ADUR Informa
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ANO
22 |
Nº 31 |
11 A 25/9 |
2001 |
Seção
Sindical do ANDES-SN Filiada
à CUT |
ADUR
Informa - publicação da Associação dos Docentes da UFRuralRJ.
Conselho Editorial: Áurea Echevarria, Francisco de Assis da
Silva, Nídia Majerowicz,
Ricardo L. L. Berbara e Valdomiro Neves Lima.
Edição e editoração: Regina Rocha
(Reg. 16269/MTb).
Fotos:
Lenin Pires.
As matérias não assinadas são de responsabilidade do Conselho
Editorial. |
|
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Assembléia, em 29/8, delibera pela adesão à greve
nacional |
Dia
12 tem passeata no centro do Rio
A greve dos servidores federais, na qual se
insere o movimento organizado pelo ANDES-SN, completa 40
dias sem que o governo federal tenha se dignado a negociar
com os grevistas. O movimento, cujas reivindicações já
conquistou o apoio da opinião pública, do Supremo Tribunal
Federal e políticos dos mais diferentes partidos, vive agora o desafio de vencer a insensibilidade do governo
Fernando Henrique. Nessa perspectiva, os servidores ganham
as ruas em todo o país nesta quarta-feira, dia 12. Nas
principais capitais do Brasil a população testemunhará,
através de manifestações pacíficas, que o funcionalismo
não se conforma com os sete anos sem reajuste de salários
e com o processo de sucateamento e destruição dos serviços
públicos. |
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Mesa da assembléia observa debate: casa cheia |
Dia
12, na Rural
Aqui na Rural a
proposta é reunir toda a comunidade, concentrando-se na
assembléia que acontece às 10h desta quarta-feira, no
Gustavão. Vamos organizar uma grande caravana e protestar
contra a política do governo que ameaça todo o patrimônio
público, em particular na Rural. Aqui, a política de
privatização campeia, como no município de Três Rios e,
gradativamente, a Universidade vai perdendo sua autonomia e
pode, em breve, comprometer sua qualidade.
Greve
é forte e coesa
A greve do
funcionalismo já pode ser considereada a maior da história.
Os setores mais organizados são a Previdência Social, as
Universidades e demais instituições da educação federal.
Na maioria dos
estados a previdência fechou postos de atendimentos e
superintendências. Não por acaso o governo federal já
começou a fazer uma campanha contra o movimento, tentando
conquistar apoio entre os aposentados, segmento o qual vem
penalizando há pelo menos seis anos com salários mínimos
ridículos e sobretaxas nos impostos.
Nas universidades,
professores e servidores estão paralisados em 48 IFES. A média
de paralisação nos dois segmentos é superior a 80%. Os
estudantes, segundo a UNE, aderiram ao movimento em 26
universidades.
Estas categorias
tendem a ser ponta-de-lanças na manifestação do dia 12 em
todo o país, que contarão ainda com trabalhadores do IBGE,
da saúde, das escolas técnicas e de 1º e 2º graus
federais, entre outros. |
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Conselhão do IZ, em 5/9, faz nova eleição e elabora lista
tríplice (página 3) |
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Quarta-feira
12/9 - 10h
Assembléia
Gustavão
Pauta:
Informes
Avaliação
da greve
Encaminhamentos
Concentração para
o
ato dos SPF
|
Ato público
Dia
nacional de luta
Dia
12/9 - 14h
Concentração
no Sambódromo |
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Página
2
É
hora de intensificar as ações
na base |
Representantes dos servidores federais, entre eles o presidente do
Andes-SN, Roberto Leher, participaram da reunião da Comissão
Geral da Câmara dos Deputados, dia 4/9, marcada
especialmente para discutir a nossa greve e o reajuste do
funcionalismo. O evento projetou o movimento na imprensa
para todo país. As lideranças apresentaram os motivos da
greve e também a intransigência do governo que não
negocia com os trabalhadores. |
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Em
seguida, servidores e parlamentares saíram em passeata ao
Palácio do Planalto para requerer audiência com o
Presidente da República. Depois de enfrentar a repressão
policial, uma comissão de servidores conseguiu protocolar o
requerimento.
Porém,
o presidente não respondeu aos Servidores (leia nota do
CNUG abaixo). Diante da intransigência, segue a greve nas
Instituições Federais de Ensino: uma greve a favor da
soberania e democracia. Representantes do comando discutiram
com os senadores formas de apoio ao movimento e pela
abertura de negociações antes da reunião da Comissão de
Educação, dia 11/9, com o ministro Paulo Renato.
