informa também procurou ouvir o que pensam os alunos,
os principais atingidos neste contexto. Uma minuciosa cobertura do
tema é o conteúdo desta edição especial.
|
Em
2001, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro tinha 535
professores em seu quadro efetivo. Destes, 228 eram doutores; 212
eram mestres; 64 tinham especialização e 31 eram graduados. Estavam
em processo de doutoramento 92 docentes.
Neste conjunto, os envolvidos em
projetos somavam 240 docentes, ou seja, 40% deste efetivo; 221
desenvolviam atividades de extensão, 40% do pessoal; 396 docentes
estavam envolvidos em publicações (70%) e 263 tiveram trabalhos seus
apresentados em Congressos (relatório de gestão 2001).
A estes profissionais é que vêm sendo
pedido mais sacrifícios e que encontrem tempo para dar conseqüência
a uma política de ampliação de vagas equivocada, que não leva em
conta todo esse potencial, ou seja, a Rural como Universidade
calcada na qualidade e embasada no trinômio
Ensino-Pesquisa-Extensão.
É política equivocada por ser
conduzida sem qualquer projeto acadêmico e sem qualquer planejamento
de demanda de infraestrutura e de pessoal docente; equivocada por
agredir a carreira docente ao se sustentar na expansão baseada em
contratos precários (substitutos) e professores não remunerados
(voluntários). Tal qual uma cidade grande que se expande sem
planejamento, a Rural vem padecendo, em seu cotidiano, devido a este
inchaço.
Importante lembrar que na campanha da
reeleição de FHC, em 1998, o então ministro Paulo Renato declarou
que, se reconduzido ao cargo, dobraria o número de vagas nas IFES
sem aumentar o quadro docente.
O que vem sendo pedido a este corpo docente é, na verdade, que abra
mão de uma concepção de Universidade que, além de estar preconizada
na Constituição Federal, é modelo adotado em todas as nações
desenvolvidas do mundo. Tudo sem intenções reveladas, sem debate
democrático. Visões estreitas em um estado tão importante, em um
país tão grande. São igualmente grandes os desafios desse Brasil em
uma época de derrocada dos mitos neoliberais e de redefinições nos
paradigmas entre as nações. A maioria da comunidade já percebeu.
Falta aos membros da administração superior porem os pés e a cabeça
na realidade. |
Soberania
sim,
ALCA
não! |
Segue
até dia 7 de setembro o plebiscito nacional onde se pretende saber
se os brasileiros desejam que o Brasil faça parte da Área de Livre
Comércio das Américas - a ALCA. Trata-se de um bloco
econômico, liderado pelos Estados Unidos. Países em
desenvolvimento, como o Brasil, entram como parte subordinada,
submetida à lógica norte-americana. O plebiscito pergunta
ainda se o governo deve entregar a Base de Alcântara ao controle
militar dos EUA.
O comitê da
Campanha contra a ALCA, seção Seropédica - Paracambi, do qual a
ADUR-RJ participa, está disponibilizando urnas no P1 e no Bandejão
da Rural. Também há urnas itinerantes nos institutos.
Em Seropédica há uma urna na praça principal da cidade.
Todos os brasileiros maiores de 16 anos estão convocados.
Participe! |
Páginas 2 e 3
CRISE
NA RURAL
PODE ATINGIR
QUALIDADE DE ENSINO |
O
crescimento desordenado do número de vagas, combinado com a
significativa redução do número de professores nos últimos seis
anos, vem constituindo um processo que está prejudicando de forma
dramática o ensino de graduação na Rural. O problema é falta de
professores e já há alguns semestres vem dificultando a oferta de
várias disciplinas, atrasando a conclusão dos cursos para vários
alunos e, em outros casos, estimulando evasão e até reprovação.
Diante do problema, é comum a ocorrência de salas de aulas com cerca
de 100 alunos, ameaçando, segundo os parâmetros do próprio
Ministério da Educação, a qualidade do ensino.
Esta é a opinião da maioria dos
entrevistados pelo Adur Informa nas últimas semanas. Há, no
entanto, quem discorde desta opinião, como é o caso do próprio
reitor, José Antonio Veiga, que vê este problema como um sintoma
localizado em, no máximo, três departamentos da Rural.
Vítimas
Não
resta dúvidas, porém, que os estudantes são as principais vítimas.
