A
ADUR, seção sindical do ANDES-Sindicato Nacional, se dirige
aos estudantes para saudá-los e dar as boas-vindas, no ano
letivo de 2002. Ao fazê-lo, no entanto, queremos estabelecer
uma perspectiva crítica e propor a continuidade da batalha de
resistência que caracteriza a universidade pública no Brasil há,
pelo menos, duas décadas.
Nunca
é demais lembrar, seja para os novos estudantes, seja para os
demais, que manter a universidade pública e de qualidade não
é resultado de magia. Até aqui tem sido reflexo da mobilização
permanente da comunidade; em especial nos momentos em que o
ensino, pesquisa e a extensão cristalizam a produção acadêmica
qualificada destas instituições e, principalmente, nas
jornadas de lutas como, por exemplo, a necessária greve de
2001.
O
ADUR Informa, órgão de divulgação da Associação de
Docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, seção
sindical do ANDES-Sindicato Nacional, dedica a sua edição nº
40 para um necessário diálogo com o segmento estudantil: quais
os desafios que temos pela frente para continuarmos firmes em
nossa estratégia para preservar a universidade pública e
gratuita?
Segundo
dados do próprio MEC, sistematizados pelo Andes-SN, de 1995 a
2001 os gastos do governo com o ensino superior despencaram dos
9,2% das receitas correntes líquidas para 3,7%. Nesse mesmo período,
os serviços da dívida pública (juros e encargos) subiram de
24,9% para 42,6%. O arrocho salarial imposto pelo governo
completou o quadro de estrangulamento econômico-financeiro
orientado contra todo o serviço público, em particular as IFE
(Instituições Federais de Ensino). Não é de surpreender que
a resposta, em 2001, fosse de tamanha força e repercutisse por
toda a sociedade.
Ao
longo dos últimos anos o ANDES-SN e demais entidades de
trabalhadores das universidades vinham denunciando esta dramática
situação. Em junho de 2001, por ocasião da SBPC,
representantes das reitorias das IFE divulgaram uma nota
contundente, endossando as denúncias às políticas de
estrangulamento das IFE e anunciaram que as universidades não
teriam condições de desenvolver suas atividades com um mínimo
de normalidade no segundo semestre.
O
que se seguiu foi a maior greve das universidades; 108 dias de
intensa mobilização, contra um governo federal insensível e
irresponsável, que abusou de mentiras e golpes baixíssimos
para tentar derrotar os movimentos. Tudo em vão. Ao final, a
unidade entre professores, estudantes e técnico-administrativos
prevaleceu sobre a prepotência do ministro Paulo Renato e suas
técnicas de enfrentamento contra o direito democrático de
greve em defesa da Universidade Pública, Gratuita e de
Qualidade.
As
lutas prosseguem em 2002
Conquistamos
uma importante vitória frente a um governo que dispensa
apresentações em matéria de entreguismo. Sua política, que
perseguiu incansavelmente a privatização da universidade,
levou à destruição de setores de trabalho, aumentando
substancialmente o desemprego; à privatização inconseqüente
de serviços fundamentais, criando crises como a de energia e,
principalmente, minguando as iniciativas do Estado em atividades
tão essenciais como educação, saúde e segurança pública. O
resultado aí está: o Brasil é um país onde se vive um
aumento dramático da violência e incertezas decorrentes de um
perigoso deficit de energia e de uma dívida externa que
já superou 50% do nosso PIB anual.
É
preciso que se diga: a orientação política que levou a este
estado de coisas continua em vigor. Vencemos, em 2001,
um round de uma longa e penosa luta de preservação da
qualidade e do caráter público e gratuito do ensino federal.
Esta e outras lutas, porém, devem ter continuidade em 2002.
Cabe
a cada segmento da comunidade universitária organizar-se e
unificar-se com os demais neste contínuo movimento em defesa da
construção de um projeto de desenvolvimento que coloque o ser
humano, seus sonhos e necessidades como objetivo. Um projeto que
resguarde a qualidade da produção universitária para
referenciá-la no público, contrariando o governo que a quer
vinculada aos interesses de alguns setores privados. Uma concepção
de universidade que veicule a mais irrestrita democracia nas
relações institucionais.
A
ADUR, por outro lado, não poderia deixar de parabenizar os
estudantes pela eleição da nova diretoria do Diretório
Central dos Estudantes (DCE) e de seus representantes para os
colegiados superiores da universidade (Conselho Universitário,
Conselho de Curadores e Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão).
Cabe
lembrar que estamos num ano de eleições nacionais, para o
executivo e legislativo nos âmbitos federal e estaduais, não
podemos fugir à responsabilidade de debater e documentar nossas
opiniões sobre o País, sobre a educação, sobre os caminhos a
seguir, sobre o projeto de desenvolvimento para o País e o
papel da Universidade.
Tendo
como referência a unidade conquistada em 2001, conclamamos a
todos para as mobilizações e lutas que seguem em 2002, por um
País e mundo melhores.
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