A UNE também deflagrou
greve em apoio aos docentes. O Comando Geral foi instalado
no dia 5/9. Nos informes dos estudantes fica evidenciado o
vigor do movimento: 26 diretórios estudantis já aderiram,
seis estão como comissão de mobilização e quatro com
assembléia marcada para os próximos dias. O objetivo da
direção da entidade é construir o movimento de greve
nacional nas IFES.
|
Presidente não responde
aos Servidores
|
A responsabilidade
pela concessão de reajuste salarial e pelo atendimento das
demais reivindicações contidas na pauta dos SPF é
fundamentalmente do Executivo. São exemplos: a criação de
despesas com pessoal (reajuste e incorporação de gratificações)
e os projetos de regulamentação do regime de emprego público.
Por isso, o
Comando Nacional Unificado de Greve dos SPF solicitou audiência
ao Presidente da República. Após a sessão da Comissão
Geral da Câmara dos Deputados de 4 de setembro, cujo
objetivo foi discutir a situação salarial dos servidores,
foi realizada uma caminhada até o Planalto que teve como
propósito oficializar esta demanda. Em meio a forte aparato
repressivo, as entidades protocolaram o pedido de audiência.
Os termos da
resposta:
A audiência
solicitada ao Presidente reivindica o
“estabelecimento de negociação”. Em resposta, o
gabinete do Presidente
enviou um ofício para a CNESF,
nos seguintes termos:A interlocução deve ser com o
Ministro do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
(MPOG), Martus
Tavares e o ministro deve “examinar e tomar as providências
cabíveis” sobre os itens da pauta.
|
Avaliação
do Comando nacional Unificado
|
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A resposta não
satisfaz à reivindicação de negociações. É imperiosa a
audiência com o presidente para que os termos da negociação
com o MPOG (ou com qualquer ministério) sejam discutidos.
Sem a definição das condições em que a interlocução
será realizada, por parte do Executivo, a reunião no
Ministério do Planejamento certamente não responderá aos
nossos objetivos, como ficou patente na Greve dos SPF de
2000. |
O envio ao Congresso, no mesmo dia, de um Projeto de Lei que
regulamenta o inciso X do art. 37 da Constituição, que
dispõe sobre o reajuste dos servidores atesta que não há
o que discutir no MPOG. Essa mensagem confirma a postura
intransigente do Executivo em relação às reivindicações
dos servidores e ratifica o índice de 3,5% para reposição
de perdas a partir de 2002.
Isso significa que a pauta unificada sequer foi levada em
consideração. A reivindicação dos SPF – no que se
refere à correção salarial – é a reposição das
perdas do período 1995-2000, correspondente a 75,48%.
Desse modo, o CNUG reitera a necessidade de audiência com o
Presidente e estará promovendo mobilizações nos estados
no dia 12 de setembro com este objetivo. As entidades
representativas dos SPF conclamam os parlamentares a
manterem-se em obstrução ao projeto de orçamento enquanto
o Executivo não apresentar uma proposta orçamentária
capaz de atender às reivindicações.
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Greve por soberania e
democracia
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O
Brasil possui 52 Instituições Federais de Ensino Superior
que atendem a cerca de 400 mil estudantes de graduação, 60
mil de mestrado e 30 mil de doutorado. Existem, também, as
Instituições Federais da Educação Básica – Cefet
(11), Colégio Pedro II, Escolas Técnicas (06) e Agrotécnicas
(48) - que cumprem importante papel no sistema educacional
brasileiro.
Grande parte da pesquisa brasileira é realizada nessas
instituições. (..) A
despeito da inegável contribuição para o país, estão
sendo destruídas pelo governo FHC. O próprio presidente da
república admitiu que é objetivo de seu governo frear o
crescimento das universidades federais. O seu ministro da
educação chegou a afirmar em entrevista à Revista Exame
que a busca do desenvolvimento científico e tecnológico é
uma prioridade ultrapassada, uma idéia que a globalização
enterrou no cemitério da história.
A
maior parte das verbas públicas é destinada ao pagamento
da dívida, por isso não há lugar para a educação pública,
gratuita e de qualidade no orçamento da União. (...) As
universidades estão sendo redefinidas conforme o modelo do
Banco Mundial adotado pelo governo federal. Concretamente,
as reformas neoliberais configuram
um verdadeiro apartheid educacional planetário.