Eles aguardam soluções como, por exemplo, a contratação de
professores substitutos, o que não tem ocorrido com a agilidade
necessária no início de cada semestre. Muitos tiveram seus contratos
vencidos sem que a Reitoria tomasse providências prévias para evitar
o que está acontecendo.
Passaram-se mais de 70 dias deste
primeiro semestre de 2002, sem que se visualize uma solução
satisfatória para o problema. Pior do que isso, a Reitoria segue
negando aos representantes discentes no Diretório Central dos
Estudantes o devido acesso às planilhas de dados sobre a situação
vigente. Segundo foi informado por membros da Reitoria, “há
divergências internas” se tais informações devem ser repassadas aos
alunos.
Os sucessivos ataques do governo
federal à universidade pública levaram a uma redução significativa
no quadro de docentes efetivos, através de aposentadorias ou
exonerações de profissionais qualificados. Paralelamente, o número
de alunos nos cursos de graduação vem crescendo, na Rural, desde
1997, devido ao aumento das vagas oferecidas e ao surgimento de
novos cursos. Resultado: há menos professores do que o recomendado
para o número de alunos.
Estudantes temerosos
O
problema da falta de professores é sentido em várias unidades
acadêmicas, mas, principalmente, nos Departamentos de Matemática e
no de Letras e Ciências Sociais. O estudante do curso de Engenharia
Química, Vinícius, afirma que a disciplina de Cálculo IV não está
sendo ministrada. “Tem gente que precisa cursar, pois é obrigatória,
para se formar”, diz ele, comentando que a situação é crítica e
tende a se agravar, pois “segundo alguns professores, para o aluno
se inscrever em certas disciplinas vai depender do Índice de
Aproveitamento”, concluiu.
O estudante do curso de Zootecnia
Tarcísio Moura se disse preocupado a partir do que está acontecendo
com vários de seus colegas. Segundo ele, para a disciplina de
Fisiologia Animal, por exemplo, só há um professor responsável por 5
turmas, ou seja, “Um docente para, mais ou menos, 300 alunos”,
calcula. Neste caso, especificamente, as aulas práticas,
fundamentais para a disciplina, estão comprometidas. Em sua opinião,
“isso influencia o aprendizado. Daqui a dois ou três semestres os
estudantes vão sentir deficiência”.
A aluna Renata, que cursa Engenharia
de Alimentos, disse que já viveu o problema no semestre passado e
sente-se decepcionada; “A gente luta tanto para entrar na
universidade e não espera por esse tipo de tratamento”. Da mesma
forma, o estudante de Geologia Robson Cruz, que pediu transferência
da UFRJ para a Rural, está apreensivo diante destas primeiras
experiências.
Governo e Administração
Para
o coordenador do curso de Ciência Econômica e professor Adjunto IV,
Antônio José Alves Júnior, este é um processo que se vem sucedendo
há pelo menos dois anos, e se agravou neste semestre. Em sua
opinião, apesar da política governamental, essa falta de professores
é resultado de uma política de responsabilidade da Administração
Central, que aumentou o número de cursos e, conseqüentemente, de
vagas, sem dotar a universidade da capacidade para viabilizá-los
adequadamente. Ele cita, por exemplo, a criação dos cursos de
História, Arquitetura e de Química no período noturno, além dos
cursos nos campi avançados de Três Rios e Quatis, onde são
ministradas as aulas para estudantes de Economia e Administração
“Houve uma expansão de vagas e uma redução significativa dos
recursos, a começar pelo número de professores”.
Demanda Externa
Por
outro lado, segundo Antonio, a Rural está sendo pressionada por uma
demanda externa que cobra uma certa produção acadêmica por parte dos
professores, o que exige dedicação e tempo para cobrir os
indicadores dessa produção. Segundo dados oficiais, em 2001, dos 535
professores da Rural, 40% estavam envolvidos em projetos; 40% em
atividades de extensão; 70% em publicações, 50% apresentaram
trabalhos em congressos e 92 estavam em qualificação.
Alves não vê coerência na
formulação, segundo ele, da Reitoria de que o problema da falta de
professores se dê por problemas conjunturais ou, “por acidente e má
vontade”. Para ele, o problema é estrutural e tem a ver com a
política do governo, por um lado, e pela opção da Reitoria em
reforçar o indicador de vagas para graduação para conseguir mais
recursos do MEC, o que ele questiona: “Se essa opção foi a forma de
obter mais recursos, ampliaram-se nossas carências manifestando-se
na falta de professores, na falta de vagas em disciplinas”.
Rodízio
O
caso é realmente grave. O Departamento de Administração, por
exemplo, ofereceu disciplinas, mas as vagas não eram suficientes
para os alunos que estavam interessados. Da mesma forma, o curso de
Economia iniciou e até o primeiro mês, nada menos que seis ou sete
disciplinas estavam sem professores.
Segundo Luciana Nóbrega, professora adjunta lotada no ICHS,
responsável pelas disciplinas de Ciência Política e Sociologia, no
lugar de contratar substitutos, por exemplo, o reitor orienta que os
professores atendam outros departamentos; “Este semestre temos
turmas entre setenta e noventa alunos. Segundo o MEC, o ideal é que
haja 45 alunos por turma”. Para ela, a Reitoria quer aumentar a
relação professor-aluno. “A qualidade pode ir para o espaço”,
sentenciou Nóbrega, afirmando que há situações inusitadas, como um
professor dando aula para duas turmas.
|
PARA REITOR,
CRISE É ESTRUTURAL |
Durante
o debate convocado pelas entidades, dia 29 de julho, o reitor José
Antonio Veiga abriu sua participação dissendo-se representante da
visão da maioria, por de ter conseguido, em 2000, a maioria dos
votos nos três segmentos. Estabelecido esse parâmetro, ele buscou
construir a argumentação de que o problema é circunscrito apenas a
alguns departamentos. Em tom crítico, Veiga fez referência à
política de contenção de contratações de professores como uma
decisão “de um governo de oito anos”, mas advertiu: como
representante da maioria, não era da natureza de sua gestão
contrapor-se ao governo federal.
Missão
José
Antonio disse que a maior missão de sua gestão “é fazer a Rural
funcionar”. Reconheceu o momento adverso, lembrando que “o quadro
completo da Rural, para o ensino de graduação, é composto, por
força de lei, de 585 professores. Nós chegamos a ter quase 100
cargos vagos. Há quase um ano, o governo permitiu uma reposição
simbólica de 19 vagas”. Apesar desse diagnóstico prévio, o reitor
afirmou que, em sua ótica, dos 33 departamentos que a Rural
tem, os departamentos de Matemática e de Letras e Ciências Sociais
são os que realmente têm os maiores problemas. “O problema do
Departamento de Matemática, na minha ótica, é um problema
estrutural. De origem histórica do departamento. O departamento
tinha uma dinâmica, tinha um quadro dominante. Ao alterar o quadro
dominante, sua dinâmica também se alterou. Não há quem dê jeito numa
transformação desse nível de um dia pro outro”.
Veiga disse que tinha conhecimento de
que o Departamento de Matemática era o que mais reprovava na Rural e
teceu comentários sobre a opção por contratar professores
substitutos de 20 horas no lugar daqueles de 40 horas para o
Departamento: “Ao se colocar um professor de 20 horas ele tem que
dar, no mínimo, 12 horas efetivamente em sala de aula. Se ele for
para 40 horas, ele vai para, no mínimo, 16 horas de aula. Não se
sustenta, pela qualidade, ser 40 horas e dar 16 horas e não se
sustenta, por uma lógica de preenchimento das escassas vagas que
temos. Dois (professores) de 20 horas vão dar 24 horas em sala de
aula e vão ter menos carga horária, menos desgaste em sala de aula
do que um de 40 horas, que vai dar 16 horas”, concluiu.
O representante do Departamento de
Matemática, Valdomiro Neves, classificou essa política como
“maléfica”, pois afasta o professor substituto das outras atividades
acadêmicas do departamento, atentando contra a relação
aluno-professor. “Nós não podemos continuar fazendo essas contas”,
disse.
Sacrifício
Sobre
o Departamento de Letras e Ciências Sociais, o qual classificou como
exótico, o reitor disse entender, sempre na sua ótica,
que este passa por uma influência conjuntural: “O DLCS, na área de
Ciências Sociais, onde os problemas são maiores, não tinha o curso
de graduação. Este curso foi criado há dois ou três anos atrás, de
comum acordo com os professores que tinham perfeita clareza que
teriam que se sacrificar durante um longo período pra ver essa
conquista ter sucesso”.
Comentando a afirmação do
chefe do departamento Abner Chiquieri, de que teria havido o caso de
um professor substituto demitido, o reitor lembrou o caso do
professor Pedro Mireles : “Eu já falei umas 50 vezes que ele não foi
demitido. O contrato dele venceu. Não foi renovado por que ele foi
pego na ilegalidade. Ele é um professor estrangeiro que não tinha o
direito de ser funcionário público e ele aceitou esse contrato”.