(...) Faz parte dessa política a violenta compressão
salarial dos técnicos administrativos e dos docentes do
setor das federais, cujos salários encontram-se congelados
há mais de sete anos. Segundo o DIEESE, requerm um reajuste
de 75,48% para recuperar o poder de compra de 1995.
A mais recente e importante investida no sentido de
implantar no país as reformas exigidas pelos organismos
internacionais é o projeto de regulamentação do emprego público
nas instituições federais de ensino. Caso seja aprovado, o
sistema federal de ensino será reconfigurado em três
dimensões básicas: aceleração do processo de privatização,
precarização das relações de trabalho e descaracterização
das instituições. O projeto de emprego público altera as
relações de trabalho, submetendo-as à força de mando dos
governantes de plantão. (...) Constitui, ainda, mais um
elemento que visa à fragmentação das diferentes
categorias com conseqüências graves para a organização
sindical arduamente construída pelos movimentos
organizados.
(...)
Diante desse quadro de obscurantismo, em que as
universidades e as demais instituições federais de ensino
estão sendo draconianamente atacadas pelas políticas
neoliberais de FHC, os estudantes, os professores e os técnicos
administrativos estão unidos na maior greve da história
das instituições federais, lutando pela:
Ampliação
das verbas públicas para a educação e sua aplicação
exclusivamente no ensino público e das verbas para assistência
estudantil e para as bolsas acadêmico-estudantis; reposição
das perdas salariais; paridade entre ativos e aposentados e
isonomia salarial; incorporação das gratificações;
gratuidade plena do ensino público; autonomia nos termos do
artigo 207 da Constituição Federal com garantia de
financiamento público; manutenção do RJU e abertura
imediata de concurso público neste regime para as instituições
federais de ensino; ampliação da oferta de ensino público
e democratização do acesso às instituições públicas de
ensino; gestão democrática nas instituições de ensino;
implementação de uma política de C&T democraticamente
definida, capaz de assegurar a soberania e autonomia
ao país; manutenção da previdência pública, contra a
aprovação do PL 9/99; liberdade de organização sindical
e estudantil; fora FHC! Fora FMI!
Trechos do documento do ANDES SN; FASUBRA; SINASEFE; UNE e
UBES. |
Página
3
Conselhão
faz outra eleição no iz
|
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O ex-diretor Jorge Carlos questiona um encaminhamen- to por
parte do diretor pró-tempore Fernando Curvello
|
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Barrados: estudantes e servidores do IZ e de outras
unidades, acompanham do lado de fora a nova eleição no
conselhão do IZ |
Na quarta-feira, 5/9, aconteceu a tão esperada reunião do conselhão
do Instituto de Zootecnia. Após três meses, parecia que
acabaria se dando a homologação da eleição conduzida
pela comunidade do Instituto, em maio. No entanto, o
desfecho foi diferente. Uma nova eleição foi realizada,
mandando para o espaço a consulta à comunidade. Nomes que
nem participaram da eleição puderam ser apresentados. O
resultado final acabou por confirmar o nome do professor
Nelson Mattos como o primeiro nome da lista a ser
encaminhada ao reitor. No entanto, segue também o nome do
professor Jorge Carlos Dias de Souza, ex-diretor do
Instituto e candidato derrotado em maio, e ainda o da
professora Maria da Paz, que recebeu 1 voto. Para
vice-diretor empataram César Crisóstomo, vice da chapa de
Nelson, e o professor João Carlos Baptista, vice de Jorge
Carlos. Ambos tiveram 25 votos. Edson Balieiro, o outro nome
da lista, obteve 1 voto.
Desrespeito
Nelson
Mattos considerou esta nova eleição “um desrespeito à
comunidade”. Jorge Carlos também não ficou satisfeito,
mas por outros motivos. Segundo ele, o Conselhão não
estava constituído de acordo com a lei e o regimento da
Universidade Rural e avisa: “Irei até a justiça, se
preciso, para questionar a composição desse Conselhão e,
conseqüentemente, seu resultado”. Como se vê, a novela
pode render ainda capítulos imprevisíveis.
Por
volta das 9:30h a sala, no anexo do Instituto de Zootecnia,
já estava tomada pelos convocados para o chamado conselhão.
Estava prevista a participação de 41 professores, 8
estudantes e 8 técnico-administrativos. A representação
estudantil foi escolhida pelo Diretório Acadêmico do IZ.
Os representantes dos servidores foram escolhidos em uma
reunião
Logo
de saída o diretor pró-tempore encaminhou a votação nos
termos do regimento interno da universidade. Votação
uninominal e secreta. Curvello não encaminhou a homologação
do resultado eleitoral da comunidade. Limitou-se a lembrar
que tinha havido uma eleição e que os presentes poderiam
levar em consideração o processo, caso os nomes fossem
reapresentados naquela reunião. “Eu refleti e vi que não
cabia, naquele espaço, encaminhar a homologação. Acabaria
por abrir brechas para ações judiciais, inclusive contra
mim”, disse mais tarde Fernando Curvello.
Entrada
proibida
A
reunião era conduzida às portas fechadas. Do lado de fora,
estudantes, servidores e a reportagem do Adur Informa, todos
proibidos de acompanhar a reunião acompanhavam o debate
acalourado. Uma das vozes que mais se ouvia era do
ex-diretor Jorge Carlos. Exaltado, este questionou durante
todo o tempo a constituição do próprio Conselhão. Para
ele, a composição deveria combinar a lei 9.192/96 e o
regimento da UFRRJ: “O regimento garante 1/5 ou 20% para
estudantes; a lei garante um mínimo de 70% para
professores. Neste caso sobrariam 10% para os técnico-administrativos
e a sociedade”.
O
grupo liderado pelo ex-diretor
questionou a
representação técnico-adminstrativo; a condução do
processo por parte do diretor pró-tempore e afirmou que não
acataria o resultado, caso a eleição fosse levada a
efeito. O presidente do DAIZ, Otávio Cabral, estudante do 6º
período de Zootecnia e coreligionário de Jorge Carlos,
chegou a mandar a presidente da Adur calar a boca. A profª
Áurea Echevarria, convidada a observar a reunião, se
dirigiu ao aluno para lhe solicitar calma durante uma
discussão e foi desacatada de forma ríspida e
desrespeitosa.
O
tempo passava e não havia condições
para que o diretor pró-tempore Fernando Curvello
iniciasse a votação. Seis nomes se propuseram para a direção
e os outros seis para a vice-direção. Eram 11h30 quando o
professor Mauro Portela Pina Rodrigues, lotado no
Deparamento de Nutrição Animal e Decano de Extensão da
UFRRJ propôs como encaminhamento que se realizasse a eleição,
mas que a lista tríplice fosse encaminhada ao reitor junto
com uma solicitação de consulta à Procuradoria Jurídica
da UFRRJ sobre a legalidade da composição do Conselhão.
Este encaminhamento acabou possibilitando a votação.
Resultado
O
professor Nelson Mattos recebeu 26 votos, contra 23 de Jorge
Carlos e 1 da profª Maria da Paz. Houve 1 voto nulo. Para a
vice-direção empataram em 25 votos César Crisóstomo e João
Carlos Baptista Dias. Edson Balieiro teve 1 voto. Ao final,
porém, o profº Jorge Carlos redigiu uma moção
questionando o resultado e já avisou que pretende entrar na
justiça, se preciso. |
Eleito duas vezes, Nelson aguarda nomeação
do reitor
Dizendo-se estarrecido com os acontecimentos
daquela manhã quando, segundo afirmou, “o processo democrático
encaminhado pela comunidade foi para o espaço”, Nelson
Mattos só tinha uma certeza: ganhou, assim como poderia ter
perdido. . “Foi um outro processo, com características
completamente diferentes”, disse. |
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O reitor José Antônio Gouveia pode por um ponto final na
crise do IZ
|
Segundo
o candidato mais votado nas duas eleições, o segmento
docente foi determinante para sua segunda vitória. “Os
votos discente e técnico-administrativo se anularam. Quem
decidiu foi o voto docente, que dessa vez foi dado a mim”.
Na consulta à comunidade, Jorge Carlos havia perdido entre
servidores e estudantes e ganho por uma pequena diferença
entre os docentes.
“Tenho o sentimento
que o reitor vai homologar o nome mais votado nas duas eleições”.