O pensamento do reitor
pode ser sintetizado ao se vislumbrar o exemplo de um terceiro
departamento que, segundo ele, teria problemas: “Uma outra exceção
que merece também uma reflexão é o departamento de Física. Não tão
específica e volumosa como da Matemática e das Ciências Sociais. O
departamento passou por uma mudança de chefia; por uma crise interna
nas relações entre os professores; um professor foi afastado; um
ficou doente no término do período letivo passado e um outro
professor pediu demissão. Imaginem os senhores quem consegue repor
isso ao tempo e à hora para que não haja descontinuidade?”.
O reitor concluiu,
resumindo sua visão da crise: “Estes eventos não servem para
refletir a Rural inteira. Muito pelo contrário. Por que não tem
problema de ofertas de turmas e vagas no Departamento de Solos? Por
que não tem no Departamento de Nutrição Animal? No de Psicologia?
Quantos mais eu poderia falar?”.
|
DLCS: Situação emblemática |
Respondendo aos críticos
do Departamento de Letras e Ciências Sociais, entre eles o reitor
José Antonio Veiga, o chefe de departamento do DLCS, Abner
Chiquieri, apresentou dados e informações que fizeram com
que o público presente ao debate conhecesse, em primeiro lugar, o
perfil acadêmico do departamento e, por fim, entendesse a
complexidade envolvendo as inter-relações entre as áreas.
Segundo Abner, de um total de 23
professores, somente três são substitutos. Dos efetivos, 65%
possuem doutorado. O restante ou está em processo de doutoramento
ou são mestres, o que faz com que estejam envolvidos em atividades
de pesquisa, notadamente na área de Ciências Sociais, apesar de
não estarem vinculados a nenhum programa de pós-graduação.
Reunindo múltiplas áreas, como
Letras, Extensão Rural, Filosofia, Direito, Sociologia, Ciência
Política, Metodologia e História, o DLCS parece abrigar
minidepartamentos, dadas as múltiplas possibilidades de
desdobramento do conhecimento em cada uma destas áreas.
O DLCS oferece em média 27
disciplinas “distribuídas em 60 turmas a cada semestre. Há alunos
de praticamente todos os cursos da universidade, fora o próprio
curso de História”, disse Chiquieri, discordando da visão
simplista que busca localizar o problema apenas no DLCS. “Dizem
que o DLCS tem problemas. E ele tem. No semestre passado atendeu a
mais de 2.400 estudantes, fora os dos cursos de interiorização”,
explicou Abner, acrescentando: “E ainda assim dizem que criamos
caso porque não aceitamos manter turmas com 80 ou mais alunos”, o
que, em sua opinião, “desfavorece a qualidade do ensino e o
relacionamento aluno-professor”.
O chefe do DLCS afirmou ainda que o
início do atual semestre foi ruim, pois “ficamos várias semanas
com sete turmas sem professor”. O que aconteceu por diferentes
razões, desde a aposentadoria de um docente à demissão de um
professor substituto.
Para Abner, os demais chefes de
departamento deveriam fazer um diagnóstico minucioso da situação
de suas áreas e verificar no que podem se identificar com o que
acontece no DLCS. |
Para Alexandre Santos, estudante de Engenharia de Agrimensura e
representante do DCE, a falta de professores não pode ser discutida
isoladamente. É conseqüência de uma política educacional que está
desmontando a Universidade Pública. Segundo ele, esta atinge não só
o ensino superior, mas também a investigação científica e a produção
cultural, que são também compromissos da universidade com a
sociedade. “A Universidade não se propõe apenas a ser uma escola
profissional”, diz.
Alexandre responsabilizou o governo
federal pela falta de professores em nível nacional, lembrando o
descumprimento do acordo de greve que previa a contratação de pelo
menos 2.000 professores. Para o representante do DCE, entretanto, o
acesso às atividades de ensino é uma questão básica, o que deveria
ser tratado com mais preocupação por parte dos administradores da
Rural: “A gente vê hoje uma grande quantidade de turmas que ficaram
dois meses sem aula. Pensar isso numa universidade é polêmico!”,
disse, acrescentando que “o desmonte não é só físico. O desmonte é
ideológico”. Alexandre afirma que “A administração superior acaba
por defender essa política educacional quando classifica esse
problema da falta de professores como inexistente”.