Nelson acredita que, apesar de tudo, o reitor agora tem
todas as condições para solucionar de vez a crise do
Instituto de Zootecnia.
|
Em 5/9, em
documento oficial, a diretoria da Adur se dirigia aos
membros do conselho ampliado, o conselhão, reivindicando
o acatamento da decisão expressa pela comunidade do IZ, na
eleição em 23 e 24 de abril passados. Não foi o que se
viu e a diretoria já havia alertado, no edição passada do
Adur Informa, que tal coisa poderia ocorrer,
lamentavelmente.
Apesar desse novo
processo não ter considerado ou muito menos referendado as
normas eleitorais acordadas para a eleição direta e a
forma de validar a vontade da comunidade expressa na mesma,
as listas tríplices elaboradas pelo Conselhão terminaram o
impasse. O Reitor da UFRRJ, José Antônio Gouveia
finalmente pode indicar como Diretor do IZ, o Prof. Nelson
Matos e como Vice-Diretor, o Prof. Luiz César Crisóstomo.
A esta altura, qualquer outra posição do reitor feriria o
bom senso e seria apostar na continuidade da crise. |
Página
4
Universidade tem sua autonomia ameaçada em Três
Rios com o status atual do Programa de Interiorização |
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Antonio José, coordenador do curso de Economia
|
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e professores que atuam em Três Rios debatem resgate da
autonomia |
Garantir democracia no interior da universidade e certa
autonomia com relação à sociedade civil são condições
essenciais para que a pesquisa científica e o
posicionamento crítico daí decorrente possa ser liberado
em sua máxima extensão.
Atualmente, diante
da política educacional do Governo Federal e das escolhas
realizadas pela Administração Superior, a UFRuralRJ se vê
severamente limitada no exercício de suas funções. Por
isso, inclusive, estamos em greve.
Dos pontos críticos
do funcionamento da UFRRJ que precisam de solução,
encontram-se entre os mais graves os entraves à constituição
de um ambiente verdadeiramente universitário no campus
de Três Rios. A
origem desses problemas está localizada no modelo vigente
de interiorização.
Desde 1998, os
cursos de graduação de Economia e de Administração
inauguraram turmas em Três Rios, através de um convênio
inédito com o setor privado. Por esse acordo, a FETRI (
Fundação Educacional de Três Rios ), compromete-se a
garantir a infra-estrutura necessária ao funcionamento
desses cursos. Caberia-lhe a construção de uma biblioteca
com espaço e acervo adequados, o fornecimento de uma bolsa
de estímulo à docência, no valor de R$ 1.100,00 por mês,
durante cinco meses por semestre, para cada professor em
atividade. Receberiam bolsas do mesmo valor o administrador
de cada curso. Além disso, os departamentos de Ciências
Econômicas e de Ciências Administrativas e Contábeis, bem
como o Instituto de Ciências Humanas e Sociais receberiam,
cada um, cinco bolsas de mesmo valor por semestre.
A contrapartida da
UFRuralRJ seria o desenvolvimento das atividades acadêmicas
em um campus avançado, responsabilizando-se pela
definição das estratégias das atividades de lecionação,
extensão e pesquisa.
Frente ao quadro
atual de carência de recursos próprios e de recursos
oriundos do tesouro nacional, a assinatura do convênio
parecia uma alternativa plausível. Este fato poderia ser
comemorado se o fluxo de recursos tivesse a estabilidade
necessária para a manutenção duradoura das atividades
locais e se a relação com a FETRI não ameaçasse o cerne
de funcionamento da estrutura universitária.
Miseravelmente,
desde o início do processo, houve sinais de que o exercício
dessa atividade enfrentaria problemas. Para começar, a
FETRI jamais cumpriu o artigo do referido convênio, onde se
compromete a demonstrar, dois meses antes de se iniciar cada
semestre, a existência de recursos para financiar as
atividades do período. Além disso, jamais apresentou, como
definido no mesmo convênio, uma planilha de investimentos,
um cronograma de desembolso em que especificasse os
montantes destinados à construção da infra-estrutura.
Por outro lado, a
Reitoria da UFRuralRJ jamais se empenhou em cobrar da FETRI
o cumprimento dos termos do convênio. Ao mesmo tempo,
procura se eximir de suas responsabilidades ao não prestar
contas à comunidade acadêmica dos resultados do projeto de
interiorização.
A falta de
transparência, mais de três anos depois de iniciado o convênio,
oculta os responsáveis pelos atrasos sistemáticos das
bolsas e pela indefinição sobre a infra-estrutura básica
para o funcionamento dos cursos. Por outro lado, a falta de
responsabilidade está afetando a própria autonomia da
instituição.
Um exemplo da
perda de autonomia pôde ser verificada na quinta-feira
(29/08/2001), quando o Prefeito da Cidade, o Sr. Celso Jacob
(ex-Presidente da FETRI e atualmente sem vínculos com a
mesma), demonstrou sua ampla liberdade de movimentos
no campus de Três Rios. Depois de fazer um discurso
em defesa da greve nacional, argumentou cinicamente que
“Três Rios é diferente” e que a greve ali não
caberia.
A despeito do
descalabro administrativo que vem caracterizando o
cumprimento do convênio, disse várias vezes aos que
estavam presentes no salão do segundo andar que
substituiria os professores insatisfeitos por qualquer um
outro, em uma atitude de franco desrespeito aos professores
e à autoridade universitária.
E ao continuar tergiversando sobre a obscura relação
que guarda com o governo do Estado do Rio de Janeiro, que
presumivelmente garantiria recursos para o cumprimento do
convênio, atribuiu ao movimento de greve a possibilidade de
sua ruptura, caso esta se estendesse sobre o seu território.
Infelizmente, o
Prefeito se utilizou de um quadro de carência para fazer
sua política e feriu seriamente a autonomia da
universidade. Tanto que os estudantes, pressionados pelos
longos anos de promessas do estabelecimento de ensino
superior de qualidade e pela conjuntura local, que o que tem
de específica é a ingerência exagerada da prefeitura nos
assuntos próprios da Universidade, se posicionaram contrários
à greve dos professores em Três Rios. Percebem que tudo lá
está errado, mas se vêem como impotentes de sair da posição
de refém diante das ameaças locais de término dos cursos.
O estado em que as
coisas chegaram no campus da UFRuralRJ em Três Rios
é exatamente o oposto daquilo que caracteriza o ambiente
universitário. O poder político local se apropriou do espaço,
pretende agora traçar a política acadêmica da instituição,
escolhendo até os professores, e pressiona os alunos a se
comportarem irrefletidamente.
Esse descaminho,
esse desvirtuamento da idéia de interiorização tem
cerceado a UFRuralRJ no seu papel de geradora de
conhecimento e de crítica às relações de poder locais.
Cabe à Universidade levar à cidade de Três Rios a
oportunidade de formar gratuitamente profissionais altamente
qualificados e também promover debates sobre diversos
temas, como por exemplo a gestão das finanças públicas
municipais e os caminhos para a recuperação da atividade
econômica local. Mas, antes, a UFRuralRJ terá de garantir,
através de mecanismos democráticos, um clima de independência
e autonomia, condição sine qua non para a reflexão
crítica.
Para tanto, é
preciso que a Administração Superior assuma suas
responsabilidades. Em Três Rios, a autoridade da UFRuralRJ
tem se mostrado muito tímida. Por exemplo, ao se passar
pelas ruas de Três Rios, não se encontra quaisquer referências
à UFRuralRJ. Não há sequer uma placa no prédio em que
funcionam as turmas dos cursos de Economia e Administração
avisando que, alí, localiza-se parte de nossa Universidade.
Ao contrário, a estética de um colégio particular domina
a paisagem.
Nesse momento da greve
dos professores da UFRuralRJ, incorporados ao movimento
nacional de greve em defesa do Sistema Federal de Ensino
Superior, nossa comunidade universitária reivindica a
afirmação da presença da UFRuralRJ e a retomada do
controle sobre as suas atividades em Três Rios. Não se
trata de uma ruptura com a prefeitura municipal ou com a
sociedade local. Ao contrário, trata-se de colocar as
coisas em seu devido lugar. Os interesses particulares dos
que ocupam o lugar na Administração Superior da UFRuralRJ
e das autoridades locais de Três Rios, envolvidas nesse
processo, devem ser subordinados às funções da
Universidade. Esse é um imperativo para o pleno
desenvolvimento das atividades universitárias e para o
estabelecimento de uma convivência duradoura com a cidade.
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Debate
em Três Rios
Resgate
da Universidade Rural em Três Rios
Quinta-feira:
13/9 - 19h
Colégio
Entrerios
Participantes:
Coordenadores dos cursos de
Economia e Administração e demais professores da Rural
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