Referindo-se ao emprego da força de
trabalho do chamado professor voluntário, o estudante questiona: “Os
professores voluntários ganham com convênios de interiorização. Qual
é o princípio dessa instituição?”. Alexandre se disse disposto a
participar de um esforço unitário para solucionar problemas que
resgatem a autonomia da universidade, mas ressalvou: “Nós queremos
encontrar soluções sim, mas antes, como estudantes, nós queremos o
direito à aula”. |
O decano de Ensino e Graduação, professor Ildemar Ferreira,
evocou a unidade da comunidade para solucionar o problema da falta
de professores; “se cada um fizer um esforço sério, sensato,
resolveremos esse caso logo”, disse. Para ele, o problema não é só
da Rural. É nacional, mas há como buscar minimizar, em nível local.
“Basta um pouco de boa vontade de alguns, porque não é possível que
para um curso que ofereça vinte e cinco vagas no vestibular, o
departamento ofereça vinte vagas”, disse sem mencionar qual curso ou
departamento. Atribuindo a alguns alunos responsabilidades com a
falta de vagas, o decano afirmou que “Se o estudante que ficou
reprovado quatro ou cinco vezes se matricula numa disciplina e
abandona, ele tira a vaga de quem quer estudar”.
Na análise do dirigente, por outro
lado, “se houver um pouco de atenção por parte de alguns
coordenadores de curso, que fazem previsões muito além daquelas que
realmente necessitam, “a gente vai ter logo um acerto, pelo menos
com excesso de alunos por turma”, disse.
Na visão de Ferreira, portanto, “o
que está faltando é um pouco mais de disponibilidade por parte do
corpo docente e também por parte dos discentes, para que nós
possamos chegar a um denominador comum; pelo menos, minimizar os
problemas”, concluiu. |
DMAT tem
5.900 matrículas |
O professor Valdomiro Neves compôs a mesa do debate
representando a Chefia do Departamento de Matemática (DEMAT), a
pedido do professor Marcelo Dib. Ele lembrou que qualquer curso, por
começar no primeiro período, parte por reunir disciplinas do chamado
ciclo básico. O Departamento de Matemática oferece muitas destas
disciplinas para a maioria dos cursos. Para ele, portanto, tentar
limitar o problema ao DEMAT não condiz com a realidade: “O DEMAT
atende até 5.900 matrículas por período; organiza entre 100 e 110
turmas e cumpre uma carga semanal da ordem de 340 horas em sala de
aula”. Nos dados expostos, não foram computadas as aulas oferecidas
nos cursos de interiorização e na pós-graduação. Segundo Valdomiro,
o DEMAT só não atende obrigatoriamente aos alunos do curso de
História.
Ele lembrou ainda que foram criados
novos cursos e reformulados currículos. Estes elementos, combinados
com várias aposentadorias a partir de 1994, contribuíram muito para
que a carga horária se tornasse excessiva. “Foram criados os cursos
de Engenharia Agrícola, de Agrimensura, Arquitetura e Urbanismo,
Matemática Computacional e ainda a turma de Química à noite. Todos
eles têm uma ou mais disciplinas ministradas pelo Departamento de
Matemática”.
Neves lembrou ao professor José
Antonio Veiga que o quadro dominante a que ele, reitor, se referiu
foi elaborado em meados dos anos 80. “Nós tínhamos muito claro que
queríamos ser um departamento acadêmico de uma universidade que
recebesse esse nome com muito orgulho. E por sermos de uma área
básica para toda a universidade, queríamos fazer da melhor forma.
Por isso foi criado um programa de capacitação para os professores
desde aquela época”.
Valdomiro afirmou que o DEMAT, diante
dos limites impostos pelo governo, sempre se posicionou pela
contratação de professor substituto no regime de 40 horas, “com a
qualificação melhor possível” e manter um quadro docente para
atender turmas com, no máximo, 60 alunos. Segundo Valdomiro, o
objetivo sempre foi incluir os substitutos nas demais atividades do
Departamento, fazendo com que eles viessem a ser professores plenos
na relação com os alunos. No entanto, a reitoria sempre optou pelo
regime de 20 horas, dificultando esse entendimento.
O professor Valdomiro, por fim,
cobrou o resultado do concurso para a área de Matemática Aplicada,
ao que o reitor José Antonio Veiga respondeu que, por motivos de
constituição da banca, não pode haver o provimento da vaga.
|
|